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SANTA MARIA, MÃE DE DEUS (P. Lucas, scj)

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Caros irmãos, no último dia da oitava do Natal, celebramos a Solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus. Sua liturgia nos propõe o evangelho da visita dos pastores ao Menino, segundo S. Lucas (cf. Lc 2,16-21). Peçamos ao Senhor que nos dê a graça de encontrá-lo!

Aos pastores, um anjo tinha anunciado o nascimento do Salvador e lhes indicou um sinal: “encontrareis um recém-nascido envolvido em faixas e deitado numa manjedoura” (Lc 2,14). Eles, então, se apressaram a Belém “e encontraram Maria e José, e o recém-nascido, deitado na manjedoura” (Lc 2,16). De fato, Jesus é o Messias esperado que vem em forma inesperada – o Senhor do céu e da terra apoiado no cocho dos animais. Sinceramente, penso que seria muito mais fácil não crer naquele anúncio; poderia a salvação manifestar-se assim? Mas os pastores creram e, assim, a encontraram.

Nós, porém, talvez estejamos muito acostumados com a ideia da presença de Jesus, afinal Ele é Deus conosco. Ou talvez estejamos desanimados de procurar um salvador neste mundo que passa, que vai sempre de mal a pior. É certo, contudo, que precisamos da mesma pressa dos pastores para nos colocar em movimento e encontrar o que nos foi anunciado. Em outras palavras, precisamos de um ímpeto da Graça para procurar o Senhor na manjedoura, a Misericórdia na nossa miséria, o Tudo no nada: o Senhor no nosso coração. Precisamos, assim, sem mais demora fazer silêncio – e rezar – para encontrá-lo.

E então temos os grandes intercessores deste dia e deste ano: Maria e José. Nossa Mãe “guardava todos estes fatos e meditava sobre eles em seu coração” (Lc 2,19) na companhia de nosso protetor, o homem do silêncio. Ora, se cultivarmos em nosso cotidiano tal silêncio e meditação que nos ensinam os mestres da escola de Nazaré, certamente encontraremos o Senhor Jesus, caminho, verdade e vida. Que a bendita Mãe de Deus e nossa, a Virgem Maria e São José, seu castíssimo esposo, nosso protetor, com sua intercessão sejam nossas companhias para vivermos 2021 em comunhão com o Salvador.

Feliz ano novo a todos!

Sub tuum præsidium confugimus.
sancta Dei Genitrix:
nostras deprecationes
ne despicias in necessitatibus:
sed a periculis cunctis libera nos semper,
Virgo gloriosa et benedicta.

Solenidade da Santa Mãe de Deus: Lc 2,16-21 – Mãe e guardiã do seu Filho de Deus

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Por Dom André Vital Félix da Silva, SCJ.

Na noite santa do Natal ouvimos: “Completaram-se os dias para o parto, e Maria deu à luz o seu filho primogênito”; em seguida, o Anjo do Senhor anunciou aos pastores quem era esse recém-nascido: “Nasceu para vós um Salvador, que é o Cristo Senhor”. Se acolhemos a verdade do evangelho e nela cremos, não há nenhuma dúvida sobre quem é a mãe e o seu filho. Se não hesitamos em reconhecer que esse filho é o Cristo Senhor, o Salvador, o Deus feito homem, consequentemente, não haverá nenhuma razão para não reconhecer que, se o filho é Deus, a sua mãe só pode ser Mãe de Deus. Antes mesmo de ser uma afirmação dogmática (Concílio de Éfeso, 431), a Maternidade Divina de Maria é uma exigência natural e coerente para quem diz acreditar que o seu filho é o Deus salvador. Afirmar que Maria é Mãe de Deus é reconhecer que o Verbo Eterno se encarnou verdadeiramente, unindo a sua divindade à nossa humanidade, porém numa só pessoa. 

Maria não é a mãe de um Cristo esquizofrênico, esfacelado em uma dupla personalidade, da qual ela seria apenas mãe de uma parte (humana). Mas o Cristo real quis ser chamado filho de uma mulher: “Quando se completou o tempo previsto, Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher…” O filho de Maria é o mesmo Filho de Deus. Reconhecê-la como sua mãe não limita a sua maternidade, mas reafirma a sua missão sublime e singular: Mãe do Deus verdadeiro, gerado, não criado, consubstancial ao Pai. A Maternidade Divina de Maria não a torna deusa, mas testemunha que o seu Filho é o Deus encarnado, que assumiu nela a nossa humanidade. 

A perícope evangélica desta Solenidade, além de evidenciar a verdade do Natal do Senhor como manifestação do seu amor, que chega ao ponto mais alto, isto é, o esvaziamento de si mesmo (kénosis) a fim de que a vida alcance a humanidade, leva-nos também à contemplação dos acontecimentos importantes da salvação, cujo primeiro tesouro foi o coração e a mente de Maria: “Maria guardava todos esses fatos e meditava sobre eles em seu coração”.  

