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VIGÉSIMO SEGUNDO DOMINGO DO TEMPO COMUM – Ano B

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Caros irmãos, neste vigésimo segundo domingo do Tempo Comum, a liturgia nos propõe o trecho do evangelho segundo São Marcos no qual Jesus confronta os fariseus e os mestres da lei a respeito da Lei divina e do culto que devemos prestar a Deus (cf. Mc 7,1-8.14-15.21-23). Rezemos pedindo ao Senhor que nos dê a graça de ser verdadeiramente cristãos. Peçamos ainda por todos os catequistas a fim de que transmitam integralmente a fé da Igreja às novas gerações.

A reprimenda de Jesus aos seus interlocutores é grave. Com efeito, Ele diz: “este povo me honra com os lábios, mas seu coração está longe de mim. De nada adianta o culto que me prestam, pois as doutrinas que ensinam são preceitos humanos” (Mc 7,6-7). Em primeiro lugar, temos aqui uma característica específica do cristianismo: ele não serve simplesmente para dar às pessoas uma aparência de bondade, mas para a transformação dos corações. Em outras palavras, o encontro com o Amor de Deus e o íntimo relacionamento com Cristo vivo e ressuscitado levam-nos a uma mudança interior, de mentalidade, e não somente ao cumprimento externo de certos preceitos. Na verdade, as mudanças que se veem no comportamento cotidiano são fruto daquela conversão do coração.

Em seguida, Jesus toca uma tentação sempre presente: a substituição da doutrina revelada que é conservada na Igreja por preceitos humanos. Ouvimos, de fato, na primeira leitura: “Nada acrescenteis, nada tireis, à palavra que vos digo, mas guardai os mandamentos do Senhor vosso Deus que vos prescrevo” (Dt 4,2). Como é difícil não substituir os mandamentos divinos quando estes nos contrariam e desafiam! É muito mais fácil, no nosso tempo, nos adequar à mentalidade neo-pagã do que perseverar na fé de sempre! Sim: será sempre uma tentação buscar transformar o cristianismo numa espécie de ideologia adocicada e politicamente correta. Mas, para nosso bem, para nossa realização, precisamos, com humildade acolher e assentir com todo nosso ser ao Evangelho da salvação.

Ó Pai, pelo Espírito Santo, dá-nos a graça de crer firmemente em tudo que Teu Filho Jesus Cristo fez e nos ensinou! Virgem Maria, Mãe da Igreja, ajuda-nos a viver e a anunciar corajosamente o Evangelho da salvação! São José, nosso protetor, fazei-nos íntimos de Jesus.

Sub tuum præsidium confugimus.
sancta Dei Genitrix:
nostras deprecationes
ne despicias in necessitatibus:
sed a periculis cunctis libera nos semper,
Virgo gloriosa et benedicta.

XXII Domingo do Tempo Comum: Mc 7,1-8.14-15.21-23 – Não só mãos limpas, coração também!

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Por Dom André Vital Félix da Silva, SCJ.

Este povo com os lábios me honra, mas o seu coração distante, está afastado de mim”. Citando este trecho de Isaías (29,13), Jesus desmoraliza a crítica dos fariseus e mestres da Lei que acusam alguns de seus discípulos de não seguirem a Tradição dos antigos. A denúncia da hipocrisia da religião de aparência, do ritualismo vazio e do culto descompromissado com a vida, no tempo de Jesus, já se constituía uma verdadeira tradição originada na pregação profética do século VIII a. C. Com Amós, que denuncia o esplendor do culto que encobre a ausência de uma verdadeira religião, pois o luxo dos grandes insulta a miséria dos pobres, e com Isaías e tantos outros profetas que também reforçam essa Tradição, evidencia-se a hipocrisia do povo, sobretudo dos seus dirigentes que, apegados à aparência da pompa dos rituais combinada com a prática da injustiça, manifestam o seu altíssimo grau de superficialidade e falsidade, verdadeira representação teatral (hypocrisia).   

