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XXVI DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO B (Pe. Lucas, scj)

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Caros irmãos, celebramos o vigésimo sexto Domingo do Tempo Comum e a liturgia nos põe em contato com duras palavras do Senhor Jesus: além de não impor limites a quem faz o bem, Ele nos previne do escândalo – ou do risco de promovê-lo (cf. Mc 9,38-43.45.47-48). Aproximemo-nos do texto evangélico e nos deixemos tocar pelas palavras do Mestre.

Cortar mãos e pés e arrancar olhos (cf. Mc 9,43.45.47) não é, sem sombra de dúvida, uma indicação literal. Mas esta hipérbole nos deixa claro, como se vê na medicina, que para downloadsalvaguardar a vida é possível até extirpar alguns membros, por mais importantes que eles possam ser em si mesmos. Quem dirá, então, para entrar na Vida? Ou seja, para não perder a comunhão com Deus, nosso Pai todo amoroso, nós precisamos, com a ajuda da Sua Graça, nos afastar de certas circunstâncias, sobretudo das ocasiões de pecado.

Isso nos põe diante de importantes perguntas. Por exemplo: o que nós estamos dispostos a perder para estar com o Senhor? E mais: por que é tão difícil aceitar essas perdas no concreto de nosso cotidiano?

Talvez nos decepcionemos ao perceber que, na prática, não somos capazes de deixar muitas coisas por Jesus. Isso acontece porque a renúncia sempre traz o sofrimento, já que se refere sempre a algo que traz alguma satisfação (nem que seja pequena e efêmera). Porém, se não nos dispormos a suportar a falta desta ou daquela satisfação, abrimos ocasiões que podem nos levar a perder Aquele que é o sentido de tudo.

Então, se quisermos seguir Jesus, precisamos amá-lo mais; devemos amá-lo sobre todas as coisas. Sim, porque o amor faz “esquecer” a dor – encontramos bons exemplos nos casais que se amam verdadeiramente. O amor obscurece, àquele que ama, o preço que deve ser pago, simplesmente porque foca o bem do amado. E quem ama verdadeiramente quer estar perto da pessoa amada.

Que Maria Santíssima, Mãe de Deus e nossa, nos ensine a amar Jesus de tal forma que possamos repetir com São Nicolau de Flüe: “Meu Senhor e meu Deus, arrancai de mim mesmo tudo o que me impede de ir a Vós. Meu Senhor e meu Deus, dai-me tudo aquilo que me conduz a Vós. Meu Senhor e meu Deus, tirai-me de mim mesmo e entregai-me todo a Vós”.

 

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DEVE-SE PREFERIR O SERVIÇO DOS POBRES ACIMA DE TUDO

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Dos Escritos de São Vicente de Paulo, presbítero.

Não temos de avaliar os pobres por suas roupas e aspecto, nem pelos dotes de espírito que pareçam ter. Com frequência são ignorantes e curtos de inteligência. Mas muito pelo contrário, se considerardes os pobres à luz da fé, então percebereis que estão no lugar do Filho de Deus que escolheu ser pobre. De fato, em seu sofrimento, embora quase perdesse a aparência humana – loucura para os gentios, escândalo para os judeus – apresentou-se, no entanto, como o evangelizador dos pobres: Enviou-me para evangelizar os pobres (Lc 4,18). Devemos ter os mesmos sentimentos de Cristo e imitar aquilo que ele fez: ter cuidado pelos indigentes, consolá-los, auxiliá-los, dar-lhes valor.