A exemplo de Maria, somos chamados a contemplar todos esses acontecimentos salvíficos, conservando-os no coração:

1. O nascimento de Jesus como realização da promessa de Deus na história concreta da humanidade. Os pastores foram convidados a Belém para encontrar o recém-nascido. Contudo, esse recém-nascido não estava sozinho: “Encontraram Maria, José e o recém-nascido deitado na manjedoura”. O Messias não é um personagem mitológico, aparecido arbitrariamente na história ou inventado pela fantasia humana para dar respostas a anseios profundos. Mas o Cristo é uma criança nascida de uma mulher concreta, numa família real, cujos pais são conhecidos. Na cena do nascimento do seu Filho, Maria vê se cumprir a profecia que o anjo Gabriel lhe anunciara no momento da anunciação: “Eis que conceberás e darás à luz um filho”. Portanto, a profecia do Magnificat de Maria também se realiza nesse momento: “O Senhor fez em mim grandes coisas”.

2. O primeiro livro onde se inscreveu o evangelho foi a mente e o coração de Maria: “Maria guardava todos esses fatos e meditava sobre eles em seu coração”. Lucas no seu prólogo afirma: “Visto que muitos já tentam compor uma narração dos fatos que se cumpriram entre nós, conforme no-los transmitiram os que, desde o princípio, foram testemunhas oculares e ministros da Palavra…” (Lc 1,1-2). Portanto, o livro do evangelho é o registro de tudo aquilo que as testemunhas oculares tinham guardado, conservado e meditado no coração e na mente. Se Lucas faz questão de dizer, por duas vezes, que Maria guardava todos esses acontecimentos no coração (Lc 2,19.51), não poderíamos deixar de reconhecer o seu precioso papel de testemunha ocular e guardiã dos acontecimentos da salvação. Maria é o evangelho vivo do seu Filho, pois nela a Palavra se encarnou, assumiu a forma mais elevada de comunicação. Ela foi o primeiro livro onde a Palavra foi “escrita”, não com tinta ou trabalho humano, mas pela ação do Espirito Santo, aquele que é a fonte de inspiração de toda a Escritura, especialmente dos evangelhos.

3. A glória e o louvor de Deus sinais da vivência do verdadeiro Natal: “Os pastores voltaram, glorificando e louvando a Deus por tudo o que tinham visto e ouvido…” O encontro com o Salvador, o Filho de Deus e de Maria, torna-se o real e suficiente motivo para o culto agradável a Deus, pois é mais de que simples palavras ditas num rito religioso, mas é verdadeira ação de graças, isto é, Eucaristia. Não encontramos em nós os motivos para louvar e agradecer a Deus, mas é na salvação que Ele realiza que encontramos a razão do nosso culto. Glorificamos a Deus por aquilo que Ele fez por nós, assim como Maria: “A minha alma engrandece o Senhor… Pois Ele fez grandes coisas por mim”. Não são as nossas obras que justificam o nosso louvor a Deus, mas as obras Dele em nós, por nós e para nós. Contemplar o recém-nascido, Filho de Deus e de Maria, é reconhecer a grande obra de salvação que o Criador realizou em nosso favor. Celebrar o Natal é tornar-se testemunha disso; é voltar louvando e glorificando a Deus pelo que vimos e ouvimos. Para prestar-lhe o culto verdadeiro é preciso ver os sinais concretos da sua ação no mundo através de quem se empenha na construção da fraternidade, da justiça e da paz. Só acolhendo (ouvindo, guardando e meditando) o seu Evangelho é que poderemos nos tornar, como Maria, verdadeiros anunciadores da boa notícia da salvação, cujo primeiro anúncio se deu na noite de Natal e que ressoa permanentemente a cada dia. 

Maria é verdadeira Mãe de Deus porque o seu Filho é verdadeiramente Deus encarnado. Esses são os acontecimentos que devemos guardar no coração e na mente, e deles sermos anunciadores. Se Natal é o nascimento do Filho de Deus, como não sermos gratos à sua Mãe, primeiro Livro do seu evangelho, primeira anunciadora da salvação.

Fonte: https://www.dehonianosbre.org.br/homilias/solenidade-da-santa-mae-de-deus–lc-2-16-21–mae-e-guardia-do-seu-filho-de-deus

TE DEUM

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Nós Vos louvamos, ó Deus, 
nós Vos bendizemos, Senhor. 
Toda a terra Vos adora, 
Pai eterno e omnipotente. 
Os Anjos, os Céus 
e todas as Potestades, 
os Querubins e os Serafins 
Vos aclamam sem cessar: 
Santo, Santo, Santo, 
Senhor Deus do Universo, 
o céu e a terra proclamam a vossa glória. 
O coro glorioso dos Apóstolos, 
a falange venerável dos Profetas, 
o exército resplandecente dos Mártires 
cantam os vossos louvores. 
A santa Igreja anuncia por toda a terra 
a glória do vosso nome: 
Deus de infinita majestade, 
Pai, Filho e Espírito Santo. 
Senhor Jesus Cristo, Rei da glória, 
Filho do Eterno Pai, 
para salvar o homem, tomastes 
a condição humana no seio da Virgem Maria. 
Vós despedaçastes as cadeias da morte 
e abristes as portas do céu. 
Vós estais sentado à direita de Deus, 
na glória do Pai, 
e de novo haveis de vir para julgar 
os vivos e os mortos. 
Socorrei os vossos servos, Senhor, 
que remistes com vosso Sangue precioso;
e recebei-os na luz da glória, 
na assembleia dos vossos Santos. 
Salvai o vosso povo, Senhor, 
e abençoai a vossa herança; 
sede o seu pastor e guia através dos tempos 
e conduzi-o às fontes da vida eterna. 
Nós Vos bendiremos todos os dias da nossa vida 
e louvaremos para sempre o vosso nome. 
Dignai-Vos, Senhor, neste dia, livrar-nos do pecado. 
Tende piedade de nós, 
Senhor, tende piedade de nós. 
Desça sobre nós a vossa misericórdia, 
Porque em Vós esperamos. 
Em Vós espero, meu Deus, 
não serei confundido eternamente.

