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SOLENIDADE DE PENTECOSTES – P. Lucas, scj

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Pentecoste

Caros irmãos, o Tempo Pascal chega a seu fim e a Páscoa de Cristo se completa com o mistério de Pentecostes que celebramos neste domingo. A liturgia desta solenidade nos propõe, então, a manifestação do Ressuscitado aos Doze, na qual Jesus sopra sobre eles e diz “recebei o Espírito Santo” (cf. Jo 20,19-23). Roguemos, com confiança, a nosso Senhor que renove em nós a graça que recebemos no Batismo e na Confirmação.

Celebrar Pentecostes não é recordar um acontecimento passado, mas dar-se conta de uma realidade presente. Diz nosso Catecismo: “Pela sua vinda, que não cessará jamais, o Espírito Santo faz entrar o mundo nos «últimos tempos», no tempo da Igreja, no Reino já herdado mas ainda não consumado” [1]. Ou seja, celebramos hoje um dom permanente: o Paráclito vem sempre a nós. De fato, sendo o Espírito a alma da Igreja, se Sua vinda cessasse em algum momento, ela se tornaria como um corpo morto, um cadáver. Mas, como Corpo místico de Cristo, ela é viva e sempre jovem, animada pela potência de tão magnífico dom. E nós somos parte desse corpo.

Este divino dom nos é dado no Batismo, cuja graça é aperfeiçoada e consumada pela Confirmação. Dessa forma, a vinda do Espírito Santo a nós também é contínuo. Isso significa que a graça desses sacramentos não se restringe a momentos particulares da nossa vida, mas, sim, nos dá a permanente presença e ação de Deus. Por isso, o Espírito é chamado “doce Hóspede da alma”: habitando em nós, Ele nos dá a vida divina e nos coloca em comunhão com Cristo, por quem e em quem glorificamos o Pai. Busquemos, então, corresponder ao dom de Deus renovando esta graça através da confissão sincera, da oração frequente e da piedosa comunhão eucarística.

Que a bem-aventurada e sempre virgem Maria e S. José, seu castíssimo esposo, intercedam por nós a fim de que vivamos permanentemente como Cenáculos.

 

Regina Cæli, lætare, alleluia;
Quia quem meruisti portare, alleluia;
Resurrexit, sicut dixit, alleluia;
Ora pro nobis Deum, alleluia.

 

[1] Catecismo da Igreja Católica, n. 732 (destaque nosso).

Solenidade de Pentecostes: Jo 20,19-23 – Pentecostes: o parto da Igreja

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Por Dom André Vital Félix da Silva, SCJ.

A Solenidade de Pentecostes marca profundamente a vida da Igreja pois representa o elo entre os dois momentos fundamentais e inseparáveis da sua história. Se durante a vida pública de Jesus a Igreja foi gerada pela força da sua palavra, os discípulos foram chamados a estar com Ele e serem enviados em missão, o primado de Pedro foi anunciado, e inauguravam-se os sacramentos do Batismo e da Eucaristia, o Pentecostes representa o momento do parto da Igreja, uma Igreja que vem à luz, pela força do Espírito Santo, para ser também ela luz para o mundo.

A Igreja enquanto peregrina nesse mundo, vive a tensão entre o ser gerada e o vir à luz. Os cinquenta dias do tempo da Páscoa condessam, de modo mistagógico e didático na liturgia, essa experiência permanente da comunidade do Crucificado que está vivo. Na festa da Ascensão do Senhor ouvimos que Jesus passou 40 dias com os discípulos, instruindo-os sobre o Reino de Deus (cf. At 1,3), a fim de que revestidos pela força do alto partissem do útero onde foram gerados para o mundo ao qual iriam ser enviados.

O evangelho de hoje nos apresenta esse necessário e difícil momento de parto da comunidade. Estamos no primeiro dia da semana, o dia da ressurreição do Senhor, mas é noite e as portas estão trancadas.  Talvez para os discípulos, encerrados naquela casa e protegidos de tudo aquilo que poderia representar perigo externo, permanecer ali seria a situação mais confortável. Se fosse possível perguntar a uma criança que se encontra ainda no ventre da mãe, bem acomodada ao seu pequeno mundo onde foi gerada e onde encontra toda a segurança, se ela desejaria sair dali, certamente a resposta seria negativa. Ainda que permanecesse na escuridão do interior da barriga da mãe, por não conhecer a luz, preferiria viver ali para sempre. Assim também a Igreja que se acomoda à vida ad intra, acomodada ao seu útero, onde recebe o necessário para a sua subsistência, mas está privada de um horizonte que se descortina apenas quando acontece o parto, quando vem à luz para realizar a sua missão de luz do mundo.

Ao anoitecer daquele primeiro dia, Jesus não entrou apenas num lugar físico onde os discípulos estavam, mas penetrou no útero onde a Igreja que ele gerou, aguardava o momento do parto, cujos trabalhos já se iniciaram com a sua morte e ressurreição; rompendo as barreiras do medo e da incredulidade, provoca o nascimento daqueles que Ele gerara com amor aos extremos (cf. Jo 13,1s). Tendo atravessado os momentos de angústia e sofrimento, próprios da mulher que estar para dar à luz (cf. Jo 16,21), o Ressuscitado anuncia que é hora de nascer, pois a paz foi alcançada: “A paz esteja conosco”. Mas se o parto provoca dor e sofrimento deixando marcas de sangue: “Mostrou-lhes as mãos e o lado”, dar a vida causa alegria indescritível e permanente: “Então os discípulos se alegraram por verem o Senhor”.

Contudo, essa alegria só será plena à medida que se abandona o útero e se entra no mundo para testemunhar a força da vida, que não pode ser destruída pela morte e, ao mesmo tempo, apontar para a fonte da vida, o Pai que garante essa vida em plenitude: “Como o Pai me enviou, eu também vos envio”.

