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SOLENIDADE DE SANTA MARIA, MÃE DE DEUS – P. Lucas, scj

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Caros irmãos, a oitava do Natal se encerra com a celebração da solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus. Nela, meditamos o relato da visita dos pastores e da circuncisão do Menino (cf. Lc 2,16-21). Com esta liturgia, agradecemos a Deus a graça de iniciarmos mais um ano civil e pedimos os dons necessários para vivê-lo como autênticos cristãos. Rezamos ainda pelo descanso eterno do Santo Padre, o Papa emérito Bento XVI que faleceu no sábado, último dia de 2022. Assim, roguemos a Deus que nos dê dos dons do Espírito Santo para que vivamos uma vida nova.

Quanto a Maria, guardava todos estes fatos e meditava sobre eles em seu coração” (Lc 2,19). Contemplar o mistério da bem-aventurada Virgem Maria, Mãe de Deus e nossa, é um exercício duplamente oportuno. Primeiro, porque nela, estreitamente ligada ao mistério do Verbo que se fez carne para a nossa salvação, vemos a resposta Ele espera de toda a humanidade: de fato, o Senhor espera nosso assentimento à Sua vontade e nossa perseverança no bom combate da fé. Para tanto, precisamos, também nós, cultivar a intimidade com ele na oração e na meditação.

Em seguida, é-nos oportuna tal contemplação porque temos em Nossa Senhora um excelente auxílio, refúgio e proteção para o ano-novo que iniciamos: ela, intercedendo por nós e nos unindo cada vez mais profundamente a seu Filho, nos recorda que não fomos abandonados a nós mesmos, mas, pelo contrário, podemos contar sempre com a misericórdia infinita daquele que, assumindo nossa miserável condição, merece toda nossa confiança. Assim, ela nos devolve a verdadeira esperança, capaz de sustentar aquelas menores que nos impulsionam no cotidiano da vida. Confiemo-nos a Maria, busquemos a sua intercessão e certamente não estaremos perdidos.

Pai, dá-nos o Espírito Santo para que vivamos 2023 buscando sempre Teu Filho Jesus Cristo. Virgem Maria, Mãe de Deus, ensina-nos a dizer sim a Deus. S. José, nosso protetor, dá-nos a intimidade com Jesus.

Um feliz 2023 a todos!

Sub tuum præsidium confugimus.
sancta Dei Genitrix:
nostras deprecationes
ne despicias in necessitatibus:
sed a periculis cunctis libera nos semper,
Virgo gloriosa et benedicta.

Solenidade da Santa Mãe de Deus: Lc 2,16-21 – Salvação sem Salvador?

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Por Dom André Vital Félix da Silva, SCJ.

A Solenidade da Divina Maternidade de Maria (Theotokos) é uma consequência natural do anúncio jubiloso da noite santa do Natal: “Nasceu para vós o Salvador, que é o Cristo Senhor”. O nascimento de uma criança nos remete à sua origem mais próxima e incontestável: o seio de sua mãe. Portanto, afirmar que o menino que nasceu na gruta de Belém é o Deus que se fez carne, é reconhecer que a sua mãe é Mãe de Deus. “Mãe de Deus” não é um título honorífico que a Igreja inventou para prestar uma homenagem a Maria. Mas é o reconhecimento da realidade mais íntima e verdadeira que se estabeleceu, por obra do Espírito Santo, entre a Virgem de Nazaré, chamada Maria, e o Filho do Altíssimo, Jesus de Nazaré, o Verbo Encarnado. Ele não nasceu de uma deusa, pois assim continuaria sendo só um deus, mas nasceu de uma mulher, por isso se fez homem, assumindo a nossa condição, mesmo sem deixar de ser o Deus onipotente e eterno. 

