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QUARTO DOMINGO DO TEMPO COMUM – Ano C (P. Lucas, scj)

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Caros irmãos, no quarto domingo do Tempo Comum, ano C, a liturgia nos apresenta a reação dos conterrâneos de Jesus à Sua pregação (cf. Lc 4,21-30). Rezemos pedindo ao nosso Deus e Pai que nos dê um coração disponível aos Seus apelos e que Sua Palavra frutifique em nós através da caridade.

A sabedoria de Jesus provoca a admiração e, em seguida, a incredulidade em Seus conterrâneos (cf. Lc 4,22s). O Santo Padre Bento XVI, comentando essa passagem, sublinha o seguinte aspecto: nosso Senhor “não veio para procurar o consenso dos homens, mas – como dirá a Pilatos no fim – para ‘dar testemunho da verdade’ (Jo 18,37). [1] Desse modo, Ele se apresenta como verdadeiro profeta que obedece só a Deus e está a serviço da verdade. Portanto, precisamos ter um coração aberto e sem preconceitos para acolher a Revelação que o Senhor é e responder-lhe através da fé.

Ora, a fé se torna ativa, viva, na caridade. Por isso, precisamos meditar as palavras do Apóstolo na segunda leitura (1Cor 12,31-13,13): nenhum dom que recebemos, sem a caridade, é capaz de nos transformar nos santos que somos chamados a ser. Nem a profecia, nem a ciência, nem a fé, nem o desapego de tudo o que temos e somos – somente a caridade é capaz de nos conduzir àquilo que devemos ser, pois, ela é a vida cristã traduzida em ato, ou seja, acolhida do Amor de Deus que dá sentido à nossa vida e transborda no amor fraterno. Peçamos, então, ao Senhor, nosso Deus, que nos faça perseverar na obediência à Sua Palavra até a perfeição da caridade.

Ó Pai, dai-nos o Espírito Santo para que tenhamos a coragem de abrir nosso coração ao Teu Filho Jesus Cristo! Maria santíssima, Mãe de Misericórdia, ensina-nos a dizer sim a Deus. São José, nosso protetor, conduze-nos a Jesus.

Sub tuum præsidium confugimus.
sancta Dei Genitrix:
nostras deprecationes
ne despicias in necessitatibus:
sed a periculis cunctis libera nos semper,
Virgo gloriosa et benedicta.

[1] Bento XVI, Angelus, 3 de fevereiro de 2013.

IV Domingo do Tempo Comum: Lc 4,21-30 – A verdade que frustra o aplauso

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Por Dom André Vital Félix da Silva, SCJ.

Após a proclamação solene do texto de Isaías (61,1-2), com a finalidade de indicar a sua identidade (Cristo: ungido e consagrado pelo Espírito) e a sua missão (evangelizar os pobres), Jesus provoca naqueles que o escutavam na sinagoga de Nazaré, reações muito diversas que vão do aplauso à rejeição. Lucas diz que as pessoas estavam com os olhos fixos nele (4,20), certamente esperando que Ele fizesse alguma explicação do texto que acabara de ler. Porém, Jesus não fez nenhuma exegese da Escritura, nem muito menos uma longa pregação sobre a profecia de Isaías, pois era uma palavra-promessa que não exigia muitas explicações, apenas a sua realização. Por isso, Jesus faz apenas este comentário: “Hoje realizou-se essa Escritura que acabastes de ouvir”. Para um povo que vivia na expectativa de um amanhã que nunca chegava, ouvir esta afirmação “hoje” representava para ele a grande novidade trazida pelo profeta Jesus de Nazaré. Pois todos os profetas, até então, tinham proclamado as promessas de Deus, porém ficaram apenas na esperança e no desejo de que se realizassem, por isso Jesus afirma: “Muitos profetas e reis quiseram ver o que vós vedes, mas não viram, ouvir o que ouvis, mas não ouviram” (10,24).

O “hoje” na boca de Jesus é anúncio do irromper de um novo tempo, o tempo da realização das promessas de Deus. Lucas emoldura toda a sua mensagem com este “hoje”. Já desde o início, quando o Anjo do Senhor dirige-se aos pastores comunicando-lhes uma boa nova (evangelho): “Nasceu-vos hoje um Salvador” (2,11) até o anúncio que o próprio Salvador faz na cruz: “Hoje estarás comigo no paraíso” (23,43). E em muitas outras passagens ao longo do evangelho de Lucas vamos encontrar esse advérbio de tempo, com alcance teológico muito significativo para a sua concepção de história de salvação (ver 3,22; 5,26; 13,32.33; 19,5.9; 22,34; 24.21).  

Se para os profetas do Antigo Testamento a missão era justamente alimentar a esperança de que Deus um dia cumpriria suas promessas, com Jesus, inaugura-se o tempo de testemunhar que essas promessas estão se cumprindo. No primeiro momento, as pessoas se encantam com este anúncio, ficam até maravilhadas e reconhecem “as palavras cheias de encanto que saíam de sua boca”, mas à medida que relacionam as palavras encantadoras com a realidade daquele que as anuncia, isto é, Jesus, o filho do carpinteiro, conhecido por todos, portanto, nada de extraordinário, começaram a se escandalizar.

