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SOLENIDADE DE SÃO PEDRO E SÃO PAULO – P. Lucas, scj

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Caros irmãos, neste domingo, celebramos a Solenidade de São Pedro e São Paulo, apóstolos. Nela, a liturgia nos traz a profissão de fé de São Pedro segundo Mateus (cf. Mt 16,13-19). Peçamos ao Senhor que nos dê a graça de perseverar na mesma fé que esses gloriosos apóstolos testemunharam até o fim.

Diante de diversas e parciais opiniões a Seu respeito, Jesus pergunta aos seus discípulos: “e vós, quem dizeis que eu sou?” (Mt 16,15). De fato, uma pergunta muito oportuna. Afinal, em que creram os Apóstolos? Pois este patrimônio da fé, dom que vem de Deus, é nosso refúgio, já que nos faz conhecer o único Deus vivo e verdadeiro. Sejamos realistas, não basta acreditar em qualquer coisa: é preciso crer na Verdade que, em última análise, Pedro e Pauloé o próprio Senhor Jesus Cristo. E o encontramos na fé que Ele nos deixou e que é conservada e transmitida há dois mil anos pela Santa Igreja Católica. Que beleza! O dom da fé nos faz Igreja, nos insere neste grande corpo místico!

Podemos, assim, participar mais cada vez mais melhor deste mistério se aprofundamos nossa vivência da fé e nos tornamos anunciadores do Evangelho. Nosso aprofundamento passa, é claro, pelo estudo e pela oração: porque ninguém ama o que não conhece e, uma vez amando, não busca estar na presença da pessoa amada. E, enfim, o anúncio desta Boa Notícia que cremos e é a razão da nossa alegria passa por nossas palavras e nossas obras. Realmente, é preciso falar do amor de Deus por nós, é preciso ensinar os conteúdos da fé. E como é grande a responsabilidade dos pais cristãos que devem educar seus filhos na fé! Mas passa também – e é validado – pelo nosso testemunho. De fato, hoje os paramentos festivos nos lembram que a fé em Jesus Cristo é algo pelo qual nos dispomos até do nosso próprio sangue. Que alegria, irmãos, estarmos unidos, pela fé, a São Pedro e a São Paulo e à imensa multidão dos santos que a professaram e a anunciaram antes de nós! Agora, é o nosso turno.

Que a bem-aventurada e sempre virgem Maria, nossa mãe na fé, e S. José, seu castíssimo esposo, nos sustentem e nos protejam com sua intercessão.

Sub tuum præsidium confugimus.
sancta Dei Genitrix:
nostras deprecationes
ne despicias in necessitatibus:
sed a periculis cunctis libera nos semper,
Virgo gloriosa et benedicta.

 

Solenidade de São Pedro e São Paulo: Mt 16,13-19 – A fé: a Pedra Bem-aventurada!

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Por Dom André Vital Félix da Silva, SCJ.

A Solenidade dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo evidencia, antes de tudo, o alicerce fundamental da Igreja: a fé. A liturgia de hoje não nos faz pensar sobre uma fé teórica, conceituada abstratamente, mas nos convida a contemplar, no horizonte vivencial e concreto, o que significa crer e quais as consequências de crer. Pedro e Paulo não são mitos fundadores de uma religião, mas pessoas concretas que testemunharam, para além de suas fraquezas e misérias, em quem acreditavam, e deram provas, com a vida e com a morte, de como creram (1ª Leitura). A fé que professaram é dom de Deus que, uma vez acolhido, enraizou-se e tem dado muitos frutos ao longo da história. Por outro lado, essa fé não é nem privilégio pessoal nem muito menos patrimônio individual; vivenciada comunitariamente de modo coerente, pode tornar-se a grande ajuda para uma humanidade que é descrente porque não sabe em quem acreditar e como acreditar, perdendo, assim, a sua identidade. No testemunho de quem crê, encontra-se uma razão S. Pietropara viver, e na esperança de quem crê, um motivo suficiente para não ter medo de morrer (2ª Leitura).

A experiência de fé de Pedro e Paulo e, naturalmente, de toda a Igreja, tem como fundamento o encontro com a pessoa de Jesus e se edifica no seu seguimento. Esse encontro, porém, não é fruto de uma iniciativa humana: “Feliz es tu, Simão, filho de Jonas, porque não foi nem sangue nem a carne que te revelaram isso”; pois não é o ser humano que busca a Deus, mas é Ele mesmo que vem ao encontro da sua criatura por excelência, quando a chama à existência e à plenitude de vida.

O evangelho de hoje nos apresenta um momento imprescindível no caminho do seguimento de Jesus, isto é, a decisão de conhecê-lo mais profundamente. Portanto, a pergunta que Jesus dirige aos discípulos, de forma didática em dois seguimentos, marca decididamente esse caminho. Fica claro que não basta apenas dizer o que os outros afirmam: “Quem dizem os homens ser o Filho do homem?”, mas é preciso também dizer o que, a partir da convivência com Ele, conhecemos sobre Ele. A resposta deve ser pessoal, o que não significa intimismo ou espiritualismo individualista, pois ninguém conhece Jesus se não é capaz de acolher o testemunho da experiência dos outros que também fizeram o encontro com Ele, na comunidade, a Igreja querida e edificada pelo próprio Senhor; é ela o lugar por excelência do encontro e do conhecimento da sua Pessoa. Pois à medida que a convivência com Ele vai transformando os seus discípulos de todos os tempos, é que se aprofunda o conhecimento de quem Ele verdadeiramente é.