A Divina Maternidade de Maria representa a expressão máxima da bênção de Deus para a humanidade. Assim como o povo de Israel, através da oração e invocação sacerdotais de Aarão e seus filhos (1ª Leitura), era abençoado por Deus a fim de ser-lhe garantida a plenitude dos bens: “O Senhor volte para ti o seu rosto e te dê a paz (Shalom)”, na plenitude dos tempos, a bênção por excelência nos chega através de uma mulher (2ª Leitura), cujo filho nos traz a plenitude da salvação, pois o seu nome é Jesus: Deus Salva, aquele que nos liberta de toda escravidão. A festa de hoje nos diz que o Salvador tomou a iniciativa de vir até nós; no seio de uma mulher, uniu-se a toda a humanidade e não apenas a um povo ou a uma cultura particular. Portanto, ir ao encontro do Salvador é tomar a estrada da verdadeira humanização que alcança plenitude na experiência de salvação. É inegável a riqueza plural da experiência religiosa de toda a humanidade nas suas diferentes culturas e cosmovisões; uma humanidade que sempre almejou a salvação, que sempre buscou irresistivelmente a plenitude da vida. Reconhecer esse desejo de salvação universal não é suficiente para fazer a experiência de salvação; é preciso encontrar-se com o Salvador. O Vaticano II nos recorda: “Na realidade o mistério do homem só se torna claro verdadeiramente no mistério do verbo Encarnado… Cristo manifesta plenamente o homem ao próprio homem e lhe descobre a sua altíssima vocação” (GS 22).

Por isso, Jesus não é simplesmente mais um símbolo de Deus na jornada espiritual do homem, mais um ser humano iluminado e dotado de excelentes virtudes, que aponta para uma realidade transcendente. Ele é o Salvador da humanidade, pois não catalisa apenas os desejos do ser humano por Deus, mas Ele é o próprio Deus que vem em busca do ser humano. 

O evangelho de hoje nos apresenta, de maneira simples e profunda, a experiência do encontro com o Salvador. Os pastores, depois de terem ouvido o anúncio do anjo, partiram para Belém. A Boa Notícia de que Deus nos enviou o Salvador é “o primeiro serviço que a Igreja pode prestar ao homem e à humanidade inteira” (São João Paulo II, Redemptoris Missio, n. 2). A fé em Cristo Salvador não é imposição que tira a liberdade do ser humano, mas deve ser proposta por quem, no encontro pessoal com Ele, fez a experiência do maravilhar-se com o dom da salvação, da vida nova; considerando um grande bem, não o retém egoisticamente, mas o comunica aos outros como serviço generoso e de gratidão.

Bento XVI, em Aparecida (2007), afirmou: “A Igreja não faz proselitismo. Ela cresce muito mais por ‘atração’: como Cristo ‘atrai todos a si’ com a força do seu amor, que culminou no sacrifício da Cruz, assim a Igreja cumpre a sua missão na medida em que, associada a Cristo, cumpre a sua obra conformando-se em espírito e concretamente com a caridade do seu Senhor”. Os pastores quando confirmaram, ao encontrar-se com o recém-nascido deitado na manjedoura, tudo o que lhes fora dito sobre o menino, provocaram uma grande alegria nas pessoas que os ouviam. Esta é a verdadeira e eficaz evangelização.

O Papa Francisco nos encoraja a fazer essa mesma experiência quando nos diz: “A ALEGRIA DO EVANGELHO enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus. Quantos se deixam salvar por Ele são libertados do pecado, da tristeza, do vazio interior, do isolamento” (EG 1). O grande desafio no anúncio dessa boa notícia de salvação é recuperar a sua simplicidade e autenticidade. O mesmo sinal que fora dado pelo anjo aos pastores para que reconhecessem o Salvador continua ainda hoje válido para fazermos a experiência do encontro com Ele: “um menino envolto em faixas e deitado na manjedoura”. Os Padres da Igreja viram nessas faixas uma referência às Escrituras do Antigo Testamento, como dirá a Dei Verbum: “Deus dispôs sabiamente que o Novo Testamento estivesse escondido no Antigo” (DV 16). Porém, na perspectiva de Lucas, as faixas fazem referência à morte de Jesus: “Envolvendo-o num lençol, colou-o numa tumba”. Portanto, o encontro com o Senhor exige conhecimento de toda a sua vida, morte e ressurreição, experiência iluminada pela Palavra de Deus. 