SAGRADA FAMÍLIA DE JESUS, MARIA E JOSÉ DO NATAL – Ano B (P. Lucas, scj)

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Caros irmãos, no domingo durante a oitava do Natal, celebramos a Sagrada Família de Nazaré. A liturgia deste ano nos propõe o evangelho da purificação ritual da Mãe e do Menino e o consequente retorno à sua residência na Galiléia segundo S. Lucas (cf. Lc 2,22-40). Peçamos ao Senhor Espírito Santo que nos ajude a viver as pequenas coisas do cotidiano na presença do Salvador!

Não lhe parece um desperdício que o Filho de Deus venha ao mundo e passe aproximadamente 30 anos “escondido”? Jesus Cristo, o Salvador da humanidade, passou a maior parte de sua vida terrena despercebido, sem pregações ou milagres, mas, simplesmente, vivendo a vida comum de seu vilarejo no convívio cotidiano com José e Maria. Não lhe parece uma perda de tempo? E, no entanto, também nisso acolhemos a grande sabedoria de Deus! Pois, assim, com a sua própria vida, Jesus mostrou ao mundo que a vida em família, dentro de casa, vale a pena: é digna e honrosa aos olhos de Deus. Por isso, cada pessoa, cada pai e mãe, que dedica a sua vida em múltiplos esforços noite e dia pelo bem físico e sobretudo espiritual de seus filhos e de seu cônjuge, pode sentir-se valioso aos olhos do Pai celeste. Nenhum sacrifício, por menor que possa parecer, passa desapercebido pelos olhos de Deus que valoriza a família como santuário da vida e veio viver como homem numa família.

Mais ainda: “no desígnio de Deus, a família é a primeira escola do ser homem em seus vários aspectos”, disse S. João Paulo II [1]. Assim, podemos ver em S. José, cujo ano estamos celebrando, as virtudes de um bom pai que, temendo e obedecendo a Deus, dá a vida pela esposa e Seu Menino, protegendo aquele tesouro precioso que tinha sob seu teto e provendo suas necessidades. Ora, também os pais de hoje são chamados, debaixo da mão poderosa do Altíssimo, a dar a vida por suas famílias, protegendo-as de todo mal e provendo suas necessidades espirituais e materiais, a fim de que o coração de sua esposa e filhos possa tornar-se santuários da presença de Deus.

Celebremos, então, com louvor a Sagrada Família, valorizemos as nossas famílias e defendamo-las de todo ataque do mal contra a integridade de sua vida. Que a Virgem Maria, nossa Mãe, e São José, seu castíssimo esposo, nosso protetor, intercedam por nossas famílias para que vivam livremente o projeto de Deus para suas vidas.

Sub tuum præsidium confugimus.
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Virgo gloriosa et benedicta.

[1] João Paulo II, Gratissimam Sane, http://www.vatican.va/content/john-paul-ii/pt/letters/1994/documents/hf_jp-ii_let_02021994_families.html

Festa da Sagrada Família: Lc 2,22-40 – Família: real e sagrada

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Por Dom André Vital Félix da Silva, SCJ.

A Festa da Sagrada Família está muito bem inserida na Oitava do Natal, pois evidencia a verdade da Encarnação, isto é, Deus assumiu a nossa condição humana e, portanto, entrou no mundo como cada um de nós, nascendo em uma família.  A família não é um simples aglomerado de pessoas que compartilham de algumas coisas comuns, mas a família é a realização de um projeto de Deus para garantir a dignidade e a realização da vida. Nascendo de uma família humana, o Filho de Deus consolidou esse projeto do Pai. Cada criança gerada testemunha que a família não é uma opção entre outras para que haja a vida, mas é a condição fundamental para que essa vida tenha dignidade, respeito e alcance plenitude. 

Dizer que a família é um projeto de Deus não é um discurso romântico ou mesmo um idealismo desencarnado, pois a família de Nazaré não foi uma família ideal isenta de dificuldades e sofrimentos, mas uma família que assumiu a verdade de tudo aquilo que lhe é próprio, por isso se tornou a família referencial pois nela evidencia-se a realidade mais fundamental da família como instituição divina e não apenas construção cultural. 

A cena reportada no evangelho de hoje ressalta três situações inspiradoras para que a vida familiar, real e concreta, seja consolidada e realize-se como projeto de Deus para o bem das pessoas e da sociedade.