O grande escândalo era justamente ter que reconhecer que a Palavra se encarnou, não está num livro para ser apenas lida, mas está na vida, nas suas expressões mais “ordinárias”, para ser acolhida e assumida. Contudo, uma palavra que, por ser acontecimento, pode ser acolhida ou rejeitada, porém jamais destruída e anulada. É na simplicidade da vida que ela se torna presente e eficaz, fugindo de toda tentação de busca de aplausos e reconhecimento precipitados, pois estes confundem e seduzem, comprometendo a verdade daquilo que é. 

Tanto a viúva de Sarepta quanto o leproso Naamã testemunham a eficácia da Palavra, quando é acolhida com humildade e realismo. Por sua vez, estes personagens representam as pessoas que se deixam converter pela palavra (dos profetas Elias e Eliseu) os quais as ajudaram a vencer a arrogância e o orgulho de quem espera fatos extraordinários ou mesmo a impaciência e a desilusão que levam ao conformismo diante da dureza da vida. Contudo, aprenderam que Deus não age por meio de espetáculos extraordinários de uma religião de ritos mágicos e mecânicos (Naamã: “Invocará o nome de Javé seu Deus, agitará a mão sobre o lugar e me curará” 2Rs 5,11), nem deseja que as pessoas se conformem e se alienem num fatalismo espiritual (viúva: “tenho apenas um punhado de farinha… vou preparar esse resto…comeremos e esperaremos a morte …” 1Rs 17,12).

A Palavra testemunha a sua verdade quando se encarna, não apenas quando encanta. O encantamento aprisiona na superficialidade, enquanto que a encarnação compromete, implica assumir consequências. Portanto, o verdadeiro profeta não espera que suas palavras sejam aplaudidas, mas que a Palavra de Deus seja acolhida e vivida, e para que isso se realize, é capaz de dar a própria vida.

Fonte: https://www.dehonianosbre.org.br/homilias/iv-domingo-do-tempo-comum–lc-4-21-30–a-verdade-que-frustra-o-aplauso

SEGUNDO DOMINGO DO TEMPO COMUM – Ano C (P. Lucas, scj)

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Caros irmãos, no segundo domingo do Tempo Comum, ano C, a liturgia nos apresenta o início dos sinais de Jesus nas bodas de Caná (cf. Jo 2,1-11). Acolhamos o conselho da Mãe de Jesus, ouçamos a Sua voz e deixemos que Ele nos guie a cada momento.

A Aliança entre Deus e Seu povo, desde o AT comparada às núpcias (Is 62,1-5 – primeira leitura), é renovada pelo advento de Jesus: é Ele quem dá o vinho novo que é decididamente melhor (Jo 2,10). Notemos, contudo, que o vinho novo e melhor nos é dado através da obediência dos servos a uma ordem aparentemente insensata: encher as talhas com água seria inútil, se não fosse um pedido do Senhor. Ora, nessa perspectiva, aquilo que Ele nos pede pode parecer inútil – e realmente seria – se não fosse a Sua presença e a Sua ação. Portanto, obedeçamo-lo porque Ele é o Mestre que sabe o caminho por onde devemos seguir.

Dessa forma, já que todos os dons e carismas são obras do Espírito, como diz o Apóstolo na segunda leitura (cf. 1Cor 12,4-11), compreendemos que, na Igreja, todos temos uma contribuição a dar – cada um à sua maneira – e nenhuma é insignificante. Por isso, é importante não nos deixarmos levar pelo espírito de inveja ou de competição, comparando-nos uns aos outros, mas, pelo contrário, revestirmo-nos de colaboração e solidariedade porque quando todos colocamos nossos dons a serviço, nos enriquecemos mutuamente e damos glória a Deus. Abramo-nos, portanto, às inspirações de nosso Senhor e deixemo-nos guiar pelo caminho da salvação.

Ó Pai, dai-nos um coração aberto para que o Espírito Santo nos inspire no serviço a Teu Filho Jesus Cristo! Maria santíssima, Mãe de Deus e nossa, ensina-nos a obedecer. São José, nosso protetor, dá-nos um coração dócil a Jesus.

Sub tuum præsidium confugimus.
sancta Dei Genitrix:
nostras deprecationes
ne despicias in necessitatibus:
sed a periculis cunctis libera nos semper,
Virgo gloriosa et benedicta.

II Domingo do Tempo Comum: Jo 2,1-11 – Um matrimônio consumado na cruz

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Por Dom André Vital Félix da Silva, SCJ.