Em Mateus a pergunta de Jesus é: “Quem dizem os homens ser o Filho do homem?” É significativamente diferente de Marcos (8,27) e Lucas (9,18) que formulam: “Quem dizem os homens que eu sou?”. A resposta de Mateus é coerente: “Dizem que é João Batista; outros que é Elias; outros ainda que é Jeremias ou algum dos profetas”. Portanto, a pergunta e a resposta não se referem diretamente a Jesus, mas àquele personagem enigmático já anunciado no Antigo Testamento cuja vinda se aguardava (O Filho do homem: Dn 7,13). A resposta dos discípulos é coerente com as expectativas do povo. Fazendo uma retrospectiva cronológica, começam por João Batista, o profeta mais recente, aquele que assumiu características escatológicas, na mesma linha do profeta Elias, que era o profeta aguardado como precursor do Messias (Mt 17,10-11), chegando até Jeremias, o profeta sofredor do tempo do exílio que anunciava a Nova Aliança firmada no coração (Jr 31,33), por fim, não se sabe ao certo, mas se pensava que era um dos profetas. Até então, tudo muito lógico segundo as “especulações teológicas” do tempo e da tradição, agora Jesus lança o grande desafio da fé: “E vós quem dizeis que eu sou?”. A resposta de Simão Pedro, que dá voz ao grupo: “Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo” contém duas afirmações paradoxais. A primeira em continuidade com as expectativas do Antigo Testamento e tradição judaica, isto é, a espera do Messias; mas a segunda totalmente dissonante, incoerente e escandalosa: o Messias ser filho de Deus, e, portanto, Deus. Aqui está a diferença basilar entre o Cristianismo e todas as outras religiões, sobretudo o Judaísmo. Não é tanto afirmar que Jesus é um profeta, um messias, mas é crer que Ele é o Filho de Deus; isso extrapola todas as concepções e expectativas S. Paoloreligiosas. Só a fé torna-se rocha para suportar esse “terremoto”, essas mudanças fundamentais do crer, com consequências para o ser.

Por isso, Jesus chama Simão de Kephas (aramaico traduzido para o grego: petra; português: rocha, pedra). A mesma palavra que se encontra no ensinamento de Jesus sobre o modo autêntico de viver como seu discípulo: “Todo aquele que ouve essas minhas palavras e as põe em prática, será comparado a um homem prudente que edificou a sua casa sobre a rocha (petra)” (Mt 7,24s). Portanto, a fé se expressa na prática da palavra de Jesus, que por sua vez, revela a vontade de Deus.

Vale salientar que esta palavra (kephas) não tem variação de gênero em aramaico, portanto, Pedro e Pedra, são a mesma palavra. Por conseguinte, se a pedra representa a fé, esta deve ser a identidade de quem crê. Não há separação entre o crer e o ser discípulo. Caso contrário, a casa estaria edificada sobre a areia, destinada à queda.

Jesus declara que a fé unifica numa mesma pessoa o seu ser e o seu crer: “Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja”. Destarte, a fé não é algo que temos, mas algo que nos faz ser, mais que uma eficácia formativa é uma força performativa. E, portanto, como filhos do Eterno, somos destinados à eternidade, porquanto tudo aquilo que se liga na terra se liga no céu, e tudo o que se deliga na terra se desliga no céu. Feliz é aquele que sustentado na rocha da fé, se transforma em corpo de Cristo (Igreja), o rochedo da nossa salvação.

 

Fonte: https://www.dehonianosbre.org.br/homilias/solenidade-de-sao-pedro-e-sao-paulo–mt-16-13-19–a-fe–a-pedra-bem-aventurada-

PONHO-ME INTEIRAMENTE NAS MÃOS DE DEUS COM TODA ESPERANÇA E CONFIANÇA

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De uma carta de São Tomás More, escrita no cárcere a sua filha Margarida.

Ponho-me inteiramente nas mãos de Deus com toda a esperança e confiança
Embora eu tenha plena consciência, minha Margarida, de que os pecados da minha vida passada mereceram justamente que Deus me abandone, nunca deixarei de confiar na sua imensa bondade e de esperar com toda a minha alma. Até agora a sua santíssima graça deu-me forças para tudo desprezar do íntimo do coração – riquezas, rendimentos e a própria vida – antes que prestar juramento contra a voz da minha consciência. Foi Deus que, benignamente, levou o rei a privar-me até ao presente, só da liberdade. Com isto, em vez de me fazer mal, sua Majestade concedeu-me para proveito espiritual da minha alma, assim o espero, um benefício maior do que com todas aquelas honras e st-thomas-more-icon-434bens que antes me dispensava. E espero confiadamente que a mesma graça divina há-de continuar a favorecer-me, ou acalmando o ânimo do rei para que não me imponha tormento mais grave, ou dando-me a força necessária para suportar tudo, seja o que for, com paciência, fortaleza e boa vontade.