Jesus, nas suas palavras e atitudes, identifica-se muito com essa antiga Tradição dos profetas, e caminha para um fim muito semelhante ao dos grandes profetas do Antigo Israel que não eram, por sua vez, críticos insolentes da Lei de Deus e da religião, mas seus autênticos e zelosos guardiães. Pois sendo conhecedores da Torah, reconheciam que nos mandamentos estavam a sabedoria e a inteligência para promover e garantir a vida (cf. Dt 4,6). Contudo, não silenciavam diante das manobras que os dirigentes políticos e religiosos faziam para distorcer o Mandamento, tirando e acrescentando o que lhes convinha. Daí consequentemente surgem as tradições humanas, também severamente criticadas por Jesus. Pois o que acontecia era uma substituição do Mandamento pelas tradições humanas: “Abandonais o mandamento de Deus para seguir a tradição dos homens”. Especificamente sublinham-se as tradições de ablução ritual, que para os fariseus não eram apenas procedimento higiênico, mas rompimento com tudo aquilo que consideravam impuro: pessoas, coisas, lugares etc. Jesus os chama de hipócritas, isto é, de atores, fingidos. Pois abominam o que consideram impuro, mas não deixam de frequentar os mesmos lugares, falar com as mesmas pessoas por interesse, e usam as mesmas coisas. E para manterem a consciência tranquila ou sedada praticavam ritos quase mágicos, mas não assumiam atitudes mais concretas e coerentes com tais princípios. 

O tema do puro-impuro está muito relacionado na história das religiões com o sagrado-profano, diferentemente da nossa mentalidade que identifica o puro com o moralmente irreprovável (santo) e o impuro com o imperfeito (pecador). Na Bíblia não funciona assim, pois tais conceitos se referem essencialmente ao aspecto ritual. Em outras palavras, o puro é o hábil para o culto, e o impuro é o que está impedido de tocar o sagrado. São termos relacionados, quase que um depende do outro para ser compreendido. Tanto é verdade que, etimologicamente, profano significa “diante do sagrado” (pro: ante + fanum: templo). O problema não era a distinção, mas a oposição que sobretudo os fariseus faziam, criando assim uma inversão de valores. Para Jesus a lavagem de mãos e utensílios em vista da refeição não era um problema. Visto que a crítica feita pelos fariseus não era a Jesus, mas a “alguns de seus discípulos que comiam com as mãos impuras” (7,1), talvez naquela ocasião Ele mesmo tenha observado essas prescrições, ainda que não as absolutizasse.

Ter mãos e utensílios limpos é uma exigência natural, mas de que vale tudo isso se o coração se torna a sede de maldades e pecados, a verdadeira impureza, isto é, o que impede tocar o Sagrado. Portanto, lavar escrupulosamente as mãos e conservar o coração sujo representa a pior das hipocrisias, isto é, incorre-se na manipulação do Sagrado e na camuflagem dos limites humanos. 

A crítica insistente dos fariseus por terem constatado a transgressão da tradição dos antigos (sobretudo o voltar da praça e compulsivamente lavar-se), contrapõe-se à atitude de Jesus relatada na perícope anterior (6,53-56), quando se diz que “Em todos os lugares onde entrava… traziam-lhe doentes, nas praças, para que os curasse… E todos os que o tocavam ficavam curados”.  Jesus não opõe o puro ao impuro, o sagrado ao profano, mas reconhece a relação que existe entre ambos, pois negar esta relação pode resultar numa atitude hipócrita, dissimulada. Portanto, tocar o profano deve ajudar no reconhecimento do sagrado, e aproximar-se do sagrado deve levar ao reconhecimento da identidade legítima do profano.

A grande tarefa do ser humano em distinguir as várias realidades tem uma única finalidade: reconhecer a relação que existe entre elas, para buscar o seu equilíbrio necessário. O diferente não significa necessariamente o meu opositor. Negar essa sadia pluralidade e a riqueza da autêntica diversidade é cair na ditadura da uniformidade aparente. É absolutizar o relativo e subestimar aquilo que é mais importante.

Os ritos não devem substituir atitudes coerentes e necessárias para a vivência dos valores proclamados e defendidos, mas devem ajudar na sua conscientização e interiorização. O beijo de Judas ilustra muito bem esta contradição hipócrita: o beijo, sinal de respeito e afeto, mas usado como senha de traição (Mc 14,44).

Fonte: https://www.dehonianosbre.org.br/homilias/xxii-domingo-do-tempo-comum–mc-7-1-8-14-15-21-23–nao-so-maos-limpas-coracao-tambem-

A FRAQUEZA DE DEUS É MAIS FORTE QUE OS HOMENS

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Das Homilias sobre a Primeira Carta aos Coríntios, de São João Crisóstomo, bispo.

Por meio de homens ignorantes a cruz persuadiu, e mais, persuadiu a terra inteira. Não falava de coisas sem importância, mas de Deus, da verdadeira religião, do modo de viver o Evangelho e do futuro juízo. De incultos e ignorantes fez amigos da sabedoria. Vê como a loucura de Deus é mais sábia que os homens e a fraqueza, mais forte. 