São João Paulo II, ao inserir os Mistérios da Luz na oração do Rosário, chamou-nos atenção para alguns acontecimentos basilares da vida pública de Jesus que possuem um caráter particular de revelação do seu Mistério: “Cada um destes mistérios é revelação do Reino divino já personificado no mesmo Jesus. Primeiramente é mistério de luz o Batismo no Jordão. Aqui, enquanto Cristo desce à água do rio, como inocente que Se faz pecado por nós (cf. 2Cor 5,21), o céu abre-se e a voz do Pai proclama-O Filho dileto (cf. Mt 3,17 e paralelos), ao mesmo tempo que o Espírito vem sobre Ele para investi-Lo na missão que O espera. Mistério de luz é o início dos sinais em Caná (cf. Jo 2,1-12), quando Cristo, transformando a água em vinho, abre à fé o coração dos discípulos…”. (Carta Apostólica ROSARIUM VIRGINIS MARIAE, n. 21).

Numa perspectiva semelhante, a liturgia do Tempo Comum (C) se abre justamente, após a celebração do Batismo do Senhor (1º Mistério da luz), com a proclamação do Evangelho das Bodas de Caná (2º Mistério da Luz), que no pensamento teológico do evangelista São João é uma chave de leitura de todo o seu evangelho. 

Evocando dois temas fundamentais, isto é, a Criação e a Aliança, o Sinal das Bodas de Caná é apresentado como fundamento (grego: arché, princípio), a partir do qual todo o IV Evangelho se desenvolve. Em Jesus, toda a criação se renova: “Pois tudo foi feito por meio dele…” (1,3), é Ele quem estabelece a nova e eterna aliança cuja consequência é a paz, fruto da sua paixão, morte e ressurreição: “Pondo-se no meio deles, disse-lhes: ‘A paz esteja convoco’” (20,19). 

Para além do aspecto histórico do acontecimento de Caná, interessa ao Evangelista e, naturalmente a nós hoje, a mensagem subjacente à narração: Jesus, com a sua morte e ressurreição, é o verdadeiro esposo que dá a vida pela sua amada. Portanto, nas Bodas de Caná se anunciam as núpcias que se realizarão na cruz. Algumas evidências literárias e temáticas confirmam a relação estreita que existe entre Caná e Calvário.

No terceiro dia”, expressão que nos remete automaticamente ao dia da ressurreição de Jesus. Evidentemente falar de ressurreição implica uma referência à sua morte que aconteceu três dias antes. Portanto, o evangelista nos dá o enquadramento de ambos acontecimentos. Em Caná, portanto, se anuncia a morte de Jesus: “a minha hora ainda não chegou”, no calvário cumpre-se o que fora anunciado: “sabendo Jesus que chegara a sua hora de passar deste mundo para o Pai” (13,1). E, desta forma, pode afirmar: “Tudo está consumado” (19,30).

Caná”, mais do que uma referência topográfica, significativo é o valor simbólico evocado pela raiz semântica do termo, pois aponta para o aspecto salvífico da morte de Cristo. Caná vem do verbo hebraico qanah que significar “adquirir”. Este verbo é utilizado muitas vezes na Sagrada Escritura para indicar a intervenção de Deus para libertar, salvar, reconquistar, resgatar o seu povo (Dt 32,6; Sl 78,54). Por isso, quando as autoridades judaicas estão tramando a morte de Jesus, o Sumo Sacerdote profetiza que Ele “morreria pela nação…mas também para congregar na unidade todos os filhos de Deus dispersos” (11,51-52). A morte de Jesus é vista como o alto preço pago para nos adquirir: “Alguém pagou alto preço pelo vosso resgate” (1Cor 6,20).

Houve Bodas”: sem dúvida, a alegoria do matrimônio, já bem conhecida sobretudo pelos profetas do Antigo Testamento, contextualiza de forma clara o significado da missão de Jesus. Ele é o noivo da nova e eterna aliança desejada por Deus desde sempre. João Batista, mais adiante, confirmará: “Quem tem a esposa é o esposo… Que ele cresça e eu diminua” (3,29-30), eis a razão para a plena alegria do precursor. Contudo, o anúncio deste matrimônio é marcado por uma tensão. A presença de Jesus naquela festa denuncia que a antiga aliança faliu, prova disso é a falta de vinho, símbolo da alegria (cf. Sl 104,15). O jugo escravizador das instituições, a impotência do rigorismo legal e a superficialidade das práticas religiosas (purificação dos judeus) tornaram a aliança do Antigo Testamento um peso insuportável (talhas de pedra), relacionamento desprovido de sentido de vida (vazias), e incapaz de salvar (6: número imperfeito).

O primeiro passo para a transformação dessa relação estéril entre o Povo e Deus, a fim de que a sua nova e definitiva aliança se estabeleça, é a obediência à sua Palavra: “Fazei tudo o que ele vos disser”.  Consequentemente, a alegria será abundante e permanente: “Se permanecerdes em mim, e minhas palavras em vós… Eu vos digo isso para que a minha alegria esteja em vós e vossa alegria seja plena” (15,7.11). Porém, esta verdadeira alegria será oferecida apenas na cruz, com a morte do noivo, prova suprema do seu amor misericordioso, que apesar de receber e beber o vinho podre (“Fixando uma esponja embebida de vinagre, levaram-na à sua boca”, 19,29), não desiste de oferecer sempre o vinho superior (“transpassando-lhe o lado com a lança, imediatamente saiu sangue e água”, 19,34) à sua esposa, a mulher do cordeiro (Ap 21,9). A celebração da eucaristia evoca o anúncio das Bodas de Caná e atualiza o Matrimônio do Calvário, renovando o constante convite: “Felizes aqueles que foram convidados para o banquete das núpcias do Cordeiro” (Ap 19,9).