1.“Maria e José levaram Jesus a Jerusalém, a fim de apresentá-lo ao Senhor”: neste gesto não vemos apenas um cumprimento casuístico da Lei, mas antes de tudo, o testemunho de uma verdade basilar da existência humana. Levar Jesus ao templo significa que este filho, mesmo sendo deles (natural para Maria, e legítimo para José), não é uma posse dos pais. Gerar um filho não é adquirir um objeto; dar à luz uma vida não é simplesmente aumentar o número dos seres no mundo, mas conceber uma criança e assumi-la é aceitar uma missão, um verdadeiro sacerdócio, pois cuidar, amar o ser humano criado à imagem e semelhança de Deus, é o culto mais elevado que se possa prestar ao Criador. Oferecer ao Senhor é reconhecer que tudo é Dele. Por outro lado, à medida que o ser humano se apropria dos bens, das pessoas, considerando-os seus de forma despótica, isolando-os de seu verdadeiro Senhor, então surgem as grandes ameaças à vida: manipulação ideológica deformando o sentido original da existência, dominação escravagista que estratifica os seres humanos em superiores e inferiores, destruindo assim a célula mater da sociedade e a condição fundamental para todos os seres humanos, isto é, a fraternidade universal.

A família é o primeiro altar onde se oferece o que se tem de melhor aos seus membros e Àquele que também se ofereceu a nós e por nós. Jesus apresentado no Templo, como fruto de uma família, nos ensina que sem doação, entrega abnegada, a família se desfigura e se torna apenas um aglomerado de egoístas que se exigem reciprocamente, digladiando-se a si mesmos, porque são incapazes de reconhecer que a vida de cada um é dom de Deus e não simplesmente uma ocasião para um utilitarismo desumano e destruidor de relações.

2.“O pai e a mãe estavam admirados com o que diziam a respeito dele”: toda vida humana tem um dinamismo que se renova permanentemente, é a energia vital que impulsiona o curso da existência, assim também a vida familiar. Admirar-se diante da vida é um sinal de que estamos mergulhando sempre mais na sua dimensão mais profunda. Quando as relações familiares se tornam uma rotina, onde não se vê o outro mais como uma fonte de inspiração e renovação, perde-se encanto da convivência. Não se tem mais nada a receber nem a oferecer. Sem dúvida, Maria e José passaram toda a vida familiar surpreendendo-se com Filho, a grande novidade do Pai na realização do seu projeto de amor de dar a vida em plenitude às suas criaturas por excelência. O povo quando testemunhava as palavras e as atitudes de Jesus também se admirava e ficava encantado com tudo isso. Perder o encantamento da convivência familiar, quando não se tem mais nada de bom para dizer do outro, transforma o lar em sepulcro, onde o silêncio incomoda o coração e o falar irrita as mentes.

3.“O menino crescia e tornava-se forte, cheio de sabedoria; e a graça de Deus estava com ele”. Uma família que se fecha egoisticamente no seu pequeno mundo está prestes a atrofiar, a mediocrizar-se e desaparecer. Casais que se propõem à vida conjugal mas optam pela convivência entre dois egoístas que querem apenas aproveitar a vida, impedindo-a de florescer e, por isso, consideram que os filhos tolhem a liberdade e limitam suas possibilidades de prazer e felicidade, traíram o projeto a eles confiados, pois usufruem dos prazeres imediatos da relação conjugal, mas não se doam generosamente na construção da humanidade, oferecendo-lhe seus frutos mais preciosos, mesmo que para isso seja preciso ir ao Templo oferecer sacrifícios.

Celebrar a Sagrada Família não é um suspiro alienante e ingênuo diante de uma sociedade que insiste em querer convencer que a família é uma instituição falida e superada. Mas, motivados pela fé, renovamos a certeza de que a vida é o dom mais precioso saído das mãos do Pai e colocado nas nossas para oferecê-lo com muita gratidão, e a melhor forma de fazê-lo é nos comprometermos com a família por Ele querida e pela qual o seu Filho deu a vida.

Fonte: https://www.dehonianosbre.org.br/homilias/festa-da-sagrada-familia–lc-2-22-40–familia–real-e-sagrada

O NATAL DE JESUS CRISTO (P. Lucas, scj)

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Mais do que iluminarem as nossas noites, as luzes de Natal nos despertam para o contraste de luz e trevas que caracteriza a nossa existência. Elas são expressão do nosso coração que, cansado do peso de mais um ano de trabalho, se renova na esperança de um ano novo que se aproxima. E neste ano não será diferente porque a nossa vida neste mundo é assim mesmo: luzes e trevas coabitam; trigo e joio continuam a crescer no campo de Deus (cf. Mt 13,24s). Através desse contraste, podemos contemplar o mistério do Natal em sua profundidade.

Se partirmos da sua tradicional representação, veremos como o frio e a escuridão daquela noite santa contrastam com a doçura das imagens do presépio. A dramaticidade daquela noite é descrita singelamente pelo evangelista ao relatar o nascimento de Jesus: “Enquanto estavam em Belém, completaram-se os dias para o parto, e Maria deu à luz o seu filho primogênito. Ela o enfaixou e o colocou na manjedoura, pois não havia lugar para eles na hospedaria” (Lc 2,6-7). Ouviremos essas palavras na celebração da Missa da noite. Nelas, o contraste entre luz e trevas é muito claro: o Salvador, Senhor do céu e da terra, Deus que se fez homem, o Esperado das nações não encontra acolhida na Cidade de Davi. De fato, Ele “veio para o que era seu, mas os seus não o receberam” (Jo 1,11).