De que modo mais forte? Cobriu toda a terra, cativou a todos por seu poder. Sucedeu exatamente o contrário do que pretendiam aqueles que tentavam apagar o nome do Crucificado. Este nome floresceu e cresceu enormemente. Mas seus inimigos pereceram em ruína total. Sendo vivos, lutando contra o morto, nada conseguiram. Por isso, quando o grego me chama de morto, mostra-se totalmente insensato, pois eu, que a seus olhos passo por ignorante, me revelo mais sábio que os sábios. Ele, tratando-me de fraco, dá provas de ser o mais fraco. Tudo o que, pela graça de Deus, souberam realizar aqueles publicanos e pescadores, os filósofos, os reis, numa palavra, todo o mundo perscrutando inúmeras coisas, nem mesmo puderam imaginar.  

Pensando nisto, Paulo dizia: O que é fraqueza de Deus é mais forte que todos os homens (1Cor 1,25). Com isso se prova a pregação divina. Quando é que se pensou: doze homens, sem instrução, morando em lagos, rios e desertos, que se lançam a tão grande empresa? Quando se pensou que pessoas que talvez nunca houvessem pisado em uma cidade e, em sua praça pública, atacassem o mundo inteiro? Quem sobre eles escreveu, mostrou claramente que eles eram medrosos e pusilânimes, sem querer negar ou esconder os defeitos deles. Ora, este é o maior argumento em favor de sua veracidade. Que diz então a respeito deles? Que, preso o Cristo depois de tantos milagres feitos, uns fugiram, o principal deles o negou. 

Donde lhes veio que, durante a vida de Cristo, não resistiram à fúria dos judeus, mas, uma vez ele morto e sepultado – visto que, como dizeis, Cristo não ressuscitou, nem lhes falou, nem os encorajou – entraram em luta contra o mundo inteiro? Não teriam dito, ao contrário: “Que é isto? não pôde salvar-se,vai proteger-nos agora? Ainda vivo, não socorreu a si mesmo, e morto, nos estenderá a mão? Vivo, não sujeitou povo algum, e nós iremos convencer o mundo inteiro, só com dizer seu nome? Como não será insensato não só fazer, mas até pensar tal coisa?” 

Por este motivo é evidente que, se não o tivessem visto ressuscitado e recebido assim a grande prova de seu poder, jamais se teriam lançado em tamanha aventura.

VIGÉSIMO PRIMEIRO DOMINGO DO TEMPO COMUM – Ano B (P. Lucas, scj)

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Caros irmãos, na liturgia do vigésimo primeiro domingo do Tempo Comum, rezaremos com o trecho do evangelho segundo São João no qual contemplamos a reação dos discípulos de Jesus ao Seu discurso sobre o Pão da Vida (cf. Jo 6,60-69). Peçamos ao Senhor a graça de crer plenamente na Revelação. Rezemos também por todos os cristãos leigos chamados aos ministérios e serviços na comunidade: que o Senhor, nosso Deus, Se manifeste em suas vidas e lhes dê generosidade e perseverança.

Depois de se apresentar como o Pão da Vida, Jesus vê que Seu ensinamento escandaliza Seus discípulos e, a partir daquele momento, muitos voltaram atrás. Então, Ele se dirigiu aos mais próximos, aos doze, perguntando: “Vós também vos quereis ir embora?” (Jo 6,67). A pergunta serve também para nós. De fato, o ensinamento de Jesus Cristo nem sempre é agradável e, muitas vezes, é escandaloso porque contraria as ideias e/ou aspirações difundidas e amplamente aceitas em nossa sociedade. Então, descobrimos que, se quisermos, podemos ir embora, não mais segui-lo e procurar outros deuses a quem servir (cf. Js 2,15 – primeira leitura).

Porém, a fé brota no coração do homem como resposta ao Deus que se revela em Jesus Cristo, ou seja, consiste em aderir com a inteligência e a vontade àquilo que foi revelado por Deus pois Ele não Se engana e não pode enganar: é uma Graça e, ao mesmo tempo, um ato humano livre que engloba todo o nosso ser (cf. Catecismo da Igreja católica, n. 153-165). Por isso, nesta liturgia, somos convidados a abrir o coração para o Senhor Jesus Cristo para reconhecê-lo em Sua autoridade, como o fez Simão Pedro ao dizer: “A quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna. Nós cremos firmemente e reconhecemos que tu és o Santo de Deus” (Jo 6,68-69).

Ó Pai, pelo Espírito Santo, dá-nos a graça de crer firmemente em Teu Filho Jesus Cristo! Virgem Maria, Mãe da fé, ajuda-nos a perseverar no sim dito a Deus! São José, nosso protetor, conduzi-nos no silêncio orante que nos leva à intimidade com Jesus.