O meu sofrimento, unido aos méritos da dolorosíssima paixão do Senhor – infinitamente acima de tudo quanto eu venha a padecer – aliviará as penas que mereço no Purgatório e, graças à bondade divina, acrescentará também um pouco a minha recompensa no Céu.

Não quero desconfiar, minha Margarida, da bondade de Deus, por mais débil e fraco que eu me sinta. Mais ainda: se, no meio do terror e da consternação, eu me visse em perigo de ceder, lembrar-me-ia então de São Pedro, que, à primeira rajada de vento, começou a afundar-se, por causa da sua pouca fé, e procuraria fazer o que ele fez: gritar a Cristo: Salvai-me, Senhor. Espero que Ele estenderá a sua mão para me segurar e não me deixará afogar.

Mas se Deus permitisse que a minha semelhança com Pedro fosse mais longe, a ponto de eu me precipitar e cair totalmente, jurando e abjurando (que Deus, por sua misericórdia, afaste para bem longe de mim tal calamidade e que dessa queda me venha antes castigo do que benefício), ainda em tal caso, espero que o Senhor me dirigiria, tal como a Pedro, um olhar cheio de misericórdia e me levantaria de novo para eu voltar a defender a verdade, para descarregar a consciência e suportar corajosamente o castigo e a vergonha da minha anterior negação.

Finalmente, minha Margarida, estou inteiramente convencido de que, sem culpa minha, Deus não me abandonará. Por isso com toda a esperança e confiança me entregarei totalmente nas mãos de Deus. Se, por causa dos meus pecados, Deus permitisse a minha queda, ao menos brilharia em mim a sua justiça. Espero, porém, e espero com inteira certeza, que a sua clementíssima bondade guardará fielmente a minha alma e fará que em mim brilhe mais a sua misericórdia do que a sua justiça.

Está, pois, tranquila, minha filha, e não te preocupes comigo, seja o que for que me aconteça neste mundo. Nada pode acontecer-me que Deus não queira. E tudo o que Ele quer, por muito mau que nos pareça é, em verdade, muito bom.

 

Fonte: https://www.liturgia.pt/santos/santo_v.php?cod_santo=95

XII Domingo Tempo Comum: Mt 10,26-33 – A covardia que mata

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Por Dom André Vital Félix da Silva, SCJ.

Depois de ter escolhido os 12 discípulos para enviá-los em missão, concedendo-lhes autoridade de expulsar os espíritos imundos e de curar todas as enfermidades (XI Domingo: Mt 10,1s), Jesus não os ilude prometendo-lhes sucesso e honrarias, mas pelo contrário, adverte-os que estão sendo enviados “como ovelhas entre lobos” (Mt 10,16). Assim como o Mestre é perseguido e passará por muitos sofrimentos, também os seus discípulos não terão sorte diferente, pois “Não existe discípulo superior ao Mestre, nem servo superior ao seu senhor” (Mt 10,24). Por isso, o Mestre fala abertamente sobre o que aguarda os seus seguidores; estes devem permanecer conscientes da missão e de suas exigências e consequências; portanto, não podem ter medo de ninguém e de nada.

Por três vezes, na perícope de hoje, Jesus utiliza a expressão “não temais”. O verbo Gesù“temer” na Sagrada Escritura (AT: yare’; NT: phobeo) tem uma rica gama de significados. De acordo com o contexto, pode significar tanto ter medo, pavor que leva à fuga, como reverenciar ou ter temor religioso que leva à comunhão.

Apesar das diversas conotações, pode-se dizer que há um aspecto em comum a todos esses significados: o reconhecimento de algo superior, poderoso, diante do qual se curvar, reverenciar ou se submeter. Se o motivo do curvar-se é a humildade, então a atitude é positiva, é um temor reverencial, mas se for a covardia que leva à subserviência, então deixa de ser virtude coerente e torna-se uma corrupção da prudência.

É importante considerar que essas palavras estão sendo dirigidas àqueles que Jesus constituiu seus discípulos, os que já tinham sido confirmados na vocação, já tinham feito a experiência da convivência com o Mestre, de quem não receberam apenas instruções teóricas, mas estavam sendo formados através de atitudes corajosas e coerentes, cuja autoridade era incontestável. Desta forma, para continuar a seguir Jesus era preciso superar o medo da perseguição e da morte, inclusive as oposições dos próprios familiares (ver Mt 10,34s). Jesus ilustra o seu ensinamento inspirando-se nos costumes do seu tempo: “O que escutais ao pé do ouvido, proclamai-o sobre os telhados”.  Vale salientar que nas sinagogas geralmente aquele que ensinava falava em voz baixa a um locutor (turgeman) que, por sua vez, repetia em voz alta para o povo. Era um dispositivo didático que sublinhava o aspecto de revelação do ensinamento, isto é, o oculto (grego: krypton, escondido) que devia ser conhecido, revelado. O ensinamento de Jesus deve se encarnar, se concretizar, por isso, não se perde em teorias invisíveis, mas assume expressões concretas, palpáveis, assim como a luz que torna visível tudo aquilo que ela ilumina. A referência ao publicar “sobre os telhados” reflete a prática antiga de nas sextas-feiras à tarde o ministro da sinagoga (hazzan) subir no terraço (telhado) mais alto da cidade para tocar a trombeta avisando aos camponeses, que se encontravam nos campos, que era hora de voltarem para casa antes de iniciar o sábado, pois estava se aproximando o pôr do sol.