Pois assim como tudo começou com o sopro de Deus, podemos dizer o primeiro parto da criação: “No princípio Deus criou o céu e a terra. A terra estava vazia e vaga, as trevas cobriam o abismo, e um sopro de Deus pairava sobre as águas” (Gn 1,1s). Agora, o segundo e definitivo parto da criação acontece com o mesmo sopro de Deus: “Soprou sobre eles e disse: Recebei o Espírito Santo”. Se das trevas primordiais tudo foi chamado à luz, a primeira criatura de Deus, na nova criação os seus primeiros filhos são chamados a sair da escuridão (o primeiro dia anoitecido) para o encontro com a luz que não se apaga, o Primogênito dos mortos, a luz que vindo ao mundo ilumina todo homem, pois é vida (Jo 1,9).

A celebração de Pentecostes não é festejar a Terceira Pessoa Divina, como se fosse um protetor paroquial, a quem damos louvores e prestamos homenagem. Celebrar Pentecostes é deixar-se conduzir à sala de parto pelo vento impetuoso, o Espírito que foi derramado em nossos corações, o Espírito que provoca o nascimento constante, impedindo aprisionamento a situações cômodas. O sopro divino rompe toda a passividade espiritualista e nos expulsa do útero da nossa autorrefencialidade, que nos atrofia e, consequentemente, nos aborta, e leva-nos para o mundo necessitado de luz, da verdade do evangelho que liberta e nos reconcilia com o Pai: “A quem perdoardes os pecados, eles lhes serão perdoados”; de modo misterioso, somos comprometidos  com a salvação do mundo: “A quem não perdoardes, eles lhes serão retidos”. Portanto, quem foi gerado pelo Espírito ou nasce ou é abortado, dentro do útero ninguém pode permanecer para sempre. O útero é fundamental para a vida ser gerada, mas torna-se pequeno para a vida alcançar sua plenitude. A missão será o grande testemunho de que Deus, de fato, nos gerou no seu Filho e nos fez vir à luz pelo seu Espírito.

 

Fonte: https://www.dehonianosbre.org.br/homilias/solenidade-de-pentecostes–jo-20-19-23–pentecostes–o-parto-da-igreja

A AÇÃO DO ESPÍRITO SANTO

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Do Tratado Sobre o Espírito Santo, de São Basílio Magno, bispo.

Qual o homem que, ao ouvir os nomes com os quais é designado o Espírito Santo, não eleva seu ânimo e o seu pensamento para a natureza divina? É chamado Espírito de Deus, Espírito da verdade que procede do Pai, Espírito de retidão, Espírito principal e, como nome próprio e peculiar, Espírito Santo.

Volta-se para ele o olhar de todos os que buscam a santificação; para ele tende a aspiração de todos os que vivem segundo a virtude; é o seu sopro que os revigora e reanima para atingirem o fim natural e próprio para que foram feitos.

Ele é fonte da santidade e luz da inteligência; é ele que dá, de si mesmo, uma certa Espírito Santo - Vaticanoiluminação à nossa razão natural para que encontre a verdade.

Inacessível por sua natureza, torna-se acessível por sua bondade. Enche tudo com o seu poder, mas comunica-se apenas aos que são dignos; não a todos na mesma medida, mas distribuindo os seus dons em proporção da fé. Simples na essência, múltiplo nas manifestações do seu poder, está presente por inteiro em cada um, sem deixar de estar todo em todo lugar. Reparte-se e não sofre diminuição. Todos dele participam e permanece íntegro, à semelhança dos raios do sol que fazem sentir a cada um a sua luz benéfica como se fosse para ele só, e contudo iluminam a terra e o mar e se difundem pelo espaço.

Assim é também o Espírito Santo: está presente em cada um dos que são capazes de recebê-lo, como se estivesse nele só, e, não obstante, dá a todos a totalidade da graça de que necessitam. Os que participam do Espírito recebem os seus dons na medida em que o permite a disposição de cada um, mas não na medida do poder do mesmo Espírito.

Por ele, os corações são elevados ao alto, os fracos são conduzidos pela mão, os que progridem na virtude chegam à perfeição. Ele ilumina os que foram purificados de toda mancha e torna-os espirituais pela comunhão consigo.

E como os corpos límpidos e transparentes, sob a ação da luz, se tornam também extraordinariamente brilhantes e irradiam um novo fulgor, da mesma forma também as almas que recebem o Espírito e são por ele iluminadas tornam-se espirituais e irradiam sobre os outros a graça que lhes foi dada.

Dele procede a previsão do futuro, a inteligência dos mistérios, a compreensão das coisas ocultas, a distribuição dos carismas, a participação na vida do céu, a companhia dos coros dos anjos. Dele nos vem a alegria sem fim, a união constante e a semelhança com Deus; dele procede, enfim, o bem mais sublime que se pode desejar: o homem é divinizado.

SOLENIDADE DA ASCENSÃO DO SENHOR (Ano A) – P. Lucas, scj

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Ascensão

Caros irmãos, neste domingo, celebramos a Solenidade da Ascensão do Senhor, transferida da última quinta-feira. Neste ano A, rezamos com o relato desse mistério segundo S. Mateus (cf. Mt 28,16-20). Peçamos a Jesus, nesta novena de Pentecostes, que nos dê coragem de abrir, ou melhor, escancarar, as portas do coração ao Espírito Santo.

Acontecimento histórico e transcendente, a Ascensão de Jesus, ou seja, a sua exaltação à glória do Pai, nos dá esperança recebermos a vida eterna e sempre feliz dos céus. Em outras palavras, como Igreja, Corpo de Cristo, podemos – e devemos – esperar chegar onde Ele, nossa Cabeça, nos precedeu, levando consigo nossa humanidade. Irmãos, é esta a esperança que não decepciona. Não buscamos um paraíso terrestre: vivemos aqui em terra estrangeira, em peregrinação, rumo à Pátria definitiva. Então, sursum corda! (Corações ao alto!) Voltemos nosso coração para Deus!