Sub tuum præsidium confugimus.
sancta Dei Genitrix:
nostras deprecationes
ne despicias in necessitatibus:
sed a periculis cunctis libera nos semper,
Virgo gloriosa et benedicta.

XXI Domingo do Tempo Comum: Jo 6,60-69 – É a Palavra que é dura?!

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O Evangelista João finaliza o discurso do Pão da Vida com um grande desafio: seguir ou abandonar a Jesus. Depois de ter apresentado o discurso de revelação de Jesus: Pão descido do céu, sua carne e seu sangue, alimento e bebida para a vida plena, chega o momento decisivo de tomar decisões. À medida em que o Mestre testemunha a sua convicção e firmeza no seu caminho rumo à cruz, deixando já de sobreaviso que esse também é o caminho dos que Dele se alimentam, muitos da multidão saciada, entre eles alguns discípulos, mais do que uma incompreensão diante das palavras, escandalizados, reagem ao ouvirem aquela “palavra dura”: “Essa palavra é dura! Quem pode escutá-la?” (6,60).

O adjetivo “duro” em grego se diz “esclerós”, termo originalmente usado na medicina (Hipócrates 460 a.C.) para indicar um endurecimento. Tanto que ainda hoje é utilizado com muitas especificações (Aterosclerose: endurecimento das artérias; esclerose lateral amiotrófica: doença neuro-degenerativa; esclerose múltipla, doença neurológica crônica etc.). 

Daqui podemos intuir o alcance dessa acusação feita, inclusive por alguns discípulos de Jesus. Sem cair em psicologismos simplórios, não podemos deixar de ver nessa cena uma verdadeira projeção psicológica. De acordo com alguns autores, a projeção psicológica, como mecanismo de defesa, acontece quando os sentimentos ameaçados ou inaceitáveis de uma determinada pessoa são reprimidos e, então, projetados em outrem. Em outras palavras, a dureza denunciada, na verdade, não dizia respeito às palavras de Jesus, pois como Ele mesmo afirma: “São espírito e vida” (6,63), mas uma pura projeção da dureza do coração dos seus discípulos, que resistem em aceitar as palavras de vida eterna (6,68). 

Um fato bíblico muito ilustrativo do que há pouco foi dito é a conversão de São Paulo (At 9;22;26). Sobretudo na última narrativa que o próprio Apóstolo das Gentes faz contando o seu encontro com o Senhor, que lhe diz: “É duro (skleron) para ti dar coices contra o aguilhão” (At 26,14). Já no Antigo Testamento a dureza do coração do povo indicava a sua persistência em permanecer fechado diante do chamado de Deus. Naturalmente o endurecimento do coração fecha os ouvidos para não escutar. Por isso, afirmam alguns dos discípulos e, portanto, traindo-se na sua tal projeção, desabafam: “Quem a pode escutar?” (6,60). Se não podem escutar é porque têm os ouvidos cerrados, o coração endurecido, pois persistem na indisposição de conversão.

A própria experiência humana de convivência tem demonstrado que é fundamental para o crescimento pessoal a capacidade de abertura ao outro, numa escuta atenta e livre de preconceitos. Conclusões precipitadas, fruto de uma surdez crônica dos nossos dias, podem conduzir à rejeição daquilo que é vital.  

No paraíso, a primeira tentativa da serpente foi justamente convencer Eva que a palavra que o Senhor Deus lhe tinha dito era muito dura: “Vós não podeis comer de todas as árvores do jardim?” (Gn 3,1). Diante desta primeira investida astuta, Eva reage com muita lucidez, e reafirma o mandamento que seu marido recebeu do próprio Deus, essencialmente diferente da interpretação da serpente: “E Javé Deus deu ao homem este mandamento: ‘Podes comer de todas as árvores, exceto da árvore que está no meio do jardim, caso contrário morrerás’” (2,16). Contudo, a serpente não desistiu e distorceu completamente a Palavra de Javé, mudando a morte, como consequência da desobediência ao mandamento do Senhor, em prêmio eterno se Eva obedecesse à sua proposta: “Não, não morrereis! Vós sereis como deuses” (3,4-5). Portanto, a palavra da serpente se coloca como uma palavra suave, atraente, apetitosa em oposição à Palavra de Javé, apresentada pelo réptil como dura, pois é uma terrível proibição, e o pior, o que disse Javé é mentira.