Com efeito, Cristo quis nascer pobre, escolheu pobres para seus discípulos, fez-se servo dos pobres e de tal forma quis participar da condição deles, que declarou ser feito ou dito a ele mesmo tudo quanto de bom ou de mau se fizesse ou dissesse aos pobres. Deus ama os pobres, também ama aqueles que os amam. Quando alguém tem um amigo, inclui na mesma estima aqueles que demonstram amizade ou prestam obséquio ao Sao-Vicente-de-Paulo-25amigo. Por isto esperamos que, graças aos pobres, sejamos amados por Deus. Visitando-os, pois, esforcemo-nos por entender os pobres e os indigentes e, compadecendo-nos deles, cheguemos ao ponto de poder dizer com o Apóstolo: Fiz-me tudo para todos (1Cor 9,22). Por este motivo, se é nossa intenção termos o coração sensível às necessidades e misérias do próximo, supliquemos a Deus que derrame em nós o sentimento de misericórdia e de compaixão, cumulando com ele nossos corações e guardando-os repletos.

Deve-se preferir o serviço dos pobres a tudo o mais e prestá-lo sem demora. Se na hora da oração for necessário dar remédios ou auxílio a algum pobre, ide tranquilos, oferecendo a Deus esta ação como se estivésseis em oração. Não vos perturbeis com angústia ou medo de estar pecando por causa de abandono da oração em favor do serviço dos pobres. Deus não é desprezado, se por causa de Deus dele nos afastarmos, quer dizer, interrompermos a obra de Deus, para realizá-la de outro modo.

Portanto, ao abandonardes a oração, a fim de socorrer a algum pobre, isto mesmo vos lembrará que o serviço é prestado a Deus. Pois a caridade é maior do que quaisquer regras, que, além do mais, devem todas tender a ela. E como a caridade é uma grande dama, faz-se necessário cumprir o que ordena. Por conseguinte, prestemos com renovado ardor nosso serviço aos pobres; de modo particular aos abandonados, indo mesmo à sua procura, pois nos foram dados como senhores e protetores.

XXV DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO B (Pe. Lucas, scj)

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Caros irmãos, enquanto celebramos o vigésimo quinto Domingo do Tempo Comum, o Senhor Jesus nos chama a segui-lo concretamente no caminho da humildade (cf. Mc 9,30-37). Como bons discípulos, abramos o nosso coração dispondo-nos à Sua orientação.

Enquanto viajavam pela Galileia, Jesus ensinava Seu caminho: “O Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos homens, e eles o matarão. Mas, três dias após sua morte, ele downloadressuscitará” (Mc 9,31). Mas, agora, podemos perceber que não só Pedro estava confuso com tal ensinamento: todos os discípulos ainda não tinham compreendido pois discutiam entre si quem deles era o maior (cf. Mc 9,34).

Nós também, embora compreendamos até certo ponto o que o Senhor fez e ensinou, nos orientamos muito pouco pelo amor: somos ainda pouco capazes de abrir mão de nós mesmos para o bem do próximo. Arrastados pelos nossos impulsos, temos a tendência de fazer tudo para sermos agradados. E, então, a palavra do Cristo vem e nos liberta: “Se alguém quiser ser o primeiro, que seja o último de todos e aquele que serve a todos!” (Mc 9,35). É a doação de si por amor a Deus e aos irmãos que integra nossa vida com suas alegrias e frustrações. Mas, se continuamos a querer que tudo nos sirva a fim de vivermos uma vida cheia de benesses e sem sofrimentos, infelizmente, continuaremos escravos longe do Amor.

Neste momento, somos obrigados a reconhecer ao menos mais uma coisa: não somos fortes o bastante para deixar para trás nossos pecados e seguir o Senhor em Seu caminho de amor-doação. Precisamos de ajuda – da Sua ajuda. E, aqui, percebemos a necessidade da oração (da intimidade com o Senhor). Não podemos continuar desperdiçando os momentos que passamos rezando (cf. Tg 4,3 – segunda leitura). Busquemos aquela oração que nos faz tão íntimos de Jesus a ponto de pedir que, também em nós, seja feita a vontade do Pai.

Que Maria Santíssima, Mãe de Deus e nossa, nos ajude a vivermos como verdadeiros discípulos, escorados no Amor do Pai, pois é Ele quem sustenta nossa vida! (cf. Sl 53,6b).