Fonte: https://www.dehonianosbre.org.br/homilias/ii-domingo-do-tempo-comum–jo-2-1-11–um-matrimonio-consumado-na-cruz

DISCURSO DO PAPA BENTO XVI AOS PARTICIPANTES NO CONGRESSO PROMOVIDO PELO PARTIDO POPULAR EUROPEU (30 de março de 2006)

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Ilustres Parlamentares 
Senhoras e Senhores! 

Sinto-me feliz em receber-vos por ocasião dos Dias de Estudo sobre a Europa organizados pelo vosso grupo parlamentar. Os Pontífices Romanos prestaram sempre uma especial atenção a este Continente. Por conseguinte, a audiência de hoje é oportuna e insere-se numa longa série de encontros entre os meus predecessores e os movimentos políticos de inspiração cristã. Agradeço ao Deputado Pöttering as palavras que me dirigiu em vosso nome e manifesto-lhe, assim como a todos vós, as minhas cordiais saudações. 

Atualmente a Europa deve enfrentar questões complexas de grande importância, como o crescimento e o desenvolvimento da integração europeia, a definição cada vez mais completa da política de proximidade no seio da União e o debate do seu modelo social. Para alcançar estes objetivos, será importante inspirar-se, com fidelidade criativa, na herança cristã que contribuiu de modo particular para forjar a identidade deste continente. Valorizando as suas raízes cristãs, a Europa será capaz de oferecer uma orientação segura às opções dos seus cidadãos e das suas populações, fortalecendo a sua consciência de pertencer a uma civilização comum, e alimentará o compromisso de todos para enfrentar os desafios do presente para o bem e para um futuro melhor.

Portanto, aprecio o reconhecimento, da parte do vosso grupo, da herança cristã da Europa que oferece orientações éticas preciosas para a busca de um modelo social que satisfaça adequadamente as exigências de uma economia já globalizada e responda às mudanças demográficas, garantindo crescimento e progresso, tutela da família, iguais oportunidades na instrução dos jovens e solicitude pelos pobres. 

Além disso, o vosso apoio à herança cristã pode contribuir de modo significativo para derrubar aquela cultura tão difundida na Europa que limita na esfera privada e subjetiva a manifestação das próprias convicções religiosas. As políticas elaboradas partindo desta base não só implicam o repúdio do papel público do cristianismo, mas, mais em geral, excluem o compromisso com a tradição religiosa da Europa, que é tão clara apesar das suas variedades confessionais, ameaçando desta forma a própria democracia, cujo vigor depende dos valores que promove [1]. A partir do momento que esta tradição, precisamente no que podemos definir a sua união polifônica, transmite valores que são fundamentais para o bem da sociedade, a União Europeia só pode receber um enriquecimento do compromisso com ela. Seria um sinal de imaturidade, ou até de debilidade, optar por se opor a ela ou por ignorá-la, em vez de dialogar com ela. Neste contexto, é necessário reconhecer que uma certa intransigência secular demonstra ser inimiga da tolerância e de uma visão sadia da sociedade. Portanto, sinto-me feliz pelo fato de o tratado constitucional da União Europeia prever uma relação estruturada e permanente com as comunidades religiosas, reconhecendo-lhes a sua identidade e o seu contributo específico.

Sobretudo, tenho esperança de que a realização eficaz e correta deste relacionamento comece agora, com a cooperação de todos os movimentos políticos independentemente das suas orientações. É preciso não esquecer que, quando as Igrejas ou comunidades eclesiais intervêm no debate público, manifestando dúvidas ou recordando certos princípios, com isso constitui uma forma de intolerância ou uma interferência porque tais intervenções são unicamente destinadas a iluminar as consciências, permitindo que elas se movam livre e responsavelmente segundo as exigências autênticas de justiça, mesmo quando isso pudesse entrar em conflito com situações de poder e com interesses pessoais. 

No que se refere à Igreja Católica, o interesse principal das suas intervenções no campo público é a tutela e a promoção da dignidade da pessoa e, por conseguinte, ela chama conscientemente a uma particular atenção aos princípios que não são negociáveis. Entre eles, hoje emergem os seguintes:  

  • tutela da vida em todas as suas fases, desde o primeiro momento da concepção até à morte natural;
  • reconhecimento e promoção da estrutura natural da família, como união entre um homem e uma mulher baseada no matrimônio, e a sua defesa das tentativas de a tornar juridicamente equivalente a formas de uniões que, na realidade, a danificam e contribuem para a sua desestabilização, obscurecendo o seu carácter particular e o seu papel social insubstituível;
  • tutela do direito dos pais de educar os próprios filhos. 