Concretamente, dirigir nosso coração a Deus significa ter fé e dela viver. Trata-se de um dom de Deus que vai muito além da simples aquisição de dados e conceitos: coloca-nos em comunhão com o Senhor, sempre presente (cf. Mt 28,20b), e faz de nós Igreja, levando-nos a confessar – por palavras e obras – a primazia de Jesus Cristo em nossas vidas. Em outras palavras, pela fé, o Espírito Santo nos leva a observar e ensinar observar tudo o que Jesus nos ordenou (cf. Mt 28,20a) e, pelos sacramentos, o mesmo Espírito nos insere na vida divina vivenciada aqui na dinâmica do já-e-ainda-não.

Que a intercessão da bem-aventurada e sempre virgem Maria, Rainha dos Céus, e de S. José, seu castíssimo esposo, fixem nossos olhos em Jesus e nossos corações onde se encontram as verdadeiras alegrias a fim de que, na instabilidade deste mundo, sejamos firmes na esperança que dá sentido e nos impulsiona a amar e servir.

Regina Cæli, lætare, alleluia;
Quia quem meruisti portare, alleluia;
Resurrexit, sicut dixit, alleluia;
Ora pro nobis Deum, alleluia.

 

Ascensão do Senhor: Mt 28,16-23 – O Mestre sempre presente

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Por Dom André Vital Félix da Silva, SCJ.

A Solenidade da Ascensão do Senhor nos coloca diante de um divisor de águas: a conclusão da missão de Jesus e o início da missão da comunidade do Ressuscitado. Contudo, não se pode falar de um ponto final para Jesus e uma estaca zero para os discípulos, pois tanto a missão de Jesus quanto a missão dos seus discípulos são a mesma, isto é, o anúncio do evangelho como convite à conversão e a implantação do Reino dos céus como prática da justiça. Tendo cumprido a sua missão com fidelidade até as últimas consequências, passando pela morte e ressureição, Jesus volta para o Pai, de quem recebeu “toda a autoridade no céu e na terra”, porém não se distancia e abandona os seus discípulos, mas pelo contrário, assegura-lhes sua permanente presença a fim de que eles sejam capazes de cumprir a missão recebida.

Mateus conclui o seu evangelho sintetizando tudo aquilo que Jesus fez e ensinou e, ao mesmo tempo, traça o perfil essencial da missão dos discípulos, ou seja, o que eles Ascensionetambém devem fazer e ensinar.

Assim como Jesus iniciou a sua missão vindo para a Galileia: “Ele voltou para a Galileia… Começou a pregar: ‘Convertei-vos, porque está próximo o Reino dos céus’” (Mt 4,17), do mesmo modo, os seus “discípulos caminharam para a Galileia”. Ir para a Galileia não significa apenas um deslocamento geográfico, mas a condição exigida para encontrar-se com Jesus, isto é, assumir a sua missão, refazer o seu caminho, estar disposto a seguir os seus passos até a cruz: “Quem quiser me seguir tome a sua cruz e me siga” (Mt 16,24). Jesus começando a sua missão na Galileia realiza aquilo que fora prometido no Antigo Testamento: “Galileia das nações! O povo que vivia nas trevas viu uma grande luz; aos que jaziam na região sombria da morte, surgiu uma luz” (Mt 4,16; cf. Is 8,23-9,1). Ao partir da Galileia, a periferia do mundo judaico, terra desprezada e considerada impura, Jesus anuncia a grande e verdadeira revolução que o evangelho propõe: a salvação universal de Deus dirigida a todos os povos, sem exclusividade, conforme a promessa feita a Abraão: “Em ti serão abençoadas todas as nações” (Gn 12,3).

Porém, apesar de consciente de ser povo escolhido, Israel descuidou-se da sua missão de luz para as nações e considerou-se povo exclusivo, tornando-se incapaz de conduzir os outros povos à fraternidade universal; perdeu a lucidez de que a sua missão não era proselitismo, isto é, transformar todos os povos em um só, mas a missão de Israel era de ser instrumento de Deus para que todos os povos fossem iluminados e descobrissem a sua vocação à vida plena. Jesus no evangelho de Mateus denuncia esse pecado de Israel: “Ninguém acende uma lâmpada para colocá-la debaixo da mesa, mas no candelabro e assim ela brilha para todos os que estão na casa” (Mt 5,15). Por isso, enviando os seus discípulos, Jesus anuncia-lhes que a missão não se restringe a um povo de privilegiados, mas deve se dirigir a todos sem exceção. A Igreja (ekklesia: chamada para fora) é essencialmente missionária, portadora de uma missão universal; perdendo essa sua dimensão fundamental, cai no perigo da autorreferencialidade, e deixa de cumprir a sua missão com fidelidade, renuncia a sua identidade e trai a sua missão.

Mateus faz questão de afirmar que o ponto de partida na Galileia é “o monte que Jesus lhes tinha indicado”. Não é apenas uma indicação topográfica, mas faz referência ao monte do grande ensinamento de Jesus: “Vendo as multidões, Jesus subiu ao monte. Ao sentar-se, aproximaram-se dele os seus discípulos. E pôs-se a falar e os ensinava, dizendo…” (Mt 5,1s). No dito “Sermão da Montanha” (Mt 5-7), Mateus condensa todo o ensinamento de Jesus; portanto, tudo o que os discípulos devem anunciar não pode ser diferente daquilo que aprenderam do Mestre. É significativo que, no fim do sermão da montanha, Mateus afirme: “Aconteceu que ao terminar Jesus estas palavras, as multidões ficaram extasiadas com o seu ensinamento, porque as ensinava com autoridade e não como os seus escribas” (Mt 7,28s). Portanto, com esta mesma autoridade, Jesus envia agora os seus discípulos: “Toda a autoridade me foi dada… Ide, pois, e fazei que todas as nações se tornem discípulos”.