BEATO JOÃO MARIA DA CRUZ, MÁRTIR DEHONIANO

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Pe. João Maria da Cruz foi mártir da perseguição religiosa na Guerra Civil espanhola (1936-1939). Abaixo, temos o testemunho do Pe. Tomás Vega, C.Ss.R., seu companheiro na prisão.

A todos nos edificou, desde o primeiro dia, pela sua grande piedade e devoção. Rezávamos juntos o Breviário durante o primeiro mês na prisão, quando tínhamos três horas de recreio pela manhã e outras três pela tarde, no pátio, onde nos reuníamos os presos da quarta galeria: ele, Pe. Recaredo dos Rios (salesiano e mártir também) e um servidor. Podemos observar o grande fervor religioso com que rezava. Com muita Beatofrequência, punha-se de joelhos no meio do pátio, apesar de não faltar quem, por força das circunstâncias, lhe aconselhasse a omitir aqueles sinais exteriores de devoção. Pelo contrário, ele respondia a todos que não havia que ter nenhum respeito humano, que agora mais do que nunca era preciso confessar a Jesus Cristo e que havia que imitar os mártires dos primeiros séculos, que, rezando e de joelhos, se preparavam para o martírio.

Por volta das onze da manhã, reuníamo-nos um bom número de prisioneiros para rezar em comum as Ladainhas dos Santos e, nos dias festivos, rezar e ler em público a Santa Missa. Pe. Joãozinho, como ali o chamávamos, nunca faltava. Pelas tardes, cada sacerdote costumava reunir-se com um pelotão de prisioneiros e rezar em comum o Terço: Pe. Joãozinho tinha o seu grupo escolhido e não só rezava com eles o Terço, mas também outras orações, para além de leitura espiritual. Costumava ir de grupo em grupo, quando terminavam as orações em comum e animava todos à virtude e ao amor de Deus. Era verdadeiramente zeloso. Ditoso aquele que alcançou a palma do martírio e ditosa a sua Congregação, que hoje se sente glorificada por tão excelso mártir!

 

Maiores informações em: <<http://www.dehonianos.org/portal/espanha-beato-juan-maria-de-la-cruz0/>>.

A FÉ É COROADA PELO AMOR E A PERSEVERANÇA

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No início do século XVIII, a fé cristã entrou pela primeira vez em terras da Coréia, por iniciativa de alguns leigos, de cujo esforço, sem pastores, surgiu uma comunidade forte e fervorosa. Só em 1836 os primeiros missionários, vindos da França, entraram furtivamente no país. Nesta comunidade, floresceram, com as perseguições de 1839, 1846 e 1866, cento e três mártires, entre os quais sobressaem o primeiro sacerdote e ardoroso pastor de almas André Kim Taegón e o insigne apóstolo leigo Paulo Chóng Hasang, a que se juntaram muitos leigos, homens e mulheres, casados e solteiros, velhos, jovens e crianças. Todos eles consagraram com seu testemunho e sangue as primícias da Igreja coreana.

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Da última Exortação de Santo André Kim Taegón, presbítero e mártir.

Meus caríssimos irmãos e amigos, considerai como Deus no princípio dos tempos dispôs os céus, a terra e todas as coisas; meditai também com que especial intenção criou o ser humano à sua imagem e semelhança.

Se, pois, nesta vida de perigos e miséria, não reconhecermos o Criador, de nada nos servirá termos nascido e continuar vivendo. Já neste mundo pela graça divina, pela mesma graça recebemos o batismo, entrando no seio da Igreja e tornando-nos discípulos do Senhor. Mas, trazendo assim o precioso nome de cristãos, de que nos servirá tão grande nome, se na realidade não o formos? Seria inútil termos nascido e ingressado na Igreja se traíssemos o Senhor e a sua graça; melhor seria não termos nascido do que, recebendo a sua graça, pecarmos contra ele.