Porém, alguém poderia que a Sagrada Família não foi recebida por ninguém naquela noite porque eles não faziam ideia de quem era Aquele que estava prestes a nascer… Faz sentido. Mas se este é o único problema, por que hoje, sabendo quem é Jesus, Ele ainda encontra tantas portas fechadas? Se Ele fosse um revolucionário político ou um sábio, um curandeiro ou um taumaturgo, talvez encontrasse mais portas abertas. Mas a quem interessa um Deus encarnado? Ultimamente, Ele não pode entrar nas escolas e universidades, nos sistemas de governo, no mundo dos negócios, no showbiz. Deus simplesmente não tem espaço: melhor escondê-lo ou ignorá-lo. O mais fácil é fazer-de-conta que Ele não existe ou, pelo menos, não quer entrar na nossa vida.

Contudo, se tiramos do nosso horizonte a presença e o amor de Deus, o que nos resta? Quão profunda a tristeza do mundo – e de um coração – fechados no egoísmo. Tão profundas as trevas de não ter esperança. Mas a cena do Menino Deus deitado sobre a manjedoura diz que a escuridão não tem a última palavra – porque a Sua misericórdia não conhece limites. Aquele que teve um cocho como berço não se negará a entrar em nosso mundo imperfeito, a vir repousar em nosso coração tão fragilizado e quebrado pelo pecado. O Médico dos médicos veio justamente para nós que estamos doentes (cf. Mt 9,12s), que não temos ninguém por nós, que precisamos de salvação! Jesus não espera que possamos dar-lhe nossa perfeição, pois é Ele quem nos aperfeiçoa. Ele só espera o nosso sim para nascer em nós e dar-nos a Sua vida. Se abrirmos nossa existência a nosso Senhor, Sua luz brilhará em nosso coração e nada poderá apagar o Seu brilho.

Assim, compreendemos o que é celebrar o Natal de Jesus Cristo: é abrir – melhor, escancarar – as portas da nossa vida a Deus! É dizer sim como Maria! É aceitar que Deus é Deus. É provar a Misericórdia que nosso coração miserável tanto anseia – e procura das maneiras mais tresloucadas. Então, e só então, saberemos que o Natal é mais que uma confraternização; saberemos o porquê da festa e de tanta alegria: não é comida, nem bebida ou presentes. É alegria de saber-nos amados por um Amor absoluto e eterno. Se Ele vem por nós, não existe nada – nem ninguém – que nos faça desistir de acolher e dar o melhor espaço que pudermos ao nosso amado Jesus. Por Ele, com Ele e n’Ele nós nos alegraremos sempre e o celebraremos na divina liturgia com toda piedade e devoção. Em Sua presença, toda treva é dissipada e brilha a luz da esperança.

Com essa convicção, em Cristo, desejo a todos um feliz Natal!

NATAL

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Por Thomas Giulliano.

Sou moderadamente infeliz, mas não sou ateu. O ateu não se preocupa com Deus porque decidiu que ele não existe. Eu, mesmo que através de binóculo, tento enxergá-lo.

O Presépio é aquilo que a realidade tumultuosa recusa. Não há lei, nem força convencional, que detenha por um instante a sua divina embriaguez que o mundo dos cálculos não pode suportar. O homem jamais será capaz de comunicá-lo com totalidade. Os maiores doutores foram capazes apenas de expressar algo suficiente sobre o Verbo ter se feito carne no ventre de uma virgem. No Presépio, a pureza do amor é reencontrada em sua verdade íntima. Há mais de dois milênios, o nascimento do Menino Deus ecoa como um feixe múltiplo. O amor do menino Jesus é um amor de morte na cruz. A morte e o nascimento são signos do instante humano. Deus nasceu, morreu e ressuscitou. O Pai de Adão assumiu a nossa carne.

Há poucos dias, fui convidado para conversar durante alguns minutos sobre o Natal. Muitos só enxergam o espetáculo e não param para refletir que fui convidado para falar sobre o nascimento de Deus, que se fez carne no seio virgem de Maria, cumprindo assim as escrituras do Antigo Testamento. Correr o risco de esquecer um detalhe sobre a encarnação do Verbo ou de falar uma heresia faz com que eu não toque jazz. Fico deslocado quando tenho que tocar uma partitura. Nesse tema, o tempo urgiu ainda mais. Não consigo descrever esse Deus que nasceu em condições materiais piores que a do nosso SUS. Nos tumultos persistentes do meu espírito, não posso dar às minhas idéias mais que uma expressão obscura. Aceitei esse convite porque não quero ser morno.