A autoridade de Jesus se diferencia daquela dos mestres da Lei do seu tempo porque o seu ensinamento é corroborado pela coerência de suas atitudes. Apesar de serem autorizados legitimamente, os mestres da Lei não tinham autoridade moral junto ao povo, e foram denunciados pelo próprio Jesus: “Não imiteis as suas ações, pois dizem, mas não fazem” (Mt 23,3). Eles também percorriam o mar e a terra para fazer um prosélito, mas quando conseguiam conquistá-lo, o tornavam mais digno da geena do que eles próprios (cf. Mt 23,15s). Portanto, não basta apenas ir por todos os lados para conquistar pessoas para a religião, é preciso que o anúncio da boa notícia da salvação seja um testemunho mais eloquente do que as palavras e, consequentemente, desperte no coração das pessoas que encontrarmos o desejo de mergulhar na vida nova cuja fonte é o próprio Deus: “Batizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”.

Fazer discípulo não é conquistar clientes, convencendo-os a fidelizar-se pois garantirão vantagens e privilégios, mas o anúncio do evangelho como proposta de vida é, antes de tudo, compartilhar os valores fundamentais da vida a fim de que a justiça do Reino se realize e manifeste a salvação de Deus, que quer que todos conheçam a verdade e tenham vida em plenitude.

A missão do Ressuscitado, elevado aos céus, confiada aos seus discípulos de todos os tempos só se realiza quando não se perde a consciência de que ser discípulo Dele é estar em permanente aprendizado uma vez que o próprio Mestre prometeu: “Eis que estou convosco todos os dias até a consumação dos séculos”.

 

ORAÇÃO A SANTA MARGARIDA MARIA ALACOQUE

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Sta Margarida - Vaticano

De Angelo Card. Comastri, no centenário de sua canonização (13/05/2020)

 

Cara Santa Margarida Maria, por um dom da Misericórdia de Deus provastes a emoção de ver as feridas da Paixão de Jesus e dirigistes o olhar comovido ao Coração de Jesus ferido pela lança do soldado, mas sobretudo pela nossa ingratidão.

Tivestes a missão de afugentar nossa indiferença recordando-nos que um dia veremos, também nós, as feridas de Jesus e ouviremos sua sofrida reprovação: “Eis o Coração que tanto amou os homens e recebeu tanta, tanta e tanta ingratidão!”.

Santa Margarida Maria, rogai por nós! Torna-nos apóstolos do amor de Jesus, ajuda-nos a viver a primeira sexta-feira de cada mês como compromisso com Sua Misericórdia através de uma sincera Confissão e uma fervorosa Comunhão Eucarística.

O tempo da vida é tão breve! Roga por nós a fim que vivamos estes poucos anos com o desejo vivo de reparar à indiferença com qualquer migalha a mais do nosso amor em resposta ao infinito amor de Jesus. Amém.

HOMILIA DO PAPA JOÃO PAULO II NO INÍCIO DO SEU PONTIFICADO (22/10/1978)

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JPII

Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo! (Mt. 16, 16).

Estas palavras foram pronunciadas por Simão, filho de Jonas, na região de Cesareia de Filipe. Sim, ele exprimiu-as na sua própria língua, com uma profunda, vivida e sentida convicção; mas elas não tiveram nele a sua fonte, a sua nascente: .., porque não foram a carne nem o sangue quem to revelaram, mas o Meu Pai que está nos céus (Mt. 16, 17). Tais palavras eram palavras de Fé.

Elas assinalam o início da missão de Pedro na história da Salvação, na história do Povo de Deus. E a partir de então, de uma tal confissão de Fé, a história sagrada da Salvação e do Povo de Deus devia adquirir uma nova dimensão: exprimir-se na caminhada histórica da Igreja. Esta dimensão eclesial da história do Povo de Deus tem as suas origens, nasce efetivamente dessas palavras de Fé e está vinculada ao homem que as pronunciou, Pedro: Tu és Pedro — rocha, pedra — e sobre ti, como sobre uma pedra, Eu edificarei a Minha Igreja (Cfr. Mt. 16, 18).

Hoje e neste lugar é necessário que novamente sejam pronunciadas e ouvidas as mesmas palavras: Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo!

Sim, Irmãos e Filhos, antes de mais nada estas palavras.

O seu conteúdo desvela aos nossos olhos o mistério de Deus vivo, aquele mistério que o Filho veio colocar mais perto de nós. Ninguém como Ele, de facto, tornou o Deus vivo assim próximo dos homens e ninguém O revelou como o fez só Ele mesmo. No nosso conhecimento de Deus, no nosso caminhar para Deus, estamos totalmente dependentes do poder destas palavras: Quem me vê a Mim, vê também o Pai (Jo. 14, 9). Aquele que é infinito, imperscrutável e inefável veio para junto de nós em Jesus Cristo, o Filho unigénito, nascido de Maria Virgem no presépio de Belém.

Ó vós, todos os que já tendes a dita inestimável de crer; vós, todos os que ainda andais a buscar a Deus; e vós também, os atormentados pela dúvida:

—  procurai acolher uma vez mais —  hoje e neste local sagrado — as palavras pronunciadas por Simão Pedro. Naquelas mesmas palavras está a fé da Igreja; em tais palavras, ainda, encontra-se a verdade nova, ou melhor, a última e definitiva verdade —   sobre o homem: o filho de Deus vivo. — Tu és o Cristo, Filho de Deus vivo!

Hoje o novo Bispo de Roma inicia solenemente o seu ministério e a missão de Pedro. Nesta Cidade, de facto, Pedro desempenhou e realizou a missão que lhe foi confiada pelo Senhor. Alguma vez, o mesmo Senhor dirigiu-se a ele e disse-lhe: Quando eras mais jovem, tu próprio te cingias e andavas por onde querias; mas quando fores velho, estenderás as mãos e outro cingir-te-á e levar-te-á para onde tu não queres (Jo. 21, 18).