Considerai o agricultor ao lançar a semente no campo: primeiro, prepara a terra com o suor do seu rosto e depois joga a preciosa semente; chegando o tempo da colheita, alegra-se de coração com as espigas cheias, esquecendo seu trabalho e suor, e dançando de alegria; se porém as espigas permanecem vazias não sendo mais que palha e casca, o agricultor deplora o duro labor com que suou, sentindo-se tanto mais desesperado quanto mais trabalhou.

De modo semelhante, cultiva o Senhor a terra como seu campo, sendo nós os grãos de arroz; rega-nos com o seu sangue na sua Encarnação e Redenção para que possamos crescer e amadurecer; quando, no dia do juízo, vier o tempo da colheita, quem pela graça for achado maduro gozará o reino dos céus como filho adotivo de Deus. Quanto aos outros, que não amadureceram, tornar-se-ão inimigos, punidos para sempre, embora também tenham se tornado filhos adotivos de Deus pelo batismo.

Irmãos caríssimos, lembrai-vos de que nosso Senhor Jesus, descendo a este mundo, sofreu inúmeras dores e tendo fundado a Igreja por sua paixão, ele a faz crescer pelos sofrimentos dos fiéis. Apesar de todas as pressões e perseguições, os poderes terrenos não poderão prevalecer: da Ascensão de Cristo e do tempo dos apóstolos até hoje, a santa Igreja continua crescendo no meio das tribulações.

Também nesta nossa terra da Coréia, durante os cinquenta ou sessenta anos em que a santa Igreja se estabeleceu aqui, os fiéis sempre sofreram perseguições. Hoje acendeu-se de novo a perseguição; muitos amigos são, como eu, lançados nos cárceres, enquanto também sofreis tribulações. Unidos num só corpo, como não ficarão tristes os nossos corações? Como, humanamente, não experimentarmos a dor da separação?

Deus, porém, como diz a Escritura, cuida de cada cabelo de nossa cabeça, e o faz com toda a sabedoria; portanto, como não considerar esta perseguição senão como permitida pelo Senhor, ou mesmo, seu prêmio ou, até, sua pena?

Abraçai, pois, a vontade de Deus, combatendo de todo o coração pelo vosso chefe Jesus e vencendo o demônio, já vencido por ele.

Eu vos peço: não deixeis de lado o amor fraterno, mas ajudai-vos uns aos outros, perseverando até que o Senhor tenha piedade de nós e afaste a tribulação.

Aqui somos vinte e, pela graça de Deus, todos ainda estão bem. Caso algum de nós venha a morrer, peço não negligenciardes a sua família. Muitas coisas teria ainda a dizer-vos, mas como posso exprimi-las em tinta e papel? Por isso vou terminar minha carta. Aproximando-se para nós a luta, peço-vos finalmente que caminheis com fidelidade, de modo que no céu nos possamos congratular. Deixo-vos aqui meu ósculo de amor.

XXIV DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO B (Pe. Lucas, scj)

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Caros irmãos, celebrando o vigésimo quarto Domingo do Tempo Comum, temos a oportunidade de rezar com a confissão de fé de São Pedro de acordo com o evangelista São Marcos (cf. Mc 8,27-35). Neste texto, encontramos um esquema imprescindível de nossa cristã que pode (e deve) nos levar a um acurado exame de consciência. Sigamo-lo!

Em primeiro lugar, é preciso reconhecer quem Jesus é de verdade. Não são suficientes respostas parciais; menos ainda bastariam equívocos ideologicamente guiados. É preciso acolhê-lo na fé da Igreja de dois mil anos, reconhecendo-o como o Messias, o Cristo, o icone da oraçãoFilho de Deus (cf. Mc 8,29). Contudo, apesar de ser Ele o Salvador esperado, a sua obra traz um quê inesperado: a libertação do mal e do pecado acontece pela Cruz (cf. Mc 8,31). Concretamente, isso significa que a ação de Deus não nos livra nesta vida da realidade do sofrimento, mas, ao invés, dá sentido e nos purifica de modo particular quando a dor passa pela nossa casa.