Deitado numa manjedoura” é o outro sinal para reconhecer o Salvador. A manjedoura é o lugar onde se oferece o alimento, Jesus é o Salvador porque se fez nosso alimento, entregando a sua vida para que tenhamos vida em plenitude. A experiência da Eucaristia é o momento privilegiado do encontro com o Salvador, pois é ali que Ele nos nutre ricamente com a sua palavra e com o seu corpo e sangue. Mais uma vez, exige-se de nós conhecimento de toda a pessoa do Salvador. Vale notar que tanto a manjedoura quanto a sepultura é o lugar de colocar Jesus deitado (mesmo verbo: keimevos, Lc 2,13.16; 23,53). Portanto, o menino deitado na manjedoura é o mesmo homem deitado no sepulcro. Na manjedoura o Verbo se abreviou, fez-se pequeno para que pudéssemos compreendê-lo (VD 12), mas abandonando o sepulcro, fez-nos compreender que o seu amor é infinito a ponto de não poder ser aprisionado por nada e por ninguém, pois é este amor que nos salva.

Que este tempo de Natal nos ajude a fazer a experiência da Mãe de Deus: “Guardava todos esses fatos e meditava sobre eles em seu coração”. Sendo mãe do Filho de Deus, Maria Mãe de Deus nos aponta o caminho eficaz para fazer a experiência do encontro com Aquele que traz a salvação, pois só Ele é Jesus.

Fonte: https://www.dehonianosbre.org.br/homilias/solenidade-da-santa-mae-de-deus–lc-2-16-21–salvacao-sem-salvador-

NATAL DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO (Liturgia da Noite) – P. Lucas, scj

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Caros irmãos, a liturgia da Noite de Natal nos apresenta o relato do nascimento de nosso Senhor Jesus Cristo segundo S. Lucas (cf. Lc 2,1-14). Abramo-nos à Graça do Espírito Santo para que, habitados pela presença de Deus, sejamos interiormente renovados por Ele.

O povo, que andava na escuridão, viu uma grande luz; para os que habitavam nas sombras da morte, uma luz resplandeceu” (Is 9,1). Nós somos este povo. E reconhecer as trevas que se abatem sobre nós é o primeiro passo para encontrar a Luz do alto que vem para nossa salvação. De fato, além do Deus vivo e verdadeiro que Se revela em Jesus Cristo, nenhuma outra realidade pode nos dar esperança: sem a Sua presença, estamos perdidos; sem a Sua misericórdia, nada possui sentido.

Mas a Boa Notícia é que Ele veio! “Nasceu para nós um menino, foi-nos dado um filho” (Is 9,5). E a dramática situação daquela noite silenciosa, na qual  “não havia lugar para eles na hospedaria” (Lc 2,7), continua a se apresentar para nós a cada dia: Deus nos vem visitar e oferece-nos a Sua misericórdia de modo singelo e extraordinário… Mas encontrará Ele lugar para ficar? Terá Ele um lugar menos rude que um cocho e palhas? Quiçá seja recebido com adoração e devoção e possa, assim, manifestar Seu infinito Amor na vida de cada cristão.

Pai, dá-nos a graça do Espírito Santo para que nos abramos inteiramente a Teu Filho Jesus Cristo. Virgem Maria, Mãe Imaculada, ensina-nos a dizer sim a Deus. S. José, nosso protetor, dá-nos a intimidade com Jesus.

Sub tuum præsidium confugimus.
sancta Dei Genitrix:
nostras deprecationes
ne despicias in necessitatibus:
sed a periculis cunctis libera nos semper,
Virgo gloriosa et benedicta.

SEGUNDO DOMINGO DO ADVENTO (Ano A) – P. Lucas, scj

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Caros irmãos, neste segundo domingo do Advento, ano A, a liturgia nos apresenta o testemunho de S. João Batista para nossa reflexão e oração (cf. Mt 3,1-12). Que a Graça do Espírito Santo nos dê a força necessária para uma verdadeira conversão.