Pedro, depois, veio para Roma! E o que foi que o guiou e o conduziu para esta Urbe, o coração do Império Romano, senão a obediência à inspiração recebida do Senhor? — Talvez aquele pescador da Galileia não tivesse tido nunca vontade de vir até aqui; teria preferido, quiçá, permanecer lá onde estava, nas margens do lago de Genesaré, com a sua barca e com as suas redes. Mas, guiado pelo Senhor e obediente à sua inspiração, chegou até aqui.

Segundo uma antiga tradição (e, qual foi objeto de uma expressão literária magnífica num romance de Henryk Sienkiewicz), durante a perseguição de Nero, Pedro teria tido vontade de deixar Roma. Mas o Senhor interveio e teria vindo ao encontro dele. Pedro, então, dirigindo-se ao mesmo Senhor perguntou: “Quo vadis Domine? — Onde ides, Senhor?”. E o Senhor imediatamente lhe respondeu: “Vou para Roma, para ser crucificado pela segunda vez”. Pedro voltou então para Roma e aí permaneceu até à sua crucifixão.

Sim, Irmãos e Filhos, Roma é a Sede de Pedro. No decorrer dos séculos sucederam-se nesta Sede sempre novos Bispos. E hoje um outro novo Bispo sobe à Cátedra de Pedro, um Bispo cheio de trepidação e consciente da sua indignidade. E como não havia ele de trepidar perante a grandeza de tal chamamento e perante a missão universal desta Sede Romana?

Depois, passou a ocupar hoje a Sé de Pedro em Roma um Bispo que não é romano, um Bispo que é filho da Polónia. Mas, a partir deste momento também ele se torna romano. Sim, romano! Até porque é filho de uma nação cuja história, desde os seus alvores, e cujas tradições milenárias estão marcadas por um ligame vivo, forte, jamais interrompido, sentido e vivido com a Sé de Pedro, de uma nação que a esta mesma Sé de Roma permaneceu sempre fiel. Oh, como é insondável o desígnio da Divina Providência!

Nos séculos passados, quando o Sucessor de Pedro tomava posse da sua Sede, era colocado sobre a sua cabeça o símbolo do trirregno, a tiara papal. O último a ser assim coroado foi o Papa Paulo VI em 1963, o qual, porém, após o rito solene da coroação, nunca mais usou esse símbolo do trirregno, deixando aos seus sucessores a liberdade para decidirem a tal respeito.

O Papa João Paulo I, cuja memória está ainda tão viva nos nossos corações, houve por bem não querer o trirregno; e hoje igualmente o declina o seu Sucessor. Efetivamente, não é o tempo em que vivemos tempo para se retornar a um rito e àquilo que, talvez injustamente, foi considerado como símbolo do poder temporal dos Papas.

O nosso tempo convida-nos, impele-nos e obriga-nos a olhar para o Senhor e a imergir-nos numa humilde e devota meditação do mistério cio supremo poder do mesmo Cristo.

Aquele que nasceu da Virgem Maria, o filho do carpinteiro — como se considerava —, o Filho de Deus vivo — confessado por Pedro — veio para fazer de todos nós um reino de sacerdotes (Cfr. Ex. 19, 6).

O II Concílio do Vaticano recordou-nos o mistério de um tal poder e o facto de que a missão de Cristo — Sacerdote, Profeta, Mestre e Rei — continua na Igreja. Todos, todo o Povo de Deus é participe desta tríplice missão. E talvez que no passado se pusesse sobre a cabeça do Papa o trirregno, aquela tríplice coroa, para exprimir, mediante tal símbolo, o desígnio do Senhor sobre a sua Igreja; ou seja, que toda a ordem hierárquica da Igreja de Cristo, todo o seu “sagrado poder” que nela é exercitado mais não é do que o serviço, aquele serviço que tem como finalidade uma só coisa: que todo o Povo de Deus seja participe daquela tríplice missão de Cristo e que permaneça sempre sob a soberania do Senhor, a qual não tem as suas origens nas potências deste mundo, mas sim no Pai celeste e no mistério da Cruz e da Ressurreição.

O poder absoluto e ao mesmo tempo doce e suave do Senhor corresponde a quanto é o mais —   profundo do homem, às suas mais elevadas aspirações da inteligência, da vontade e do coração. Esse poder não fala com a linguagem da força, mas exprime-se na caridade e na verdade.

O novo Sucessor de Pedro na Sé de Roma, neste dia, eleva uma prece ardente, humilde e confiante: O Cristo! Fazei com que eu possa tornar-me e ser sempre servidor do Vosso único poder! Servidor do Vosso suave poder! Servidor do vosso poder que não conhece ocaso! Fazei com que eu possa ser um servo! Mais ainda: servo dos Vossos servos.

Irmãos e Irmãs: não tenhais medo de acolher Cristo e de aceitar o Seu poder! E ajudai o Papa e todos aqueles que querem servir a Cristo e, com o poder de Cristo, servir o homem e a humanidade inteira! Não, não tenhais medo! Antes, procurai abrir, melhor, escancarar as portas a Cristo! Ao Seu poder salvador abri os confins dos Estados, os sistemas económicos assim como os políticos, os vastos campos de cultura, de civilização e de progresso! Não tenhais medo! Cristo sabe bem “o que é que está dentro do homem”. Somente Ele o sabe!

Hoje em dia muito frequentemente o homem não sabe o que traz no interior de si mesmo, no profundo do seu ânimo e do seu coração, muito frequentemente se encontra incerto acerca do sentido da sua vida sobre esta terra. E sucede que é invadido pela dúvida que se transmuta em desespero. Permiti, pois — peço-vos e vo-lo imploro com humildade e com confiança — permiti a Cristo falar ao homem. Somente Ele tem palavras de vida; sim, de vida eterna.

Precisamente neste dia, a Igreja inteira celebra o seu “Dia Missionário Mundial”; ou seja, reza, medita e age a fim de que as palavras de vida de Cristo possam chegar a todos os homens e por eles sejam. acolhidas como mensagem de salvação, de esperança e de libertação total.

Quero agradecer a todos os presentes, que quiseram assim participar neste ato solene do início do ministério do novo Sucessor de Pedro.