Em seguida, encontramos em S. Pedro, quando ele repreende Jesus (cf. Mc 8,32), o porta-voz do nosso fraco coração que não aceita este caminho. Parece impossível que essas realidades – a ação de Deus e o sofrimento – possam andar juntas. De fato, não é difícil identificar também nas nossas vidas, se formos sinceros, quantas vezes nós quisemos dizer a Deus como Ele deveria agir em nossas vidas. E, neste preciso momento, deixamos de ser seus discípulos para tentarmos ser nossos próprios senhores e até senhores de tudo.

Então, a resposta do Senhor ao discípulo, diante dos demais, reconduz à ordem os relacionamentos: “vai para trás de mim” (Mc 8,33). Não para longe, mas para traz, no sentido de que é o Senhor que vai à frente e indica o caminho enquanto o discípulo o segue pela cruz à Ressurreição. Para chegar à vida nova, que começa a se tornar operante na caridade fraterna (cf. Tg 2,14-18), é preciso, antes de mais nada, deixar que Jesus Cristo seja verdadeiramente nosso Senhor – e isso é urgente.

Que Maria Santíssima, nos ensine a sermos verdadeiros discípulos, que escutam, acolhem e obedecem a Palavra do Senhor.

ESTAVA SUA MÃE JUNTO À CRUZ

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Dos Sermões de São Bernardo, abade.

O martírio da Virgem é mencionado tanto na profecia de Simeão quanto no relato da paixão do Senhor. Este foi posto, diz o santo ancião sobre o menino, como um sinal de contradição, e a Maria: e uma espada traspassará tua alma (cf. Lc 2,34-35).

Verdadeiramente, ó santa Mãe, uma espada traspassou tua alma. Aliás, somente traspassando-a, penetraria na carne do Filho. De fato, visto que o teu Jesus – de todos senhora-das-dores-16968_511149082610_162900587_30456115_622856_n2certamente, mas especialmente teu – a lança cruel, abrindo-lhe o lado sem poupar um morto, não atingiu a alma dele, mas ela traspassou a tua alma. A alma dele já ali não estava, a tua, porém, não podia ser arrancada dali. Por isto a violência da dor penetrou em tua alma e nós te proclamamos, com justiça, mais do que mártir, porque a compaixão ultrapassou a dor da paixão corporal. E pior que a espada, traspassando a alma, não foi aquela palavra que atingiu até a divisão entre a alma e o espírito: Mulher, eis aí teu filho? (Jo 19,26). Oh! que troca incrível! João, Mãe, te é entregue em vez de Jesus, o servo em lugar do Senhor, o discípulo pelo Mestre, o filho de Zebedeu pelo Filho de Deus, o puro homem, em vez do Deus verdadeiro. Como ouvir isto deixaria de traspassar tua alma tão afetuosa, se até a sua lembrança nos corta os corações, tão de pedra, tão de ferro?

Não vos admireis, irmãos, que se diga ter Maria sido mártir na alma. Poderia espantar-se quem não se recordasse do que Paulo afirmou que entre os maiores crimes dos gentios estava o de serem sem afeição. Muito longe do coração de Maria tudo isto; esteja também longe de seus servos.

Talvez haja quem pergunte: “Mas não sabia ela de antemão que iria ele morrer?” Sem dúvida alguma. “E não esperava que logo ressuscitaria?” Com toda a confiança. “E mesmo assim sofreu com o Crucificado?” Com toda a veemência. Aliás, tu quem és ou donde tua sabedoria, para te admirares mais de Maria que compadecia, do que do Filho de Maria a padecer? Ele pôde morrer no corpo; não podia ela morrer juntamente no coração? É obra da caridade: ninguém a teve maior! Obra de caridade também isto: depois dela nunca houve igual.