Estes princípios não são verdades de fé mesmo se recebem ulterior luz e confirmação da fé. Eles estão inscritos na natureza humana e, portanto, são comuns a toda a humanidade. A ação da Igreja de os promover não assume, por conseguinte, um caráter confessional, mas dirige-se a todas as pessoas, prescindindo da sua filiação religiosa. Ao contrário, esta ação é tanto mais necessária quanto mais estes princípios forem negados ou mal compreendidos porque isto constitui uma ofensa contra a verdade da pessoa humana, uma grave ferida infligida à própria justiça. 

Queridos amigos, ao exortar-vos a ser testemunhas críveis e coerentes destas verdades fundamentais através da vossa atividade política e mais basilarmente através do vosso compromisso de levar uma vida autêntica e coerente, invoco sobre vós e sobre a vossa obra a permanente assistência de Deus, em cujo nome concedo a minha Bênção Apostólica a vós e a quantos vos acompanham.

[1] cf. S. Paulo VI, Evangelium vitae, n. 70.

Fonte: https://www.vatican.va/content/benedict-xvi/pt/speeches/2006/march/documents/hf_ben-xvi_spe_20060330_eu-parliamentarians.html

BATISMO DO SENHOR – Ano C (P. Lucas, scj)

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Caros irmãos, celebramos, neste domingo, o Batismo do Senhor que, ao mesmo tempo, encerra o tempo do Natal e abre o Tempo Comum. Neste ano C, contemplamos Jesus sendo batizado segundo o texto de S. Lucas (cf. Lc 3,15-16.21-22). Peçamos ao Senhor que nos dê a graça da renovação do nosso Batismo.

Em um de seus sermões [1], S. Máximo de Turim responde à seguinte pergunta: se Jesus é santo, o Filho de Deus, por que quis ser batizado? E, respondendo, o santo supracitado diz que nosso Senhor desceu às águas não para ser santificado por elas, mas para santificá-las, dando-nos, assim, a oportunidade de ser santificados pelo Batismo que nós recebemos. Ao mesmo tempo, Ele é batizado para nos guiar pelo caminho da salvação como a coluna de nuvens guiou Israel na travessia do mar.

Podemos aprofundar essa explicação, se nos concentrarmos na ideia de Jesus como nosso Mestre. Ele, de fato, vai à nossa frente para nos indicar o caminho que devemos seguir. Diz o texto: “quando todo o povo estava sendo batizado, Jesus também recebeu o batismo. E, enquanto rezava, o céu se abriu e o Espírito Santo desceu sobre Jesus em forma visível, como pomba” (Lc 3,21-22a). Nota-se que o céu se abriu e o Espírito veio sobre o Salvador enquanto Ele rezava depois de ser batizado. Ora, nós recebemos habitualmente o Batismo ainda no início da nossa vida e, agora, podemos atuar aquela graça recebida através da oração: quando nos colocamos em comunhão com Deus, porque o Espírito Santo vem sobre nós e nos faz um com Cristo Jesus, nosso Senhor. Ele nos deu o exemplo; sigamo-lo para que a unção recebida no símbolo da água configure toda a nossa vida.

Ó Pai, dai-nos o Espírito Santo para que Ele nos configure a Teu Filho Jesus Cristo! Maria santíssima, Mãe de Deus e da Igreja, ajuda-nos a conservar o dom que recebemos no nosso Batismo. São José, nosso protetor, ensina-nos a obediência a Deus.

Sub tuum præsidium confugimus.
sancta Dei Genitrix:
nostras deprecationes
ne despicias in necessitatibus:
sed a periculis cunctis libera nos semper,
Virgo gloriosa et benedicta.

[1] Lemos parte desse sermão no Ofício das Leituras da sexta-feira depois da Epifania (cf. https://liturgiadashoras.online/sexta-feira-apos-a-epifania-do-senhor/).

Batismo do Senhor: Lc 3,15-16.21-22 – O Eterno mergulha na história

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Por Dom André Vital Félix da Silva, SCJ.

A Festa do Batismo do Senhor, concluindo o ciclo epifânico do Natal é, ao mesmo tempo, porta de entrada para o Tempo Comum. Tempo sumamente rico do ponto de vista didático e mistagógico, pois nos conduz, a partir da leitura continuada dos evangelhos (ciclo dominical e ferial), ao conhecimento mais aprofundado da Pessoa de Jesus. Portanto, o Tempo Comum não pode ser concebido nem vivenciado como algo sem muita importância (“comum”), pois, sem ele, a densidade teológica do Advento-Natal e a vivência desafiadora da Quaresma-Páscoa se esvaziariam. Estes seriam apenas momentos isolados, parênteses inseridos artificialmente no horizonte litúrgico que, por sua vez, não serviriam senão de entretenimento diante da monotonia do ritmo ordinário-comum.