Agradeço do coração aos Chefes de Estado, aos Representantes das Autoridades, às Delegações de Governos, pela sua presença que muito me honra.

Obrigado a Vós, Eminentíssimos Cardeais da Santa Igreja Romana!

Agradeço-vos, amados Irmãos no Episcopado!

Obrigado a vós, Sacerdotes!

A vós, Irmãs e Irmãos, Religiosas e Religiosos das várias Ordens e Congregações, obrigado!

Obrigado a vós, Romanos!

Obrigado aos peregrinos, vindos aqui de todo o mundo!

E obrigado a todos aqueles que estão unidos a este Rito Sagrado através da Rádio e da Televisão!

E agora (em polaco) dirijo-me a vós, meus queridos compatriotas, Peregrinos da Polónia: aos Irmãos Bispos, tendo à frente o vosso magnífico Primaz; e aos Sacerdotes, Irmãs e Irmãos das Congregações religiosas, polacos, como também a vós, representantes da “Polónia” do mundo todo:

E que vos direi a vós, os que viestes aqui da minha Cracóvia, da Sé de Santo Estanislau, de quem eu fui indigno sucessor durante catorze anos! Que vos direi? — Tudo aquilo que vos pudesse dizer seria pálido reflexo em confronto com quanto sente neste momento o meu coração e sentem igualmente os vossos corações. Deixemos de parte, portanto, as palavras. E que fique apenas o grande silêncio diante de Deus, o silêncio que se traduz em oração.

Peço-vos que estejais comigo! Em Jasna Gora e em toda a parte. Não deixeis nunca de estar com o Papa, que neste dia ora com as palavras do poeta: “Mãe de Deus defendei vós a Límpida Czestochowa e resplandecei na ‘Porta Aguda’!” (1). E as mesmas palavras eu as dirijo a vós, neste momento particular.

Fiz um apelo (em italiano) e um convite à oração pelo novo Papa, apelo que comecei a exprimir em língua polaca…

Com o mesmo apelo dirijo-me agora a vós, todos os filhos e todas as filhas da Igreja Católica. Lembrai-vos de mim, hoje e sempre, na vossa oração!

Aos católicos dos países de língua francesa (em francês), exprimo todo o meu afeto e toda a minha dedicação! E permito-me contar com o vosso amparo filial e sem reservas! Oxalá façais novos progressos na fé! Aqueles que não partilham esta fé, dirijo também a minha respeitosa e cordial saudação. Espero que os seus sentimentos de benevolência facilitarão a missão que me incumbe e que não deixa de ter reflexos sobre a felicidade e a paz do mundo!

A todos vós os que falais a língua inglesa (em inglês) envio, em nome de Cristo, uma cordial saudação. Conto com a ajuda das vossas orações e na vossa boa vontade, para levar avante a minha missão de serviço à Igreja e à humanidade. Que Cristo vos dê a Sua graça e a Sua paz, abatendo as barreiras da divisão e de tudo fazendo, n’Ele, uma só coisa.

Dirijo (em alemão) uma afetuosa saudação a todos os representantes dos povos dos países de língua alemã, aqui presentes. Diversas vezes, e ainda recentemente durante a minha visita à República Federal da Alemanha, tive ocasião de conhecer pessoalmente e de apreciar a benéfica atividade da Igreja e dos seus fiéis. Oxalá que o vosso compromisso e o vosso sacrifício por Cristo venham, também no futuro, a tornar-se fecundos para os grandes problemas e as preocupações da Igreja em todo o mundo. É isto o que vos peço, recomendando às vossas especiais orações o meu novo ministério apostólico.

O meu pensamento dirige-se agora para o mundo de língua espanhola (em espanhol), porção tão considerável da Igreja de Cristo. A vós, queridos Irmãos e Filhos, chegue neste momento solene a saudação afetuosa do novo Papa. Unidos pelos vínculos da comum fé católica, sede fiéis à vossa tradição cristã vivida num clima cada vez mais justo e solidário, mantende a vossa conhecida proximidade ao Vigário de Cristo e cultivai intensamente a devoção à nossa Mãe Maria Santíssima.

Irmãos e Filhos de língua portuguesa (em português): Como “servo dos servos de Deus”, eu vos saúdo afetuosamente no Senhor. Abençoando-vos, confio na caridade da vossa oração e na vossa fidelidade, para viverdes sempre a mensagem deste dia e deste rito: Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo!

Que o Senhor, na Sua misericórdia, nos acompanhe a todos com a Sua graça e com o Seu amor pelos homens (em russo).

Com afeto sincero saúdo e abençoo todos os Ucranianos e Rutenos no mundo (em ucraniano).

Do coração saúdo e abençoo os Checos e os Eslovacos, que me estão tão próximos (em língua eslovaca).

Os meus sinceros bons votos para os irmãos Lituanos (em lituano). Sede felizes e fiéis a Cristo.

Abro o coração a todos os Irmãos das Igrejas e das Comunidades Cristãs, saudando-vos (em italiano) em particular a vós, os que estais aqui presentes, na expectativa do próximo encontro pessoal; mas desde já vos quero expressar sincero apreço por haverdes querido assistir a este rito solene.

E quero ainda dirigir-me a todos os homens — a cada um dos homens (e com quanta veneração o apóstolo de Cristo deve pronunciar esta palavra, homem!):

— rezai por mim!

— ajudai-me, a fim de que eu vos possa servir!

Amém.

 

(1) A famosa porta da cidade de Vilna (outrora Polónia, hoje Lituânia) ao cimo da qual se encontra uma estátua de Nossa Senhora “Mãe de Misericórdia”, à qual todos os anos é dedicada uma festa particular no dia 16 de novembro.