A GLÓRIA E A EXALTAÇÃO DE CRISTO É A CRUZ

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Dos Sermões de Santo André de Creta, bispo.

Celebramos a festa da cruz; por ela as trevas são repelidas e volta a luz. Celebramos a festa da cruz e junto com o Crucificado somos levados para o alto para que, abandonando a terra com o pecado, obtenhamos os céus. A posse da cruz é tão grande e de tão imenso valor que seu possuidor possui um tesouro. Chamo com razão tesouro aquilo que há de mais belo entre todos os bens pelo conteúdo e pela fama. Nele, por ele e Cruz JMJpara ele reside toda a nossa salvação, e é restituída ao seu estado original.

Se não houvesse a cruz, Cristo não seria crucificado. Se não houvesse a cruz, a vida não seria pregada ao lenho com cravos. Se a vida não tivesse sido cravada, não brotariam do lado as fontes da imortalidade, o sangue e a água, que lavam o mundo. Não teria sido rasgado o documento do pecado, não teríamos sido declarados livres, não teríamos provado da árvore da vida, não se teria aberto o paraíso. Se não houvesse a cruz,a morte não teria sido vencida e não teria sido derrotado o inferno.

É, portanto, grande e preciosa a cruz. Grande sim, porque por ela grandes bens se tornaram realidade; e tanto maiores quanto, pelos milagres e sofrimentos de Cristo, mais excelentes quinhões serão distribuídos. Preciosa também porque a cruz é paixão e vitória de Deus: paixão, pela morte voluntária nesta mesma paixão; e vitória porque o diabo é ferido e com ele a morte é vencida. Assim, arrebentadas as prisões dos infernos, a cruz também se tornou a comum salvação de todo o mundo.

É chamada ainda de glória de Cristo, e dita a exaltação de Cristo. Vemo-la como o cálice desejável e o termo dos sofrimentos que Cristo suportou por nós. Que a cruz seja a glória de Cristo, escuta-o a dizer: Agora, o Filho do homem é glorificado e nele Deus é glorificado e logo o glorificará (Jo 13,31-32). E de novo: Glorifica-me tu, Pai, com a glória que tinha junto de ti antes que o mundo existisse (Jo 17,5). E repete: Pai, glorifica teu nome. Desceu então do céu uma voz: Glorifiquei-o e tornarei a glorificar (Jo 12,28), indicando aquela glória que então alcançou na cruz.

Que ainda a cruz seja a exaltação de Cristo, escuta o que ele próprio diz:Quando eu for exaltado, atrairei então todos a mim (cf. Jo 12,32). Bem vês que a cruz é a glória e a exaltação de Cristo.

XXIII DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO B (Pe. Lucas, scj)

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Caros irmãos, celebramos o vigésimo terceiro Domingo do Tempo Comum e a liturgia nos convida a aproximarmo-nos do Senhor para ouvi-lo (cf. Mc 7,31-37). A partir do santo evangelho, seguindo os movimentos daquele homem surdo, deixemo-nos tocar pela Palavra de Deus. Para tanto, acolhamos a ordem de Jesus: abre-te! (Mc 7,34).

Notemos, em primeiro lugar, que o homem foi trazido a Jesus (cf. Mc 7,32). E esse é o Ícone - Jesus Cristoprimeiro esforço da Igreja: a missão – aproximar as pessoas do Senhor. Embora o mês missionário seja o próximo, não podemos deixar ao menos de notar, já hoje, que, sem isso, é impossível que o dom da fé aconteça (cf. Rm 10,14). E é nossa tarefa aproximar as pessoas, por obras e palavras, daquele que nos deu a vida nova.