Portanto, os discípulos, enviados por Jesus, eram os verdadeiros arautos, isto é, os anunciadores de tudo aquilo que aprenderam na intimidade com o Mestre (“ao pé do ouvido”). Por outro lado, à medida que os discípulos realizarem a missão, irão naturalmente enfrentar as oposições, perseguições e toda sorte de obstáculo. Porém, já conheciam as Bem-aventuranças (Mt 5,1-12), e, portanto, estavam conscientes de que a perseguição e a morte eram apenas ocasiões para fazerem a experiência da veracidade do ensinamento de Jesus: “Bem-aventurados sois, quando vos injuriarem e vos perseguirem e, mentido, disserem todo o mal contra vós por causa de mim. Alegrai-vos e regozijai-vos, porque será grande a vossa recompensa nos céus” (Mt 5,10-11).

Contudo, a coragem em oposição à covardia não se enraíza numa ousadia puramente humana. Mas é, antes de tudo, confiança em Deus, que é solícito para com toda a sua criação, até mesmo para os seres considerados de pouco valor: “Não se vendem dois pardais por algumas moedas? No entanto, nenhum deles cai no chão sem consentimento do vosso Pai”. Jesus não diz que Deus cuida dos pardais porque são seus filhos. Portanto, se Ele tem cuidado para com todas as suas criaturas, quanto maior não será o seu cuidado para com os seus filhos: “Vós valeis mais do que muitos pardais”.

A coragem do testemunho brota da convicção de ser filho de Deus; por isso, não há o que temer; naturalmente o pai é o primeiro defensor e protetor dos seus filhos. Contudo, deve-se temer a rejeição a essa nova condição revelada por Jesus. Pois, o Mestre, ao ensinar a oração por excelência, inaugurou um novo e definitivo modo de relacionar-se com Deus, chamando-o de Pai. Reconhecer-se filho de Deus e viver como tal diante dos homens é declarar-se a favor de Jesus, pois para isso Ele veio: conduzir todos os filhos dispersos a Deus, seu Pai, estabelecer a fraternidade universal. E para realizar essa missão não poupou nenhum sacrifício, obedecendo ao Pai, e dando a vida pelos homens.

Negar Jesus diante dos homens significa recusar a adoção filial, é colocar-se fora da família de Deus, é o homem que se fecha no egoísmo e, por conseguinte, não pode ser declarado diante de Deus um filho seu, pois optou, por covardia, pela morte, uma vez que não teve coragem de morrer para testemunhar sua fé em Jesus, aquele que nos garante a vida em plenitude.

 

Fonte: https://www.dehonianosbre.org.br/homilias/xii-domingo-tempo-comum–mt-10-26-33–a-covardia-que-mata

MARIA CONSERVAVA TUDO EM SEU CORAÇÃO

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Dos Sermões de São Lourenço Justiniano, bispo.

Maria refletia consigo mesma em tudo quanto tinha conhecido, através do que lia, escutava e via; assim, progredia de modo admirável na fé, na sabedoria e em méritos, e sua alma se inflamava cada vez mais com o fogo da caridade! O conhecimento sempre mais profundo dos mistérios celestes a enchia de alegria,fazia-lhe sentir a fecundidade do Espírito, a atraía para Deus e a confirmava na sua humildade. Tais são os efeitos da Imaculado Coração de Mariagraça divina: eleva do mais humilde ao mais excelso e vai transformando a alma de claridade em claridade.

Feliz o coração da Virgem que, pela luz do Espírito que nela habitava, sempre e em tudo obedecia à vontade do Verbo de Deus. Não se deixava guiar pelo seu próprio sentimento ou inclinação, mas realizava, na sua atitude exterior, as insinuações internas da sabedoria inspiradas na fé. De fato, convinha que a Sabedoria de Deus, ao edificar a Igreja para ser o templo de sua morada, apresentasse Maria Santíssima como modelo de cumprimento da lei, de purificação da alma, de verdadeira humildade e de sacrifício espiritual.

Imita-a tu, ó alma fiel! Se queres purificar-te espiritualmente e conseguir tirar as manchas do pecado, entra no templo do teu coração. Aí Deus olha mais para a intenção do que para a exterioridade de tudo quanto fazemos. Por isso, quer elevemos nosso espírito à contemplação, a fim de repousarmos em Deus, quer nos exercitemos na prática das virtudes para sermos úteis ao próximo com as nossas boas obras, façamos uma ou outra coisa de maneira que só a caridade de Cristo nos impulsione. É este o sacrifício perfeito da purificação espiritual, que não se oferece em templo feito por mão humana, mas no templo do coração onde Cristo Senhor entra com alegria.

DEPOIS DO PÃO, PEDIMOS O PERDÃO DOS PECADOS

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Do Tratado sobre a Oração do Senhor, de São Cipriano, bispo e mártir.