No esquema original da pregação (kerigma) dos Apóstolos, o batismo de Jesus é o primeiro acontecimento a ser evocado: “Vós sabeis o que aconteceu em toda a Judeia, a começar pela Galileia, depois do batismo pregado por João” (2ª Leitura). Por isso, é apresentado como o início de sua vida pública, de sua missão como ungido (Cristo) de Deus e Salvador da humanidade. Cada evangelista, de acordo com a sua respectiva intenção teológica, sublinha aspectos diferentes deste acontecimento, o que não significa que incorram em contradição. Mateus, através do diálogo entre Jesus e o Batista, evidencia que o Cristo é aquele que cumpre toda a justiça: “Deixa estar por enquanto, pois assim nos convém cumprir toda a justiça. E João consentiu” (Mt 3,15). Marcos, de forma sucinta e direta, mostra que com Jesus a obra de Deus é recriada; reabre-se o paraíso e toda criação é reconciliada: “Vivia entre as feras e os anjos o serviam” (Mc 1,13).

A novidade de Lucas é reconhecida em três aspectos inusitados presentes na sua narração. Antes de tudo, de forma muito sutil, o evangelista coloca João Batista ausente explicitamente da cena. Narrando o batismo de Jesus logo depois de ter dito que Herodes tinha posto João Batista na prisão, faz pensar que o precursor, àquelas alturas, já havia encerrado a sua missão de batizador (Lc 3,19-20). Em coerência com tudo aquilo que o próprio Batista havia dito de si e do Messias: “Mais forte do que eu e cujas sandálias não sou digno de desatar”(Lc 3,16), e para banir a dúvida do povo que já estava pensando que o Batista era o Cristo, Lucas emoldura o seu quadro de tal forma que apenas um personagem domine toda a cena. Desta forma, o batismo de Jesus não é simplesmente um rito de penitência, ou um importante gesto de condescendência do Santo de Deus, que quis se solidarizar com o povo pecador, mas este fato reveste-se de caráter epifânico, pois é verdadeira revelação trinitária.

A cena histórica do batismo nos remete a um momento fora da história no qual o Pai, pela força do Espírito Santo, gera o Filho: “No princípio era o Verbo e o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus” (Jo 1,1). Se este mistério não é suscetível de datação e localização, a condescendência de Deus nos faz participantes desse inefável mistério quando o Verbo feito carne, no Jordão, é batizado. A manifestação visível e histórica desta realidade invisível e eterna, é qualificada por Lucas com um “hoje”. Isto porque o tempo das promessas (ontem) passou: “Cumpriu-se o que o Senhor havia anunciado pela boca dos santos profetas: a salvação que liberta dos inimigos” (Lc 1,70s). Não há mais razão para expectativas futuras, pois Aquele que é a imagem do Deus invisível mergulhou na história, e nós vimos a sua glória (Jo 1,14).

Por fim, um outro aspecto próprio de Lucas é a afirmação de que no momento em que “Jesus foi batizado, Ele achava-se em oração”. Um tema presente em toda a literatura lucana (Evangelho e Atos dos Apóstolos). Jesus é o Filho orante, pois esta é a experiência que mais revela e fortalece a sua comunhão com o Pai. Para não cair na tentação do sucesso, “Permanecia retirado em lugares desertos, e orava” (Lc 5,16). Não escolhe os seus colaboradores sem antes reafirmar a sua missão junto do Pai: “Foi à montanha para orar, passou a noite inteira em oração a Deus. Depois que amanheceu, chamou os discípulos e dentre eles escolheu doze”.  O seu permanente estado orante permite aos discípulos constatar quem Ele é: “o Cristo de Deus” (Lc 9,20). Paralelamente à cena do batismo, temos o momento da Transfiguração sobre o monte da oração: “Tomando Pedro, Tiago e João, Ele subiu à montanha para orar… E enquanto orava, transfigurou-se” (Lc 9,28.29). A sua vida orante atrai e desperta nos discípulos o desejo de orar: “Estando num certo lugar, orando, ao terminar, um dos seus discípulos pediu-lhe: ‘Senhor, ensina-nos a orar…’”(Lc 11,1).Porém, não apenas os ensina a orar, mas ora por eles: “Simão, orei por ti, a fim de que tua fé não desfaleça” (Lc 22,31-32). E na hora decisiva de testemunhar que era o Filho amado e obediente de Deus: “Afastou-se e, dobrando os joelhos, orava: Pai… E orava com mais insistência ainda” (Lc 22,41.44).

A oração, para Lucas, é a condição necessária para que o Espírito Santo seja o protagonista do batismo definitivo, superior àquele administrado pelo filho de Zacarias. O Rio Jordão é apenas símbolo daquele rio que nasce no paraíso e a ele conduz, pois o batismo cristão é verdadeiro mergulho na Trindade. A oração é a experiência que prepara para o batismo daqueles que serão as testemunhas do ressuscitado: “Todos, unânimes, eram assíduos à oração com algumas mulheres, entre as quais Maria, mãe de Jesus, e os irmãos dele” (Atos 1,14). Mas é, também, a característica dos que vivem com fidelidade a sua nova realidade de batizados com o Espírito e fogo: “Eram assíduos aos ensinamentos dos apóstolos, à comunhão fraterna, à fração do pão e às orações” (At 2,42). Sem a oração, o batizado tornar-se-á galho seco, pois lhe faltará a água da vida, na qual um dia foi mergulhado a fim de ser conduzido pelo Espirito à bem-aventurança eterna garantida “àqueles que lavaram suas vestes no sangue do Cordeiro” (Ap 7,14), cujo batismo é o anúncio.