Em seguida, Jesus afasta o surdo da multidão e o toca (cf. Mc 7,33). Podemos enxergar aqui aquele toque íntimo da Graça em nossos corações que muda a direção da nossa vida. Nunca é demais recordar as palavras de Bento XVI: “Ao início do ser cristão, não há uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo” [1].

E, então, Jesus dá a ordem: “abre-te!” (Mc 7,34). Trata-se de um imperativo que não só faz sentido para a vida daquele homem, mas também para a nossa. Pois, infelizmente, embora muitas vezes escutemos muito bem (não tenhamos nenhum problema de audição), temos um coração de pedra, fechado para a Verdade que pode transformar a nossa vida. Quantas vezes já ouvimos a Palavra de Deus conservada e transmitida na Igreja, mas isso não teve efeito nenhum em nossas vidas? Quantas vezes preferimos fechar-nos para, apegados a sabe-se-lá-o-quê, não nos deixarmos transformar pelo Senhor? Abramo-nos!

Que a intercessão da Maria Santíssima, nos ajude a vencer o medo de perder o nada para o Tudo ganhar.

 

[1] BENTO XVI, Deus caritas est, n.1.

POR AMOR DE CRISTO, ME CONSAGRO TOTALMENTE À SUA PALAVRA

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Das Homilias sobre Ezequiel, de São Gregório Magno, papa.

Filho do homem, eu te coloquei como sentinela da casa de Israel (Ez 3,16). É de se notar que o Senhor chama de sentinela aquele a quem envia a pregar. A sentinela, de fato, está sempre no alto para enxergar de longe quem vem. E quem quer que seja sentinela do povo deve manter-se no alto por sua vida, para ser útil por sua providência.

Como é duro para mim isto que digo! Ao falar, firo-me a mim mesmo, pois minha língua downloadnão mantém, como seria justo, a pregação e, mesmo que consiga mantê-la, a vida não concorda com a língua.

Eu não nego ser culpado, conheço minha inércia e negligência. Talvez haja diante do juiz bondoso um pedido de perdão no reconhecimento da culpa. Na verdade, quando no mosteiro podia não só reter a língua de palavras ociosas, mas quase continuamente manter o espírito atento à oração. Mas depois que pus aos ombros do coração o cargo pastoral, meu espírito não consegue recolher-se sempre, porque está dividido entre muitas coisas.

Sou obrigado a decidir ora questões das Igrejas, ora dos mosteiros; com frequência ponderar a vida e as ações de outrem; ora auxiliar em certos negócios dos cidadãos, ora gemer sob as espadas dos bárbaros invasores e temer os lobos que rondam o rebanho sob minha guarda. Por vezes, devo encarregar-me da administração, para que não venha a faltar o necessário aos submetidos à disciplina da regra. Às vezes devo tolerar com igualdade de ânimo certos ladrões, ora opor-me a eles pelo desejo de conservar a caridade. Estando assim dispersa e dilacerada a mente, quando voltará a recolher-se toda na pregação, e não se afastar do ministério da proclamação da Palavra? Por obrigação do cargo, muitas vezes tenho de encontrar-me com seculares; por isso sempre relaxo a guarda da língua. Pois se constantemente me mantenho sob o rigor de minha censura, sei que sou evitado pelos mais fracos e nunca os atraio para onde desejo. Por esta razão, muitas vezes tenho de ouvi-los pacientemente em questões ociosas. Mas, sendo eu mesmo fraco, arrastado aos poucos pelas palavras vãs, começo a dizer sem dificuldade aquilo que a princípio tinha ouvido com má vontade; e ali onde me aborrecia cair, agrada-me permanecer.

Que, pois, ou que espécie de sentinela sou eu, que não estou de pé no monte da ação, mas ainda deitado no vale da fraqueza? Poderoso é, porém, o criador e redentor do gênero humano para conceder-me, a mim, indigno, a elevação da vida e a eficácia da palavra. Por seu amor, me consagro totalmente à sua palavra.

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