Continuando a oração, fazemos o pedido: O pão nosso de cada dia nos dai hoje. Pode-se entendê-lo tanto espiritual como naturalmente. De ambos os modos Deus se serve para nossa salvação. Cristo é o pão da vida e este pão não é de todos, é nosso. Assim como dizemos Pai nosso, por ser Pai dos que entendem e creem, assim dizemos pão nosso, porque Cristo é o pão dos que comem o seu corpo. Pedimos a dádiva deste pão, todos os dias; não aconteça que nós, que estamos em Cristo e diariamente recebemos sua eucaristia como alimento de salvação, sobrevindo alguma falta mais grave, nos abstenhamos e sejamos privados de comungar o pão celeste e venhamos a nos separar Multiplicaçãodo corpo de Cristo, porque são suas as palavras: Eu sou o pão da vida, que desci do céu. Se alguém comer deste pão viverá eternamente. O pão que eu darei é a minha carne para a vida do mundo.

Assim, dizendo ele que viverá eternamente quem comer deste pão, como é evidente que vivem aqueles que pertencem ao seu corpo e recebem a eucaristia nas devidas disposições, é de se temer, pelo contrário, que se afaste da salvação aquele que se abstém do corpo de Cristo, conforme a advertência do Senhor: Se não comerdes da carne do Filho do homem e não beberdes de seu sangue, não tereis a vida em vós. Por este motivo, pedimos que nos seja dado diariamente nosso pão, o Cristo, para que não nos apartemos de sua santificação e de seu corpo, nós os que permanecemos e vivemos em Cristo.

Em seguida, também suplicamos pelos nossos pecados: E perdoai as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores. Depois do pão, pedimos o perdão dos pecados.

Quão necessária, providencial e salvadora a advertência de sermos pecadores, e obrigados a rogar a Deus pelos pecados! Porque, quando recorre à indulgência de Deus, a alma se lembra de sua condição. Para que ninguém esteja contente consigo, como se fosse inocente e pela soberba se perca mais completamente, quando se lhe ordena pedir todos os dias perdão pelos pecados, cada um toma consciência de que diariamente peca.

Assim também João, em sua carta, nos adverte: Se dissermos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos e a verdade não estará em nós. Se porém confessarmos nossas culpas, o Senhor, justo e fiel, perdoar-nos-á os pecados. Em sua carta reuniu as duas coisas: o dever de rogar pelos pecados e, rogando, suplicar a indulgência. Por isso diz que o Senhor é fiel, mantendo a sua promessa de perdoar as culpas, pois quem nos ensinou a orar por nossas dívidas e pecados também prometeu, logo em seguida, a misericórdia paterna e o perdão.

DÉCIMO PRIMEIRO DOMINGO DO TEMPO COMUM – Ano A (P. Lucas, scj)

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Ícone - Jesus e os 12

Caros irmãos, retomando o Tempo Comum neste ano A, encontramos, na liturgia deste décimo primeiro domingo, Jesus que, compadecido das multidões, escolhe e envia os Doze (cf. Mt 9,36-10,8). Peçamos ao Senhor que nos faça operários de Sua messe.

No início do evangelho de hoje, nosso Senhor se compadece das multidões porque elas “estavam cansadas e abatidas, como ovelhas que não têm pastor” (Mt 9,36). Creio que a situação das multidões de hoje não é muito diferente: a falta de referências e crise dos valores e das instituições fundamentais que nos assolam (muito antes da grande crise atual) se manifesta, entre outros, na falta de sentido para a vida que desestrutura e adoece muitas pessoas. E sendo o sentido sempre transcendente, ou seja, é sempre outro, vemos muita gente cansada e abatida ou por se ter confiado a falsos mestres ou por tentar sufocar sua sede interior através de subterfúgios.

Porém, o verdadeiro e último sentido se apresenta como um dom imerecido: “a prova de que Deus nos ama é que Cristo morreu por nós, quando éramos ainda pecadores” (Rm 5,8 – segunda leitura). Jesus deu sua vida por mim e por você e este é o mais eloquente sinal da presença, da eternidade e da potência daquele Amor que é capaz de transformar e iluminar nossa vida sobre a terra [1]. Este dom precisa ser acolhido, correspondido e transmitido: acolhido, porque sempre está presente a tentação de querer merecê-lo; correspondido porque amor com amor se paga.

Precisa ainda ser transmitido, anunciado e testemunhado, porque só Ele é capaz de nos fazer plenamente humanos, livres e responsáveis, na construção de nossa história e da nossa sociedade provisória rumo à eterna pátria. Por isso, anunciemos o Evangelho! Sem trascurar a acolhida e a correspondência pessoal ao Amor de Deus, tal anúncio é o elo daquela corrente de esperança que, brotando do Coração de Cristo aberto na cruz, chega até nós e deve continuar até a Sua volta. Assim, seja qual for nosso estado de vida, é nossa tarefa transmitir a fé, criando oportunidades para que o Ressuscitado manifeste Sua presença e Seu amor a todos – de modo particular, dentro de nossas casas, de pai para filho.

Que a bem-aventurada e sempre virgem Maria, nossa mãe, e S. José, seu castíssimo esposo, nos sustentem com sua intercessão.