SEXTO DOMINGO DO TEMPO PASCAL – P. Lucas, scj

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Caros irmãos, chegamos ao sexto domingo do Tempo Pascal e, assim, começamos nossa preparação imediata para celebrarmos a solenidade de Pentecostes. Por isso, no evangelho de hoje Jesus nos promete o envio de um Defensor, o Espírito da Verdade (cf. Jo 14,15-21). Rezemos, então, pedindo ao Senhor que derrame profusamente o Seu Espírito em nossos corações.

O contexto do texto evangélico de hoje continua o mesmo do domingo passado, ou seja, continuamos no discurso de Jesus que se segue à última ceia. Notemos que o Defensor prometido por Jesus é chamado “Espírito da Verdade” (Jo 14,17). O esplendor da Verdade Sermão da Montanhaé, de fato, a luz que ilumina nossa estrada para que, discernindo entre tantas propostas, possamos permanecer sempre no caminho da Vida, ou seja, em Cristo, nosso Senhor e Salvador. E é o Espírito Santo quem faz resplandecer em nós esta luz. Dessa forma, compreendemos que o amor à Verdade não é acessório, mas essencial, pois, em última análise, amar a Verdade é amar o próprio Jesus (cf. Jo 14,6 – evangelho do domingo passado).

Por outro lado, a mentira é sempre muito sedutora. No início, se mostra sempre cômoda e prazerosa. Porém, uma vez presos na sua teia, somos levados à escravidão e à destruição. É assim que os pecados vão nos levando, pouco a pouco, para longe de Deus até não percebermos nem mesmo que estamos fazendo mal a nós e àqueles que estão perto de nós. Não é à toa que o adversário é chamado o pai da mentira… Precisamos estar dispostos a pagar o preço de permanecer na verdade na certeza de que ela é sempre uma libertação.

O amor à Verdade tem ainda outro aspecto que se destaca na liturgia de hoje: estar prontos para dar razão da nossa esperança, com mansidão, respeito e boa consciência, a quem no-la pedir (cf. 1Pd 3,15-16 – segunda leitura). Não são poucas as dificuldades que temos de enfrentar para sermos, de fato, católicos. E como responder a cada uma delas se não estamos interessados em nos aprofundar na fé e crescer sempre mais? Assim, podemos hoje nos perguntar: como e onde temos buscado as respostas para as perguntas mais profundas da nossa existência? Como temos cultivado nossa vida interior para, assim, poder enfrentar as dificuldades do cotidiano? Como a mentira, vendedora de falsas facilidades e felicidades, tem entrado na nossa vida e impedido nosso progresso como cristãos?

Que a bem-aventurada e sempre virgem Maria e S. José, seu castíssimo esposo, nos ajudem a conhecer melhor e amar mais intensamente a Verdade que se fez carne, nosso Senhor Jesus Cristo.

Regina Cæli, lætare, alleluia;
Quia quem meruisti portare, alleluia;
Resurrexit, sicut dixit, alleluia;
Ora pro nobis Deum, alleluia.

 

VI Domingo da Páscoa: Jo 14,15-21 – Quem ama nunca abandona!

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Por Dom André Vital Félix da Silva, SCJ.

A partir deste VI Domingo entramos na fase conclusiva do Tempo Pascal, pois iniciamos a preparação mais imediata para a Solenidade de Pentecostes; por isso esse tom de despedida de Jesus. Porém, Jesus ao anunciar a sua ida para o Pai, não está dizendo que abandonará os seus discípulos: “Não vos deixarei órfãos” (grego: orfanos, destituído de pai, sem defesa natural). Mas pelo contrário, garante-lhes ainda mais forte e operante a sua presença através do Espírito Santo, o Espírito da verdade, que permanecendo nos discípulos, faz deles a morada de Deus no mundo. No domingo passado, o Mestre assegurava aos discípulos que na casa do Pai havia muitas moradas, porém para que os discípulos pudessem habitar para sempre na casa do Pai, era preciso que aqui na terra eles mesmos se tornassem as muitas moradas do Filho: “Naquele dia sabereis que eu estou no meu Pai e vós em mim e eu em vós”. Contudo, só o amor assegura a permanência de Jesus nos seus discípulos. E amar a Jesus é mais do que manifestar-lhe sentimentos; antes de tudo, é obedecer aos seus mandamentos: “Se me amais, Jesus e os discípulosguardareis os meus mandamentos”. O amor exige expressões concretas que tornem visíveis as suas raízes invisíveis.

Por outro lado, Jesus sabe que os seus discípulos de todos os tempos não são capazes de sozinhos perseverar na obediência aos seus mandamentos, por isso intercede por eles: “Eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro defensor, para que permaneça convosco”. A promessa de Jesus é o anúncio da vinda do Espírito Santo ao qual o Mestre chama de “outro defensor” (grego: paráklitos, derivado do verbo para-kaleo, chamar para perto, significando “aquele que vem para perto para defender”, o advogado, ad-vocatus, chamado para). Aqui não se deve entender o defensor apenas como aquele que se interpõe para garantir uma defesa física, impedindo ataques ou investidas que provoquem um mal material. Mas o “outro defensor” (paráklitos) é chamado de “Espírito da verdade”, pois a sua missão é conduzir os discípulos do Ressuscitado ao pleno conhecimento de Deus, a fim de que eles façam a experiência do verdadeiro amor, aquele que dá vida, e alcancem essa vida em abundância.

A presença do Espírito Santo no seio da comunidade do Ressuscitado e no coração de cada um de seus membros garante a principal defesa que impedirá a sua destruição, isto é, conservará a verdade revelada por Jesus. O Espírito Santo, o outro paráclito (junto para defender) abre a mente dos discípulos para enxergar a verdade que o mundo não pode suportar, pois esse prefere a mentira, isto é, o meio mais eficaz para aprisionar as pessoas, explorando-as ao máximo, de forma sutil e avassaladora, uma vez que escraviza as mentes, reforçando as suas correntes com sensações prazerosas, ainda que custe um alto preço, a dependência viciosa.