O Natal é um nascimento que se faz de fora para que nos interroguemos por dentro. A mensagem do Natal não é a de um mundo de paz. É exatamente o contrário. Sua mensagem encarnada é a de que a humanidade não pode salvar a si mesma. No Natal, celebramos o acontecimento central da história: a Encarnação do Verbo divino. Falar do Presépio é abordar o episódio que dá sentido ao Mundo. Quando você acha que é fácil falar sobre o mistério do Natal você já está paganizado. Nessa pura existência sensível há os ludibriados pela sedução das grandes comemorações. Acham que falam do Natal, mas conversam sobre vícios e recusas. Pautados pelas leis da sociabilidade e da polidez convencional, são incapazes de remeter-se à consciência de si. Esquecem que o menino ainda será chagado.

Sem o Natal, a vida é a própria morte.

Fonte: https://www.facebook.com/thomasgiullianoferreiradosantos/ (11/12/2020)

NATAL DO SENHOR – Missa da noite (P. Lucas, scj)

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Caros irmãos, com grande alegria, celebramos o Natal de nosso Senhor Jesus Cristo. Na Missa da Noite, rezamos com o evangelho do nascimento de Jesus segundo S. Lucas (cf. Lc 2,1-14). Dai-nos a graça, ó Pai, de um coração aberto para receber o Salvador!

Todos os anos, na Santa Missa da noite de Natal, ouvimos que “Maria deu à luz o seu filho primogênito. Ela o enfaixou e o colocou na manjedoura, pois não havia lugar para eles na hospedaria” (Lc 2,7). Que cena tremenda! Por um lado, destacam-se as expressões de materna ternura com a qual a Virgem acolhe o dom do Pai à toda humanidade. Por outro lado, temos a dramática expressão do que é nossa humanidade pecadora: no lugar de um berço, um cocho – porque Deus não tem espaço num mundo incapaz de se abrir àquilo que está além do que os sentidos podem perceber.

E tem sido assim desde então: Jesus Cristo bate às portas, mas são poucas as que se Lhe abrem. Mais um ano e, infelizmente, muitas portas continuam fechadas ao Salvador: não só porque a presença do único Deus vivo e verdadeiro incomoda, já que ilumina a escuridão do nosso coração apegado ao pecado. Mas também porque Ele não traz a salvação que gostaríamos. É verdade que talvez este ano de 2020 nos tenha dado a chance de perceber que precisamos de um salvador. Mas quem está disposto a acolher a Salvação que não garante nada nesta vida ou deste mundo, mas nos eleva para a vida divina?

Talvez fosse mais credível ao homem se Deus trouxesse o paraíso para a Terra. Contudo, como é difícil aceitar que o Salvador não nos quer manter aqui para sempre, mas quer levar-nos consigo ao Coração do Pai… Não, meus irmãos, máscaras, isolamentos, vacinas não nos salvarão: esta vida terá um fim. Mas aquele Menino na manjedoura é o sinal que este fim pode não ser perda ou destruição se o viver e o morrer se tornarem oferta amorosa Àquele Amor que nos amou primeiro.

Que São José, o castíssimo esposo da Virgem Maria, nosso protetor, cujo ano agora celebramos nos ajude, com sua intercessão, a fazermos dos nossos dias oferta silenciosa à Verdade encarnada. Que nossa Mãe santíssima nos cubra com Seu manto. E que o Menino encontre lugar, mesmo que miserável, para ficar em nossos corações.

A todos, um feliz e santo Natal!

Sub tuum præsidium confugimus.
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nostras deprecationes
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sed a periculis cunctis libera nos semper,
Virgo gloriosa et benedicta.

Noite do Natal do Senhor: Lc 2,1-14 – Natal: uma urgente profecia!

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Por Dom André Vital Félix da Silva, SCJ.

Nesta noite Santa do Natal se proclama mais uma vez a narração do nascimento do Filho de Deus na gruta de Belém. Talvez por já termos ouvido tantas vezes essa passagem do evangelho, já não conseguimos dar-lhe a atenção que merece. Porém, Lucas ao escrever esta página não quis apenas fazer uma crônica de um acontecimento do passado, mas convida o seu leitor a fazer um verdadeiro caminho de encontro com o Senhor, que se deixa encontrar na sua Palavra e na Eucaristia.  

Antes de tudo, esse acontecimento extraordinário está situado na história: “Naqueles dias, César Augusto publicou um decreto…”. É na história da humanidade, com suas vicissitudes, que Deus se revela e atua. Pois a história é o lugar onde se pode conhecer aquilo que a força criadora da sua Palavra realiza. Maria e José, inseridos nessa história, tornaram-se instrumentos de Deus para que o seu plano de salvação se realizasse. O percurso que esse casal é obrigado a fazer por exigência do Imperador (da Galileia à Judeia), mais tarde, será assumido pelo Filho como itinerário da sua missão, pois é a partir de Nazaré que inicia o anúncio do evangelho da salvação, culminando na Judeia, em Jerusalém, com sua morte e ressurreição. É o caminho para compreender a Palavra como manifestação da vontade de Deus. 