Fonte: https://www.dehonianosbre.org.br/homilias/batismo-do-senhor–lc-3-15-16-21-22–o-eterno-mergulha-na-historia

EPIFANIA DO SENHOR DO NATAL (P. Lucas, scj)

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Caros irmãos, neste domingo, celebramos a liturgia da Epifania do Senhor do Natal, transferida do dia 6 de janeiro. Nela, somos convidados a rezar com o caminho dos Magos do Oriente até Belém passando por Jerusalém (cf. Mt 2,1-12). Peçamos ao Senhor a graça de procurá-lo sempre e deixar que Ele transforme nosso caminho.

Quando os Magos chegaram ao palácio procurando o Rei que nascera, a notícia deste nascimento deixou Herodes perturbado. Mas não só ele, toda a cidade de Jerusalém também (cf. Mt 2,2-3). Ao rei, de fato, perturbava a possibilidade de ser destronado. Porém, não é tão claro que a mudança de governo perturbasse toda a cidade… Em outras palavras, a presença de Jesus não é um simples incômodo político: reconhecemos que Sua chegada nos incomoda (a todos) porque não lhe podemos ficar indiferentes, precisamos dar uma resposta que impacta toda nossa existência. Ou seja, não é possível responder-lhe adequadamente senão por processo de morte e ressurreição, de conversão.

Isso aconteceu também com os Magos que, depois de encontrar, reconhecer e adorar o Senhor, foram “avisados em sonho para não voltarem a Herodes, [e] retornaram para a sua terra, seguindo outro caminho” (Mt 2,12). Nós também somos convidados a, depois de reconhecer em Jesus Cristo nosso Deus e Senhor e, por isso, adorá-lo, deixar-nos conduzir por Ele através de caminhos novos. Portanto, mantenhamos nosso coração aberto para acolher o Senhor que vem e, ao mesmo tempo, nos façamos dóceis para servi-lo onde quer que Ele nos leve.

Ó Pai, dai-nos o Espírito Santo para que Ele nos faça reconhecer e seguir Teu Filho Jesus Cristo! Maria santíssima, Mãe de Deus, ajuda-nos a dizer sim a Deus a cada dia. São José, nosso protetor, ensina-nos o caminho da intimidade com Jesus.

Sub tuum præsidium confugimus.
sancta Dei Genitrix:
nostras deprecationes
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sed a periculis cunctis libera nos semper,
Virgo gloriosa et benedicta.

Epifania do Senhor – Mt 2,1-12: A estrela que ainda teima em brilhar

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Por Dom André Vital Félix da Silva, SCJ.

Se o Natal celebra o ponto mais alto da encarnação de Cristo no seio do seu povo, a Epifania é a solene proclamação de que a sua missão salvífica é universal, pois a vinda dos Magos do Oriente à procura do rei recém-nascido representa a realização plena do anúncio da boa notícia de que todos os povos são chamados à salvação. A perícope do evangelho da festa de hoje, na intenção de Mateus, não é apenas uma descrição de uma visita de sábios que, vindos de longe, se deixam guiar misteriosamente por uma estrela. Não tem como intenção inspirar uma fantasia pueril, mas apresentar uma síntese introdutória de todo o seu evangelho. Portanto, é preciso ler Mateus à luz da Epifania, e é preciso compreender a Epifania na perspectiva de todo o evangelho de Mateus. 

Nascido em Belém”:  assim como o pastor Davi, símbolo ideal do rei messiânico, Jesus é o rei que se faz pastor do seu povo. Diferentemente do rei Herodes, tirano e despótico, o recém-nascido guiará o seu povo como um pastor que diante de um sistema que despreza, abandona e conduz o povo para a morte, é capaz de dar a vida, uma vez que “levou nossas enfermidades e carregou nossas doenças” (Mt 8,17). Este novo Davi não trairá a sua missão, pois “ao ver a multidão teve compaixão dela, porque estava cansada e abatida como ovelhas sem pastor” (Mt 9,36). Ele é o verdadeiro filho de Davi pois é capaz de restituir a vista aos cegos (Mt 9,27), a fim de que eles possam enxergar o caminho e realizem o verdadeiro êxodo de libertação.

Onde está o rei dos Judeus?” Os magos pensavam que estivesse no palácio real, que fosse filho de Herodes, mas o evangelista responde que o verdadeiro rei dos judeus é aquele que não tiraniza nem oprime (Mt 20,25); é um rei que vem “humilde, montado em jumento, num jumentinho, cria de animal de carga” (Mt 21,5). Diante da sua realeza dissonante com aquela dos reinos deste mundo, sofrerá a indiferença e o desdém, pois ela não será reconhecida pelas autoridades. Assim como Herodes que não acreditou e por isso, ironizou: “Ide… E ao encontrá-lo, avisai-me, para que também eu vá homenageá-lo”, também na iminência de sua morte, o Rei Messias sofrerá o escárnio e a ridicularização: “E, ajoelhando-se diante dele, diziam-lhe, caçoando: ‘Salve, rei dos judeus’” (Mt 27,29). Contudo, nada poderá destruir-lhe a realeza, pois dará a sua vida e reinará da cruz: “E colocaram acima de sua cabeça: ‘Este é Jesus, o Rei dos judeus’” (Mt 27,37). Os autênticos sábios, guiados pela razão e pela fé, perscrutam os fatos para reconhecer onde se encontra a verdade. E, por isso, abandonam a casa do tirano e retomam o caminho. 