Convertei-vos, porque o Reino dos Céus está próximo” (Mt 3,2): nesta breve frase encontramos a síntese da severa pregação do Batista. Mas a sua severidade não está só nas palavras, está também no seu estilo de vida, marcado pela austeridade (cf. Mt 3,4). Assim, tanto pela vida, quanto pelas palavras, S. João nos inspira a viver bem este tempo do Advento naquilo que lhe é próprio: a esperança da vinda do Senhor que se torna conversão.

Para tanto, precisamos meditar os desdobramentos da mesma pregação que se encontram nos versículos seguintes: a urgência da conversão, a ilusão das falsas seguranças e a eternidade do inferno. De fato, o machado está posto à raiz e, mais que folhas, o agricultor procura frutos (cf. Mt 3,10). Além disso, não basta pertencer ao Povo eleito para ser herdeiro da promessa, é preciso deixar-se transformar pela Aliança (cf. Mt 3,9). E, enfim, ao concluirmos o efêmero período desta vida, veremos a situação de nosso coração que, então, colherá aquilo que tem plantado – e a colheita não terá fim (cf. Mt 3,12). Portanto, não adiemos nossa mudança de mentalidade e deixemo-nos transformar pela presença misericordiosa daquele que virá.

Pai, dá-nos o fogo do Espírito Santo para que nos convertamos a Teu Filho Jesus Cristo. Virgem Maria, Mãe Imaculada, ensina-nos a dizer sim a Deus. S. José, nosso protetor, dá-nos a intimidade com Jesus.

Sub tuum præsidium confugimus.
sancta Dei Genitrix:
nostras deprecationes
ne despicias in necessitatibus:
sed a periculis cunctis libera nos semper,
Virgo gloriosa et benedicta.

II Domingo do Advento: Mt 3,1-12 – Pedras, convertei-vos em filhos de Deus!!!

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Por Dom André Vital Félix da Silva, SCJ.

Neste Segundo Domingo do Advento, continuando a nossa caminhada de preparação, a liturgia nos apresenta a figura de João Batista como grande apelo de conversão, sublinhando o seu contundente anúncio profético: “Convertei-vos… Preparai os caminhos do Senhor… Filhotes de víboras, produzi frutos que provem a vossa conversão”, e o seu estilo austero de vida: “vestido de roupa de pelos de camelo e um cinturão de couro… Comia gafanhotos e mel do campo”. 

Apesar de “possuir tonalidades diferentes do tempo da Quaresma, o espírito de conversão é também característica do Advento, pois não existe vivência autêntica de esperança e de alegria sem retornar ao Senhor de todo o coração, na expectativa da sua volta, ou seja, não é possível viver a expectativa, a esperança e a alegria pela vinda do Senhor, sem uma profunda conversão” (cf. Cristo, Festa da Igreja, A. Bergamini, 191-192).

Mesmo reconhecendo a superioridade de Jesus e da sua missão: “Aquele que vem depois de mim é mais forte do que eu”, João Batista faz um anúncio idêntico ao de Jesus: “Convertei-vos porque o Reino dos Céus está próximo” (Mt 3,2; 4,17). Se para o Antigo Testamento a conversão era expressa pela decisão de voltar para Deus (hebraico: shuv, retornar, voltar, converter-se, Dt 30,2), no Novo Testamento o conceito de conversão dá um passo a mais, isto é, não é possível perseverar na opção por um caminho de retorno para o Senhor se não há uma mudança de mentalidade (grego: metanoia, mudança interior que dá consistência a novas atitudes). Não basta apenas mudar a direção externa, é preciso ter motivações internas para fazê-lo com convicção. O fato de muitos fariseus e saduceus irem até João era um sinal concreto de que é possível, numa circunstância pontual, pessoas agirem aparentemente como convertidas, com atos isolados de boa vontade, solidariedade, caridade, penitência, mas que não são capazes de mudá-las interiormente; são ótimas personagens de teatro, mas tirando a máscara, revelam a sua postura fundamental de fechamento à mudança, a uma verdadeira conversão que exige reconhecimento do pecado, da sua situação atual a partir da qual se iniciará um longo caminho de crescimento a ser feito com paciência e fé, humildade e perseverança.