Certamente o decreto do Imperador não foi uma Boa-Notícia para o povo, visto que era mais um instrumento de dominação das populações submetidas ao Império Romano, para garantir um controle mais detalhado das pessoas e do que elas possuíam, fazendo-lhes pesar altos impostos. Naquilo que poderia parecer apenas obediência ao decreto do Imperador, Maria e José consolidaram a sua obediência a Deus, para quem nada é impossível. Apesar dos condicionamentos da história que muitas vezes dificultam reconhecer o agir de Deus, nada pode impedir a realização da sua vontade: “Completaram-se os dias para o parto e Maria deu à luz o seu filho primogênito”. Jesus, sendo da descendência de Davi, nasce em Belém como sinal de que nele se cumprirão as expectativas messiânicas, Ele é o verdadeiro filho de Davi, o Bom Pastor do povo de Deus. Em Jesus duas atitudes de pastor se realizam plenamente: proteger e alimentar as ovelhas.

Maria, a profetisa por excelência do Novo Testamento, ao dar à luz o seu primogênito, o Rei-Pastor, realiza dois gestos que serão o primeiro anúncio, ou seja, o protoevangelho concreto do seu Filho: “Ela o envolveu em faixas e reclinou-o na manjedoura”. Como intuíram os grandes mestres da Patrística (por ex. Orígenes), no menino envolto em faixas, se reconhece que Ele é a Palavra eterna do Pai que no Antigo Testamento estava envolvida nas Escrituras (faixas), mas que agora, tendo assumido a carne humana, a revelou plenamente; colocado no lugar da comida, a manjedoura, esse rei-pastor alimenta as suas ovelhas com a sua própria vida. 

Os gestos de Maria, mais do que simples cuidados maternais para com seu bebê, é verdadeira profecia, é o próprio evangelho como causa de grande alegria para todo o povo: “Eu vos anuncio (grego: euangelidzomai, evangelizo) uma grande alegria, que o será para todo o povo”.  

Antes mesmo de o Anjo do Senhor fazer esse alegre anúncio, temos o serviço da mãe ao Filho, são as primeiras ações de Maria para com o seu recém-nascido. Portanto, na raiz da boa-notícia está o serviço à vida, como fez a mãe para com o filho. Toda a missão de Jesus, segundo o evangelho de Lucas, será a realização do que Maria fez na noite de Natal. Estas duas realidades inseparáveis para encontrar e reconhecer o Salvador (Palavra e Eucaristia) são dadas pelo anjo como sinal para os pastores: “Isto vos servirá de sinal: Encontrareis um recém-nascido envolvido em faixas e deitado numa manjedoura”. É verdade que a mãe anuncia que o seu Filho é a Palavra que no Antigo Testamento estava envolto nas Escrituras, mas é só o Filho que tem o poder de desvelá-las a fim de que os seus discípulos compreendam o que essas Escrituras querem comunicar (Lc 24,27.32).

Por certo, a mãe, reclinando-o na manjedoura, profetiza que Ele é alimento, mas é só Ele que, ao entregar o seu corpo e sangue na sua páscoa, realiza este anúncio natalino. A mãe, que envolveu o seu recém-nascido em faixas proclamando uma profecia, mais tarde testemunhará a realização dessa profecia ao vê-lo ser envolvido em faixas depois de ter sido tirado da cruz (Lc 24,53). A mãe que o reclina na manjedoura logo depois de ter saído do seu ventre, mais tarde o verá depositado no ventre da terra. Maria é profetisa no sentido pleno, pois não apenas anuncia, mas testemunha a realização do que foi anunciado.  

Celebrar o Natal do Senhor é reconhecer que nenhum decreto humano que imponha um jugo de escravidão é mais forte do que a Boa Notícia: “Nasceu para vós um Salvador”. O Natal deve renovar em nós a certeza de que é possível vencer o medo diante de tantas situações de morte, injustiça, pecado, pois deve ressoar sempre o anúncio dos mensageiros do céu: “Não tenhais medo”. Mas também, o Natal é o momento de sairmos do nosso chão cômodo para ir até Belém, onde reconheceremos que não estamos sozinhos, lá encontraremos o recém-nascido, tão frágil, mas à medida que ouvirmos a sua Palavra e formos alimentados pelo seu corpo e sangue, certamente seremos revigorados não apenas para cantar nesta noite: “Glória a Deus no mais alto dos céus”, mas também para construir já aqui na terra o seu projeto de paz e fraternidade, a fim de que haja  “Shalom na terra aos homens por ele amados”.

Fonte: https://www.dehonianosbre.org.br/homilias/noite-do-natal-do-senhor–lc-2-1-14–natal–uma-urgente-profecia-

Duas dimensões da vocação da mulher (VI) – « Filhinhos meus por quem sofro novamente as dores do parto »

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Da carta apostólica Mulieris dignitatem, de S. João Paulo II, n. 22.

O Evangelho revela e permite compreender precisamente este modo de ser da pessoa humana. O Evangelho ajuda toda mulher e todo homem a vivê-lo e assim a realizar-se. Existe, de fato, uma total igualdade em relação aos dons do Espírito Santo, em relação às « grandes obras de Deus » (At 2, 11). Não só isso. Precisamente diante das « grandes obras de Deus », o apóstolo-homem sente necessidade de recorrer àquilo que é por essência feminino, a fim de exprimir a verdade sobre o próprio serviço apostólico. Exatamente assim age Paulo de Tarso, quando se dirige aos Gálatas com as palavras: « Filhinhos meus por quem sofro novamente as dores do parto » (Gál 4, 19). Na primeira Carta aos Coríntios (7, 38) o apóstolo anuncia a superioridade da virgindade sobre o matrimônio, doutrina constante da Igreja no espírito das palavras de Cristo, relatadas no Evangelho de Mateus (19, 10-12), sem ofuscar absolutamente a importância da maternidade física e espiritual. Para ilustrar a missão fundamental da Igreja, ele não encontra outra coisa melhor do que se referir à maternidade.

