Feliz Páscoa a todos! Cheios de alegria pascal reencontramo-nos para aprofundarmos nossa fé no Cristo Ressuscitado.
Seguindo nosso estudo sobre os mistérios da vida de Nosso Senhor Jesus Cristo, voltamo-nos para os mistérios de sua vida pública. Isto porque, confirmando o que meditamos na semana anterior, “toda a vida de Cristo foi um contínuo ensinamento” [1]. E embora a atividade pública de Jesus esteja restringida a um período curto de sua vida, o fato desta ser tomada como conteúdo central dos Evangelhos indica que ela tem muito a nos ensinar sobre Cristo e, consequentemente, sobre o ser cristão.
Não temos tempo hábil para olharmos com pormenores para todos os atos de Jesus. Todavia, nos voltamos, em unidade com o Catecismo, para os grandes momentos de sua vida pública que se inicia com seu Batismo, nas águas do rio Jordão, por São João Batista.
Se por um lado o Batismo se situa na história como o início do anúncio de Jesus, por outro se apresenta como uma importante baliza para compreendermos sua verdadeira missão. O batismo pregado por São João era “de conversão para o perdão dos pecados” (Lc 3,3). Quando Jesus, o Filho de Deus, homem “à nossa semelhança, sem todavia pecar” (Hb 4,15) se aproxima para ser batizado, está já naquele momento deixando-se ser contado entre os pecadores. Imergindo e reaparecendo nas águas do rio Jordão, já acena para sua Páscoa: “o batismo é a aceitação da morte pelos pecados da humanidade, e a voz do batismo é já um chamado de atenção para a ressureição” [2]. E esse fato, que é mistério da vida de Cristo, acaba por se tornar também mistério em nossas vidas, como ensina São Gregório Nazianzeno: “Sepultemo-nos com Cristo pelo Batismo, para ressuscitar com Ele” [3].
Também as tentações de Jesus no deserto tornam-se mistério para nossas vidas ao mostrar que todo batizado tem de encarar a realidade da tentação. Mas longe de ser uma notícia ruim, este mistério mostra como, em Cristo, podemos resistir ao Demônio, príncipe deste mundo. E as tentações mostram-nos ainda de que forma Jesus é Messias: “o oposto do que lhe propõe Satanás e que os homens desejam atribuir-lhe” [4]. Ao desprezar o pão, o poder e a riqueza, Jesus deixa claro que Ele não vem até nós para fazer com que esse mundo seja melhor. Sobre isso ensina o Papa Emérito Bento XVI em um dos seus livros:
“O que é que Ele [Jesus] trouxe? E a resposta é dada de um modo muito simples: Deus. Ele nos trouxe Deus” [5].
Quando entendemos que Jesus veio nos trazer Ele mesmo, compreendemos o que Ele diz ao afirmar que “o Reino de Deus está próximo” (Mc 1,15). Como nos diz novamente o Papa Emérito Bento XVI, citando Orígenes: “Jesus mesmo é o ‘Reino’; o Reino não é uma coisa, não é um espaço de domínio como um reino no mundo. É pessoa: o reino é Ele” [6].
E o Reino de Deus pertence aos pobres e aos pequeninos verdadeiramente. Ao viver uma vida pobre, Jesus se une aos que sofrem da pobreza material e de suas mazelas. Cristo, o “Bom Samaritano”, se compadece de todos aqueles que sofrem. Mas como lembra o Catecismo, Ele “identifica-se com os pobres de todos os tipos” [7], incluindo aí os “pobres em espírito”, isto é, os pecadores. E aqui cada um de nós, pecadores que somos, nos unimos mais uma vez aos mistérios da vida de Cristo.
Para propagar o Reino de Deus, ou seja, a si mesmo, Cristo estabelece os doze Apóstolos. São eles que, chefiados por São Pedro, o primeiro Papa, dão início à Igreja de Cristo que é aqui nesta terra “o germe e o começo do Reino de Deus” [8]. Germe do Reino enquanto Igreja Militante, isto é, visível aqui na terra. Mas plenitude do Reino enquanto Igreja Triunfante que, com os anjos e santos nos Céus, já é inteiramente unida a Cristo, constituindo-se como seu Corpo (Cf. 1Cor 12,27).
É esta Igreja, Católica Apostólica Romana, que nos acolhe e nos apresenta o amor de Deus que se manifesta na vinda de Cristo. É ela que nos cumula de alegria ao lembrar que Cristo veio para “libertar os homens da mais grave das escravidões, a do pecado” [9].
Sabemos que as fraquezas e fracassos dessa nossa vida passageira muitas vezes nos desanimam e fazer perder a Esperança. Mas também aí podemos aprender com os mistérios da vida de Cristo. Pois o mesmo Cristo que pareceria derrotado na Cruz, mostrou, na sua Transfiguração, um pouco de sua Glória Divina. Deixou claro que era Filho de Deus, mas que por sua livre vontade, caminharia para Jerusalém para enfrentar a morte e nos salvar. Olhando para seu exemplo, lembramos que “é necessário passar por muitos sofrimentos para entrar no Reino de Deus” (At 14, 22).
Que a Santíssima Virgem Maria nos auxilie a vivermos nossa vida pautada na de seu Filho para que, depois da cruz, possamos com Ele ressuscitar para uma vida nova.
[1] CEC (Catecismo da Igreja Católica), n. 561.
[2] RATZINGER, J. Jesus de Nazaré. São Paulo: Planeta, 2007, p. 34.
[3] CEC, n. 537.
[4] CEC, n. 540.
[5] RATZINGER, J. Jesus de Nazaré. São Paulo: Planeta, 2007, p. 54.
[6] RATZINGER, J. Jesus de Nazaré. São Paulo: Planeta, 2007, p. 59.
[7] CEC, n. 544.
[8] Lumen Gentium, n. 5.
[9] CEC, n. 549.