É muito comum nesse tempo de Natal algumas pessoas se empenharem em angariar alimentos, roupas, brinquedos, agasalhos e mantimentos para destinar a pessoas necessitadas. Motivadas e comovidas pelo caráter extraordinário do momento, não medem esforços e sacríficos para o bom êxito de suas campanhas. Sensibilizando vizinhos, amigos, parentes, de longe e de perto, tornam-se verdadeiros paladinos da solidariedade, que terão a sua recompensa garantida quando os seus assistidos lhes manifestarem gratidão e reconhecimento, mesmo que constrangidos e humilhados por serem “convidados” ao palco para a entrega dos donativos. Porém, passando o encantamento da vaidade mascarada de espírito solidário e caritativo, esses benfeitores sazonais voltam a reassumir a postura de sempre: a indiferença e descompromisso com os mesmos pobres e necessitados que, mesmo depois de um natal farto, continuarão pobres e necessitados.

O Precursor desmascara essa “conversão” artificial; mesmo voltando-se para o profeta enviado por Deus, os fariseus e saduceus não davam provas de que tinham mudado de mentalidade assumindo um modo mais coerente de compreender a Palavra de Deus e de se relacionar com os demais. 

João Batista nos apresenta um itinerário pedagógico que pode sinalizar o nosso processo de conversão. Em primeiro lugar, o anúncio não é ameaça, mas convite: “Convertei-vos”, é a convocação para uma mudança de modo de conduzir a vida, não mais por aparências e seguranças artificiais: “Não penseis que basta dizer: ‘Abraão é nosso pai’”, mas pelos valores do evangelho: “Produzi frutos que provem a vossa conversão” (justiça, solidariedade, misericórdia, fé, perdão etc.). Ao convidar o povo a mudar de rumo, de direção, o profeta João dá a razão para isso: “O Reino dos Céus está próximo”. Porque se realiza a partir de uma lógica diferente, é preciso mudar de postura para poder enxergá-lo próximo, reconhecer os sinais de sua presença. No rito simbólico do mergulhar e sair das águas, o povo era desafiado a iniciar uma experiência de morte e vida nova, confessando os pecados, a fim de que a vida se torne uma árvore que dê frutos. Voltar-se para acolher o Reino dos Céus é a razão mais convincente para mudar de vida. 

Ao longo do evangelho se confirmará que muitos dos fariseus e saduceus não se arrependeram, apesar de terem ido procurar o batismo de penitência. Pois este era apenas um sinal provisório, um convite a acolher o definitivo do Reino trazido por “Aquele que batiza com Espírito Santo e com fogo”. Não apenas João chama os fariseus e saduceus de “Filhotes de víboras” (grego: gennemata echidnon), mas o próprio Jesus também denuncia a hipocrisia deles com este apelativo (Mt 12,34; 23,33). No simbolismo da víbora encontramos uma referência ao veneno da hipocrisia, que se manifesta sobretudo no fazer de conta que não são pecadores, de que não necessitam de conversão. Hipocrisia revestida de piedade estéril: “Destas pedras Deus pode fazer levantar filhos a Abraão” (no hebraico se pode fazer um jogo sonoro das palavras: filhos –banim, e pedras-‘abanim). Portanto, não é um título que conta, nem os privilégios de raça que garantem a participação no Reino dos Céus, mas o compromisso com a sua implantação: “Buscai o Reino dos Céus e a sua justiça e tudo vos será dado em acréscimo” (Mt 6,33). Tornar-se filho de Deus é um dom que só pode ser recebido quando se acolhe o Reino que se faz próximo e presente Naquele que soprará o seu Espírito para limpar o seu povo, chamado a voltar-se para Ele, convertendo-se permanentemente.

Fonte: https://www.dehonianosbre.org.br/homilias/ii-domingo-do-advento–mt-3-1-12–pedras-convertei-vos-em-filhos-de-deus–