Encontramos um reflexo da mesma analogia — e da mesma verdade — na Constituição dogmática sobre a Igreja. Maria é a « figura » da Igreja: [1] «Com efeito, no mistério da Igreja — pois também a Igreja é com razão chamada mãe e virgem — Maria precedeu, apresentando-se de modo eminente e singular, como modelo de virgem e de mãe… Deu à luz o Filho, a quem Deus constituiu primogênito entre muitos irmãos (cf. Rom 8, 29) isto é, entre os fiéis, para cuja regeneração e formação ela coopera com amor de mãe ». [2] « Por certo, a Igreja, contemplando-lhe a arcana santidade, imitando-lhe a caridade e cumprindo fielmente a vontade do Pai, mediante a palavra de Deus recebida na fé, torna-se também ela mãe, pois pela pregação e pelo batismo ela gera para a vida nova e imortal os filhos concebidos do Espírito Santo e nascidos de Deus ». [3] Trata-se aqui da maternidade «segundo o espírito » a respeito dos filhos e filhas do gênero humano. Tal maternidade — como foi dito — torna-se a « parte » da mulher também na virgindade. A Igreja « também é virgem que íntegra e puramente guarda a fé prometida ao Esposo ». [4] Isto se realiza em Maria da maneira mais perfeita. A Igreja, pois, « imitando a Mãe do seu Senhor, pela virtude do Espírito Santo, conserva virginalmente uma fé íntegra, uma sólida esperança e uma sincera caridade ». [5]

O Concílio confirmou que se não se recorre à Mãe de Deus, não é possível compreender o mistério da Igreja, a sua realidade, a sua vitalidade essencial. Indiretamente encontramos aqui a referência ao paradigma bíblico da « mulher », delineado claramente já na descrição do « princípio » (cf. Gn 3, 15), e ao longo do percurso que vai da criação, passando pelo pecado, até chegar à redenção. Deste modo se confirma a união profunda entre o que é humano e o que constitui a economia divina da salvação na história do homem. A Bíblia convence-nos do fato de que não se pode ter uma adequada hermenêutica do homem, ou seja, daquilo que é « humano », sem um recurso adequado àquilo que é « feminino ». Analogamente acontece na economia salvífica de Deus: se queremos compreendê-la plenamente em relação a toda a história do homem, não podemos deixar de lado, na ótica de nossa fé, o mistério da « mulher »: virgem-mãe-esposa.

[1] Cf. Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. sobre a Igreja Lumen gentium, n. 63: S. Ambrósio, in Lc II, 7: S. Ch. 45,74; De instit. Virg. XIV, 87-89 : PL 16, 326-327; S. Cirilo de Alexandria, Hom. 4 : PG 77, 996; S. Isidoro de Sevilha, Allegoriae 139 : PL 83, 117.

[2] Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. sobre a Igreja Lumen gentium, n.63.

[3] Ibid., n. 64.

[4] Ibid., n. 64.

[5] Ibid., n. 64. Sobre a relação Maria-Igreja, que ininterruptamente ocorre nas reflexões dos Padres da Igreja e de toda a Tradição cristã,  cf. carta Enc. Redemptoris Mater, n. 42-44 e notas 117 -127 : l. c., p. 418-422. Cf. também Clemente de Alexandria, Paed., I, 6 : S. Ch. 70, 186-187; S. Ambrósio, in Lc II, 7 : S. Ch. 45-74; S. Agostinho, Sermo 192, 2 : PL 38, 1012; Sermo 195, 2 : PL 38, 1018; Sermo 25, 8 : PL 46, 938 : S. Leão Magno, Sermo 25, 5 : PL 54, 211 ; Sermo 26, 2 : PL 54, 213; Ven. Beda, in Lc l, 2 : PL 92, 330. « Ambas mães ― escreve Isacco della Stella, discípulo de S. Bernardo ― ambas virgens, ambas concebem por obra do Espírito Santo… Maria … gerou ao corpo a sua Cabeça; a Igreja … dá a esta Cabeça o seu corpo. Uma e outra são mães de Cristo: mas nenhuma delas o gera por inteiro sem a outra. Por isso justamente … aquilo que é dito em geral da virgem mãe Igreja se entende singularmente da virgem mãe Maria; e aquilo que se diz de modo especial da virgem mãe Maria se refere em geral à virgem mãe Igreja; e quanto se diz de uma delas pode ser entendido  indiferentemente de uma e de outra » (Sermo 51, 7-8 : S. Ch. 339, 202-205.) .

http://www.vatican.va/content/john-paul-ii/pt/apost_letters/1988/documents/hf_jp-ii_apl_19880815_mulieris-dignitatem.html

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