Sub tuum præsidium confugimus.
sancta Dei Genitrix:
nostras deprecationes
ne despicias in necessitatibus:
sed a periculis cunctis libera nos semper,
Virgo gloriosa et benedicta.

 

[1] Nunca vou me cansar de recordar a todos o n. 1 da encíclica Deus caritas est do Papa Bento XVI: “Nós cremos no amor de Deusdeste modo pode o cristão exprimir a opção fundamental da sua vida. Ao início do ser cristão, não há uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo”.

XI Domingo Tempo Comum: Mt 9,36-10,8 – Muito trabalho porque poucos trabalham

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Por Dom André Vital Félix da Silva, SCJ.

A perícope evangélica deste Domingo nos faz refletir sobre a nossa missão de cristãos no mundo, isto é, as consequências práticas da nossa adesão ao Evangelho, seguindo os passos de Jesus. O evangelho de hoje não nos coloca apenas diante de um apelo vocacional, mas a Palavra de Jesus, se acolhida com coragem e honestidade, favorecer-nos-á um verdadeiro ato penitencial: o reconhecimento de que, mesmo aceitando ser trabalhadores na colheita do Senhor, ainda trabalhamos pouco, pois há muitas ovelhas sem pastor. Por outro lado, não podemos negar o cansaço do nosso muito fazer; contudo, mais do que por esforço nosso, o Reino se difunde à medida que testemunhamos com convicção o que Deus faz em nosso favor: Ele é o Senhor da vida, que nos é “dada de graça e que de graça devemos dar”.

A expressão usada por Mateus para traduzir a reação de Jesus diante das multidões, “Compadeceu-se delas”, não significa apenas uma constatação ou uma sensibilidade afetiva frente a uma situação calamitosa, mas indica uma tomada de decisão que implica atitudes concretas. Diante de um povo (cansado e abatido), o Mestre Jesus não tem apenas palavras bonitas de consolo e resignação, mas propõe um modo de ser que provoca mudanças existenciais e abre um caminho de verdadeira transformação de mentalidades e atitudes, o que tornará possível a colheita abundante dos frutos do Reino que Ele mesmo anunciou com suas palavras e implantou com sua vida, assumida com coerência até os extremos: entregando-se pelas suas ovelhas. “Compadecer-se” em grego (splanchnidzo) traduz o “ser misericordioso” do hebraico (raham), portanto, é uma reação mais do que afetiva ou sentimental, é um movimento visceral, como o sentimento da mulher que tem no seu ventre a vida em gestação e, por isso, a envolve com carinho e cuidado, e quando ameaçada, é capaz de se sacrificar por ela, a fim de que não morra.

Destarte, Jesus não faz apenas constatação de uma situação deplorável, mas é tocado interiormente diante do dom mais precioso do Pai que se encontra em risco, por causa do descuido e negligência daqueles que receberam a nobre missão de serem os cuidadores dela: os pastores de Israel.

Ao reconhecer as multidões “cansadas e abatidas”, Jesus evidencia as causas de tal situação: “como ovelhas sem pastor”. Os termos gregos traduzidos por “cansadas” e “abatidas” têm uma gama de outros significados, que ajudam a perceber o alcance da denúncia que Jesus faz em relação aos pastores infiéis (pode-se entrever nesse contexto a contundente crítica de Ez 34). As ovelhas estão “cansadas e abatidas” porque foram abandonadas por seus pastores; não são apenas ovelhas que se desgarraram e se perderam, mas foram deliberadamente deixadas de lado; depois de terem sido exploradas, foram descartadas. Em grego “cansadas” (eskulmévoi) vem do verbo skúllo que significa literalmente “esfolar”, “tirar a pele”. Enquanto que “abatidas” vem do verbo ripto que significa “jogar no chão”, “dar coice”, “espezinhar”. Portanto, mais do que uma situação de cansaço físico ou psicológico, Jesus denuncia que o rebanho de Deus está sendo aviltado na sua dignidade e entregue à morte. Por isso, coloca-se como o verdadeiro e bom Pastor, enviado pelo Pai para recuperar a vida e a dignidade de suas ovelhas, o seu novo povo que será conduzido pelos pastores segundo o coração do próprio Senhor: “Dar-vos-ei pastores segundo o meu coração” (Jr 3,15).

A escolha dos 12 discípulos representa a atitude mais concreta de Jesus diante das necessidades daquelas multidões. Através dos 12 discípulos, uma referência simbólica às raízes do Povo de Israel, Jesus continua a sua missão, pois concede-lhes plenos poderes para realizar o que Ele mesmo fazia “percorria todas as cidades e aldeias, ensinando nas sinagogas e pregando o Evangelho do Reino, enquanto curava toda sorte de doenças e enfermidades” (Mt 9,35).

Elegendo os 12 discípulos, Jesus constitui pastores para aquelas multidões cansadas e abatidas. Contudo, para não recaírem na mesma infidelidade dos antigos pastores, os discípulos devem crescer na consciência de três aspectos fundamentais da sua vocação-missão:

 

  1. 1. A vocação deles é uma resposta do Pai à oração da comunidade, portanto, não são meros funcionários, contratados para uma atividade, em vista de recompensas materiais ou privilégios;
  1. A vocação deles, uma vez gerada pela oração, não poderá subsistir sem a oração, isto é, sem a comunhão com Jesus, por isso o Mestre os chamou para perto de si (pros-kalesámevos: “chamados a si”, Mt 10,1);
  2. A vocação deles é um dom e, por isso, tudo o que fizerem (missão) deve testemunhar esta verdade: “De graça recebeste, de graça deveis dar”.

