Olá, amigos! Sejam novamente bem vindos a este espaço de reflexão acerca da fé da Igreja.
Depois de um longo caminho de estudo, chegamos ao décimo dos doze artigos de fé do Símbolo dos Apóstolos. Com a Igreja, aprendemos que o católico crê na remissão dos pecados. E por que isso é tão importante? G. K. Chesterton, pensando sobre as razões que levam um homem (inclusive ele) a se tornar católico, escreveu:
“Quanto às razões fundamentais para um homem fazê-lo, há apenas duas que são realmente fundamentais. Uma é que ele acredite que a Igreja seja a verdade sólida e irremovível – que é verdade, quer ele queira, quer ele não queria; a outra, que ele busque o perdão de seus pecados” [1].
Perdão dos pecados e a busca pela verdade: razões que nos levam a Deus. E se em nosso país a busca pela verdade não figura entre os maiores interesses (vide a reeleição do partido que encabeçou o maior esquema de corrupção já descoberto para dirigir o país), o perdão dos pecados é objetivo de todo coração sincero. Não há como não enxergarmos o mal que existe em nossos corações. “Meu pecado está sempre diante de mim” (Sl 51(50),5), diz o salmista.
Para entendermos bem o real teor dessa verdade de fé, o perdão dos pecados, precisamos primeiramente entender que perdão não é desculpa. Desculpar é, como a própria palavra dá a entender, um retirar a culpa, um inocentar. É o reconhecimento de que uma pessoa não teve a intenção de cometer o mal. Perdão, pelo contrário, é atestar a culpa, e mesmo assim dar uma nova chance. Desculpa é justiça para com o outro. Perdão é superar a justiça no amor.
Pecamos! Ponto. Sejamos honestos e veremos que o mal não está em um “sistema”, mas em nossos corações. Somos culpados. E para os culpados resta a pena.
Diante desta perspectiva entendemos verdadeiramente o que é o perdão. Mesmo culpados de um crime terrível, fomos redimidos por Deus. E isso não significa que nossa pena tenha sido retirada, pois redimir é “comprar de volta”. O que ocorreu é que por amor, Deus pagou a nossa pena. E a pagou com a sua morte na Cruz! Crer no perdão é crer que o Senhor pagou o preço que deveríamos pagar. O que nos cabe é aceitar essa oferta generosa de Deus. Entrar pela porta do seu perdão e permanecer junto Dele por toda a eternidade.
Para descobrirmos a porta do perdão que vem de Deus, basta seguirmos a pista deixada por Chesterton: a porta do perdão está na Igreja. Mais especificamente, o perdão de Deus se realiza através dos sacramentos da Igreja. E isso não porque ela tenha se outorgado esse direito. Foi o próprio Cristo que legou essa missão à Igreja quando se dirigiu aos Apóstolos, dizendo: “A quem perdoardes os pecados, serão perdoados; a quem os retiverdes, ficaram retidos” (Jo 20,23).
O perdão de Deus sobressai, sobretudo, nos sacramentos do Batismo e da Penitência (Confissão). Bento XVI chama a atenção para a relação entre o perdão e esses dois sacramentos quando analisa o lava-pés, relatado no Evangelho de São João. Diante das palavras de São Pedro, de que queria ser lavado por inteiro, diz Jesus: “Quem já tomou banho não precisa lavar senão os pés, pois está inteiramente limpo” (Jo 13,10). Segundo o Papa Emérito o banho se refere ao Batismo e o lavar os pés à Confissão [2].
O Batismo é o principal sacramento do perdão dos pecados porque “pelo Batismo fomos sepultados com ele [Jesus Cristo] em sua morte, para que, como Cristo foi ressuscitado dos mortos pela ação gloriosa do Pai, assim também nós vivamos uma vida nova” (Rm 6,4). No Batismo, unidos a Cristo, ocorre a nossa morte para o pecado. E “esta é uma morte autêntica porque é a destruição, no homem, daquilo que é mal, para lhe permitir renascer como Filho de Deus, tornando-se assim uma nova criatura – participante da natureza divina e chamado à santidade” [3].
Já a Confissão, existe porque “a graça do Batismo não livra ninguém de todas as fraquezas da natureza” [4]. Mesmo tendo adentrado pela porta do perdão, nossa concupiscência continua a nos atrair para fora. Mesmo batizados, continuamos a pecar, a ferir Jesus Crucificado. Deus, que não nos abandona, oferece o sacramento da Penitência para podermos nos reconciliar com Ele. Dizia São João Maria Vianney: “Crucificaste, Cristo, mas quando vos ide confessar, ide libertá-lo da cruz”.
Creiamos firmemente no Amor e na Misericórdia de Deus. “Cristo, que morreu por todos os homens, quer que, em sua Igreja, as portas do perdão estejam sempre abertas a todo aquele que recua do pecado” [5]. Arrependamo-nos e lutemos para recuar do pecado, pois esta é condição para experimentarmos o perdão de Deus.
Uma boa semana a todos!
[1] CHESTERTON, G. K. Todos os Caminhos levam a Roma. São Paulo: Oratório, 2012, p. 17.
[2] Cf. RATZINGER, J. Jesus de Nazaré – Da entrada em Jerusalém até a Ressureição. São Paulo: Planeta, 2011, p. 74 -77.
[3]DAJCZER, T. Meditações sobre a fé. São Paulo: Palavra e Prece, 2007, p. 161.
[4] CEC (Catecismo da Igreja Católica), n. 978.
[5] CEC, n. 983.