Conservar as pessoas na ignorância, não conhecedoras da verdade, fazendo-as crer e aderir a mentiras, é a condição fundamental para torná-las presas fáceis de todo tipo de dominação, sobretudo de ideologias materialistas que prometem a liberdade e a felicidade ao ser humano, mas exigindo-lhe um custo muito alto, isto é, destruindo a sua capacidade de crer, de ter esperança numa vida que não se esgota aqui e agora. Consequentemente, a ausência da verdade torna o ser humano um animal movido por instintos, egoísta e avarento.

O Espírito da verdade, o outro defensor, não é prometido para criar muralhas emocionais de enganadoras seguranças, mas vem para defender a verdadeira experiência religiosa, ou seja, conduzir o coração humano à sua mais genuína vocação, tornar-se morada de Deus, criando nele uma perspectiva de um dia habitar plenamente com Deus na sua morada. Por isso, o Espírito da verdade se opõe ao “pai da mentira”, o príncipe desse mundo (Jo 8,44; 15,26; 16,13) cujos filhos são denunciados por Jesus. Figuram em primeiro lugar como “filhos do pai da mentira” aqueles que se dizem religiosos, conhecedores da Lei, filhos de Abraão, mas não reconhecem a verdade, pois matam a vida, a começar pela condenação à morte do próprio Senhor da vida.

Mais adiante Jesus explicitará a missão do Espírito da verdade: “Ele arguirá (grego: elegxei, convencerá) o mundo a respeito do pecado, da justiça e do julgamento” (Jo 16,8). O pecado, por sua vez, é a incredulidade, o total fechamento do coração humano ao amor de Deus. A fé cristã não afirma apenas a existência de um Deus que exige ser reconhecido e adorado, mas a fé cristã implica acreditar que Deus ama incondicionalmente até quem não O ama. Portanto, quando alguém opta por uma vida egoísta, encerrada no seu horizonte estreito, onde não há lugar para a fraternidade, o amor ao próximo, torna-se incapaz de crer em Deus, pois sente-se o senhor absoluto de tudo, e, por conseguinte, não reconhece no outro um semelhante que deve ser acolhido como irmão, e amado como filho do mesmo Pai. O Espírito da verdade também evidenciará a justiça, esta é o cumprimento da vontade de Deus. Jesus é o verdadeiro filho de Deus porque realiza sempre a vontade do Pai. A sua volta para o Pai é a confirmação de que cumpriu plenamente a sua missão. Por fim, diz respeito à missão do Espírito da verdade consolidar nos discípulos a certeza de que: “O príncipe desse mundo está julgado” (Jo 16,11). Não há dúvida de quem ganhará a batalha. O cristão, ungido pelo Espírito da verdade, não se pergunta se vale a pena lutar contra o mal, contra as injustiças, e toda forma de morte, pois não sabe qual será o fim. Se por acaso, alguém que diz crer no amor de Deus tiver dúvida de quem vence, este já entrará no campo de batalha derrotado.

A perseverança na fé, através da vivência do amor, é a prova mais convincente de que não somos órfãos, temos um Pai que nos ama. Não estamos sozinhos, pois o amor não abandona, uma vez que estabelece morada permanente; essa é a verdade que o Filho revelou, essa é a verdade que em nós o Espírito conserva e defende.

 

Fonte: https://www.dehonianosbre.org.br/homilias/vi-domingo-da-pascoa–jo-14-15-21–quem-ama-nunca-abandona-

 

 

O PRIMOGÊNITO DA NOVA CRIAÇÃO

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Dos Sermões de São Gregório de Nissa, bispo.

Começou o reino da vida e foi dissolvido o império da morte. Apareceu um novo nascimento, uma vida nova, um novo modo de viver; a nossa própria natureza foi transformada. Que novo nascimento é este? É o daqueles que não nasceram do sangue nem da vontade da carne nem da vontade do homem, mas de Deus mesmo (Jo 1,13).

Tu perguntas: como isto pode acontecer? Escuta-me, vou te explicar em poucas palavras.

Este novo ser é concebido pela fé; é dado à luz pela regeneração do batismo; tem por mãe a Igreja que o amamenta com sua doutrina e tradições. Seu alimento é o pão celeste; sua idade adulta é a santidade; seu matrimônio é a familiaridade com a sabedoria; seus filhos são a esperança; sua casa é o reino; sua herança e riqueza são as delícias do paraíso; seu fim não é a morte, mas aquela vida feliz e eterna que está preparada para os que dela são dignos.

Este é o dia que o Senhor fez para nós (Sl 117,24), dia muito diferente daqueles que foram estabelecidos desde o início da criação do mundo e que são medidos pelo decurso do tempo. Este dia é o início de uma nova criação. Nele Deus faz um novo céu e uma nova terra, como diz o Profeta. Que céu é este? Seu firmamento é a fé em Cristo. E que terra é esta? O coração bom, de que fala o Senhor, é a terra que absorve a água das chuvas e produz frutos em abundância.

O sol desta nova criação é uma vida pura; as estrelas são as virtudes; a atmosfera é um comportamento digno; o mar é a profundidade da riqueza, da sabedoria e da ciência (Rm 11,33). As ervas e as sementes são a boa doutrina e a Escritura divina, onde o rebanho, isto é, o povo de Deus, encontra sua pastagem e alimento; as árvores frutíferas são a prática dos mandamentos.

Neste dia, o verdadeiro homem é criado à imagem e semelhança de Deus. Não é, porventura, um novo mundo que começa para ti neste dia que o Senhor fez? Não diz o Profeta que esse dia e essa noite não têm igual entre os outros dias e noites?

Mas ainda não explicamos o dom mais precioso que recebemos neste dia de graça. Ele destruiu  as dores da morte e deu à luz o primogênito dentre os mortos.

Subo para junto do meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus (Jo 20,17), diz o Senhor Jesus. Que notícia boa e maravilhosa! O Filho Unigênito de Deus, que por nós se fez homem, a fim de nos tornar seus irmãos, apresenta-se como homem diante de seu verdadeiro Pai, para levar consigo todos os novos membros da sua família.

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