 

Ao elencar cada um dos 12 discípulos, Mateus não está fazendo uma lista de chamada, mas indicando que a missão se realiza com a colaboração de pessoas concretas, no horizonte da história com suas vicissitudes, e que mesmo a vocação sendo um dom do Pai, ela não tira a responsabilidade e liberdade de quem foi chamado. Esta lista não remonta a curriculum vitae aperfeiçoado ou maquiado, capaz de garantir a contratação num posto de trabalho, mas descortina a realidade concreta de cada um dos 12 discípulos de ontem e de sempre, condição fundamental para ser vocacionado, pois reconhece um longo caminho a ser feito. Estar incluído na lista não significa ser fiel ao chamado nem garante colaboração na colheita. Há quem, apesar de suas limitações, resistências, negações momentâneas, deixa-se orientar pelo Mestre e é confirmado na missão (os 11), mas há também quem está na lista e recebeu todas as condições para a missão, mas optou por arrancar a pele das ovelhas, explorá-las ao máximo e abandoná-las, tornando-se traidor do Pastor e do rebanho (Judas).

 

Fonte: https://www.dehonianosbre.org.br/homilias/xi-domingo-tempo-comum–mt-9-36-10-8–muito-trabalho-porque-poucos-trabalham

 

Solenidade do Corpo e Sangue de Cristo Eucaristia: Jo 6,51-58 – Comida e bebida para quem crê

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Por Dom André Vital Félix da Silva, SCJ.

A Solenidade do Corpo e Sangue de Cristo reafirma a centralidade do Mistério Pascal celebrado na Eucaristia, que cotidianamente alimenta a Igreja na sua peregrinação rumo ao banquete eterno. Para além de motivações apologéticas ou devocionais, a Liturgia de hoje nos convida a mergulhar no Mistério de um Deus, que por amor, se faz presente no meio do seu povo para alimentá-lo, a fim de que não desfaleça no caminho.

Na primeira leitura (Dt 8,2-3.14-16), a narração da experiência do povo que, na sua estrada rumo à Terra Prometida, passa pela humilhação de não ter o que comer e beber, serve de ocasião para a manifestação da bondade e misericórdia de Deus, que mesmo permitindo que o povo passe por momentos de privação e sofrimento, manifesta-lhe a sua presença providente e não o abandona, pois é Ele mesmo quem vai à sua frente conduzindo-o e alimentando-o. Contudo, o alimento indispensável ao povo, para que não desfaleça no caminho, não é pão e água, mas a Palavra do Senhor, pois é ela que vai mostrando-lhe onde encontrar a verdadeira fonte de vida. O maná descido do céu e a água que brotou da rocha nada mais são do que o sinal visível da providência de Deus, contudo, não são o sustento definitivo.

Na segunda leitura (1Cor 10,16-17), Paulo nos recorda que a Eucaristia não é simplesmente um encontro circular e horizontal para favorecer uma partilha de coisas nossas, daquilo que vivemos, pensamos, sentimos e almejamos, caso contrário, sairíamos dela certamente mais frustrados ou alienados. Mas a Eucaristia é comunhão com o Corpo e o Sangue de Cristo, e, por isso, mergulhamos na sua vida, morte e ressurreição, a fim de crescermos na convicção de sua vitória, penhor da nossa vida plena. Rompendo a circularidade fechada e estéril, a Eucaristia nos lança numa verticalidade infinita, pois nos faz testemunhar o grande milagre: o céu toca a terra, o Eterno entra na história dos homens, assumindo sua carne e seu sangue, para que esses mergulhem na eternidade de Deus e sejam saciados plenamente por Ele e Nele.

No evangelho (Jo 6,51-58), encontramos um pequeno trecho do longo discurso de Jesus sobre o Pão da Vida. Após o sinal da multiplicação dos pães e dos peixes (Jo 6,1-15), Jesus atravessa o Mar da Galileia, e lá em Cafarnaum encontra as multidões que vêm ao seu encontro mais desejosas de alimento material do que alimentar-se com a presença do Filho de Deus, Aquele que quer oferecer o pão que não perece, mas que dá vida eterna (Jo 6,24s). Ainda que haja em muito ambientes, sobretudo acadêmicos e adeptos de uma hermenêutica bíblico-teológica racionalista, a tentação de querer reduzir esse ensinamento de Jesus apenas ao seu aspecto simbólico, metafórico, negando-lhe o seu realismo como se apresenta, é importante acolher com humildade a verdade revelada que nessa linguagem está presente. Se estivéssemos apenas diante de uma linguagem, cujo objetivo principal fosse a compreensão de um auditório, certamente as reações não teriam sido como aquelas registradas no evangelho.