Vimos sua estrela no seu surgir”. Nas culturas antigas as estrelas representam personagens importantes. São como reflexos no céu daquilo que na terra se faz de importante (o bem). Jesus mais adiante dirá que “os justos resplandecerão como sol” (Mt 13,43). Contudo, o justo para Mateus é aquele que faz a vontade de Deus. Justiça que excede o simples cumprimento da Lei, pois é obediência à Palavra de Deus que é, antes de tudo, aprender a misericórdia: “Quero misericórdia e não sacrifício” (Mt 9,13). Todas as vezes que abandona-se o caminho da justiça, afasta-se da luz. Portanto, não se percebe mais o brilho da estrela-guia. Contudo, é a Palavra, por sua vez, que ajuda a retomar a direção correta. Os Magos foram orientados pela Palavra que os escribas lhes disseram “pois foi escrito pelo profeta”. E apesar de se encontrarem em situação desconfortável por estarem no lugar errado, foram capazes de não desistir da busca. O fato de não terem encontrado ali no palácio real o rei dos judeus recém-nascido não foi suficiente para convencê-los de que ele não tinha nascido.

Revendo a estrela, alegraram-se imensamente”. Isto só foi possível porque tomaram a decisão de obedecer a Palavra. Apesar das ambiguidades das palavras do rei Herodes, compreenderam que as imperfeições humanas não invalidam a Palavra de Deus, pois é Ele mesmo que afirma: “Passarão céus e terra. Minhas palavras, porém, não passarão” (Mt 24,35). O tema da alegria em Mateus está estreitamente relacionado a situações de dificuldades, sofrimento e morte: “Bem-aventurados sois, quando vos injuriarem e vos perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós por causa de mim. Alegrai-vos e regozijai-vos, porque será grande a vossa recompensa nos céus” (Mt 5,11-12). O rei Herodes será perseguidor do menino e naturalmente de todo aquele que o reconhecer rei. Portanto, os magos antecipam aqueles aos quais Jesus chamará de bem-aventurados, pois “viram o que muitos quiserem ver, e ouviram o que muitos desejaram ouvir” (Mt 13,16-17). A alegria dos Magos ao verem a estrela, que mesmo não sendo vista por um momento, não deixou de brilhar, chega ao máximo quando veem o menino que buscavam. Antecipa-se, assim, a experiência da comunidade que, por um momento havia perdido de vista o Senhor, agora o reencontra ressuscitado e escuta Dele mesmo o imperativo convite: “Alegrai-vos” (Mt 28,9). 

Prostrando-se, o homenagearam… Abriram seus cofres, oferecendo-lhe presentes: ouro, incenso e mirra”. O longo caminho iniciado no Oriente chega ao seu clímax: encontrar o rei dos judeus, o recém-nascido, a fim de homenageá-lo. Um encontro que anuncia o grande desejo de Deus para a humanidade: encontrar-se com o Salvador, Aquele que convida a vir até Ele a fim de “encontrar descanso e repouso” (Mt 11,29). Pois Ele é o verdadeiro Deus a quem oferecemos o incenso da adoração, só Ele é o rei da verdade a quem ofertamos o nosso ouro da obediência, mas Ele, também, é o nosso irmão de verdade, pois assumiu tudo o que é nosso, e não isentou-se nem mesmo da morte, a quem entregamos a mirra da nossa esperança que faz vencer a própria morte.

Regressaram por outro caminho”. Eis a prova de que, de fato, o encontramos, se   mudarmos de rota, converter-nos (Mt 4,17). Se para chegar até Ele muitas vezes tomamos caminhos suscetíveis de desvios, a partir do encontro com Ele o caminho será sempre bem orientado. Pois é a sua Palavra a estrela-guia de nossa estrada: “Quem ouve as minhas palavras e as põe em prática é sábio” (Mt 7,24). O outro caminho que Ele nos propõe é a estrada da superação do egoísmo, é o caminho que faz chegar a todos os povos a boa notícia da salvação. Epifania é este caminho, é a manifestação da salvação universal de Deus, sábio será aquele que neste caminho se deixar guiar pela Palavra que convoca e envia: “Ide, portanto, e fazei que todas as nações se tornem discípulos…” (Mt 28,19). Não estaremos jamais sozinhos nesta senda, pois este menino, o recém-nascido de Belém, se chama Emanuel, e, portanto, é o “Deus-conosco até a consumação dos séculos” (Mt 28,20).

Fonte: https://www.dehonianosbre.org.br/homilias/epifania-do-senhor–mt-2-1-12–a-estrela-que-ainda-teima-em-brilhar