Quando Jesus afirmou ser a Água Viva (Jo 4), a Luz do mundo (Jo 8,12), o Bom Pastor e a Porta das ovelhas (Jo 10), o Caminho, a Verdade e a Vida (Jo 14), a Videira Verdadeira (Jo 15), não encontramos nenhuma reação tão de oposição dos seus interlocutores como o foi ao proclamar: “Eu sou o Pão da Vida”; a começar pelos judeus: “Como é que ele pode dar a sua carne a comer?”. A reação contrária vai se agravando ao ponto de, no final do ensinamento de Jesus, até mesmo os seus discípulos reagirem escandalizados pois percebem o realismo das suas palavras e não apenas um recurso de linguagem: “Esta palavra é dura! Quem pode escutá-la?” (Jo 6,60). Se fosse simplesmente questão de linguagem, Jesus como Mestre saberia muito bem, de forma didática, reformular o seu ensinamento. Portanto, não era uma questão de linguagem, mas o escândalo se deu por causa da verdade anunciada por Jesus. O decisivo agora para continuar com Jesus era crerem nessa verdade, ainda que não fossem capazes de compreendê-la. Por isso, Jesus denuncia: “Alguns de vós porém não creem” (Jo 6,64). E se a palavra sobre o realismo da entrega de seu corpo e sangue como alimento e bebida para vida do mundo foi dura, diante das reações de rejeição, Jesus recrudesce ainda mais o seu ensinamento: “Não quereis também partir?”.

Quantos diante da incapacidade de compreender como é possível um simples pão e um pouco de vinho derramado no cálice, ao serem eucaristizados, por ordem expressa de Jesus, se tornarem verdadeiramente o seu Corpo e Sangue (e não apenas de forma simbólica), decidiram ir embora? Quantos, enganados pela sua pretensa capacidade de poder compreender e explicar os mistérios de Deus, e não conseguindo colocar tão imenso Mistério na sua pequena e medíocre mente, rejeitam acreditar Nele, cuja exigência para ser alimento é apenas ser acolhido na fé por um coração pobre e humilde?

A Eucaristia é um mistério tão sublime e inefável, pois é amor, que a nossa existência aqui na terra, por mais longa que seja, não tem tempo suficiente para compreendê-la, por isso só há um caminho para aproximar-nos dela: crendo!

Portanto, não nos cansemos, apesar de nossas perguntas e incompreensão, de confessar como Pedro: “Senhor, a quem iremos? Tu tens palavras de vida eterna e nós cremos e reconhecemos que és o Santo de Deus” (Jo 6,68-69).

 

Fonte: https://www.dehonianosbre.org.br/homilias/solenidade-do-corpo-e-sangue-de-cristo-eucaristia–jo-6-51-58–comida-e-bebida-para-quem-cre

A TRAVESSIA DO JORDÃO

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battesimo

Das Homilias sobre o Livro de Josué, de Orígenes, presbítero.

No Jordão, a arca da aliança era o guia do povo de Deus. A fileira dos sacerdotes e levitas para, e as águas, como que em reverência aos ministros de Deus, refreiam seu curso e amontoam-se abrindo caminho livre para o povo de Deus. Não te admires de que estes fatos, acontecidos com o povo antigo, se refiram a ti, cristão, que pelo sacramento do batismo atravessaste o rio Jordão. A palavra divina te promete coisas ainda maiores e mais elevadas: oferece-te mesmo a travessia pelos ares. Escuta o que Paulo diz acerca dos justos: Seremos arrebatados nas nuvens, ao encontro de Cristo nos ares, e assim estaremos com o Senhor para sempre. Não há nada que amedronte o justo. Todas as criaturas o servem. Ouve ainda como pelo Profeta Deus lhe promete: Se passares pelo fogo, a chama não te queimará, porque eu sou o Senhor, teu Deus. Todo lugar acolhe o justo e toda criatura lhe presta o devido serviço. E não julgues que estas coisas se deram antigamente e que em ti, que as escutas, nada de semelhante acontece. Todas se perfazem em ti de modo místico. De fato, tu que, abandonando há pouco as trevas da idolatria, desejas aproximar-te da lei divina, deixas primeiro o Egito.

Quando te inscreveste no número dos catecúmenos e começaste a obedecer aos preceitos da Igreja, atravessaste o mar Vermelho. Assim, levado às paradas do deserto, tu te entregas diariamente à audição da lei divina e à contemplação do rosto de Moisés, com o véu já retirado pela glória do Senhor. Se depois te achegares à fonte do místico batismo e, na presença dos sacerdotes e levitas, fores iniciado naqueles veneráveis e magníficos mistérios conhecidos por aqueles a quem de direito, então depois de ter atravessado o Jordão, também pelo ministério sacerdotal, entrarás na terra prometida. Nesta, depois de Moisés, acolher-te-á Jesus e ele próprio se fará teu guia na nova caminhada.

Tu, porém, lembrado de tantas e tão grandes maravilhas de Deus, como o mar que se dividiu para ti e a água do rio que parou diante de ti, voltado para eles dirás: Que houve, ó mar, que fugiste? e tu, Jordão, que voltaste para trás? Montes, por que saltais como cabritos e as colinas como cordeirinhos? A palavra divina responderá: Diante da face do Senhor abalou-se a terra, diante da face do Deus de Jacó, que muda a pedra em lago e o rochedo em fontes de água.

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