Eis um exemplo típico de quando a Palavra divina é diabolicamente transformada em palavra dura. Assim acontece quando não somos ouvintes atentos. Ouvir-se-á o que não foi dito, e se acreditará naquilo que não é verdade. A grande investida hodierna contra o evangelho e tudo o que a ele diz respeito se faz justamente com esta astúcia. Tenta-se convencer as pessoas (desatentas no ouvir) de que a verdade é mentira e que a mentira é verdade. Cria-se uma mentalidade muito pragmática de que a vida é uma busca de prazer e uma fuga do sacrifício. Prazer torna-se finalidade de vida, mesmo que isso custe o sacrifício irracional da própria vida.  

Não são poucos os casos em que adolescentes e jovens são cooptados pela grande mídia e por poderosos grupos econômicos, que tentam convencê-los de que a religião lhes tira a liberdade e que o evangelho os impede de serem felizes por causa das tantas exigências, leis e formalidades. E, portanto, instaura-se um verdadeiro terrorismo ideológico. A religião é apresentada de forma caricaturada, reduzida a algumas situações pontuais de fundamentalismo religioso. Os que mais criticam e desqualificam o evangelho e seus consequentes ensinamentos e prática, pouco conhecem da verdade do evangelho que liberta e restitui a verdadeira vida ao ser humano. É o coração duro que leva a crer que a Palavra é dura! No entanto, o Verbo Encarnado nos declara que é leve o seu fardo, suave o seu jugo (Mt 11,30), pois só Ele tem palavras de vida eterna!

Fonte: https://www.dehonianosbre.org.br/homilias/xxi-domingo-do-tempo-comum–jo-6-60-69–e-a-palavra-que-e-dura–

SOLENIDADE DA ASSUNÇÃO DE NOSSA SENHORA

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Caros irmãos, neste domingo, celebramos a Solenidade da Assunção da Virgem Maria e na liturgia do dia, meditaremos o trecho do evangelho segundo São Lucas que retrata a visita de Nossa Senhora à Santa Isabel (cf. Lc 1,39-56). Peçamos ao Senhor a graça de reconhecer neste mistério a nossa vocação. Rezemos também por todos os religiosos consagrados: que Deus lhes dê a perseverança e numerosas vocações.

Ao proclamar solenemente a Assunção de Nossa Senhora verdade de fé divinamente revelada, Pio XII escreveu: “a imaculada Mãe de Deus, a sempre virgem Maria, terminado o curso da vida terrestre, foi assunta em corpo e alma à glória celestial” [1]. Assim, compreendemos que, por privilégio da Graça divina nela se realizou antecipadamente o que é reservado a todos os santos no último dia: a entrada na glória da Santíssima Trindade de corpo e alma. Uma vez que todos somos chamados à santidade, contemplamos na bem-aventurada Mãe de Deus nossa vocação de participarmos, com todo nosso ser, na glória do Senhor, nosso Deus.

Dessa forma, a Virgem Maria é, para nós, estrela da esperança. Pois neste mundo marcado pela experiência da corrupção e da morte, onde muitas vezes as trevas do erro do pecado parecem ter a vitória final, podemos erguer nossos olhos para ver o grande sinal da Virgem-Mãe assunta aos céus e, contemplando nela o poder e a misericórdia de Deus, reafirmar nossa fé em Jesus Cristo vivo e vencedor – Deus conosco que é a nossa salvação. Nela, de fato, resplandece sempre a glória de Cristo Ressuscitado vencedor do mal, do pecado e da morte. Ela também intercede por nós, ajudando-nos sempre a estar cada vez mais intimamente unidos ao Senhor para que Ele realize em nós a Sua vontade.

Ó Pai, pelo Espírito Santo, dá-nos a graça de uma união profunda e íntima com Teu Filho Jesus Cristo! Virgem Maria, Mãe de Deus e nossa, Senhora assunta aos céus, intercede por toda Igreja peregrina neste mundo! São José, dá-nos o dom do silêncio e da contemplação.

Sub tuum præsidium confugimus.
sancta Dei Genitrix:
nostras deprecationes
ne despicias in necessitatibus:
sed a periculis cunctis libera nos semper,
Virgo gloriosa et benedicta.

[1] Pio XII, Munificentissimus Deus, n. 44.

DÉCIMO NONO DOMINGO DO TEMPO COMUM – Ano B

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Caros irmãos, prosseguimos na leitura do sexto capítulo do evangelho de S. João neste décimo nono domingo do Tempo Comum até o ponto no qual Jesus se declara o pão que desceu do céu (cfJo 6,41-51). Abramos nosso coração ao Espírito Santo para que nossa fé em Cristo seja renovada e transforme nossa vida.

Ao afirmar-se o Pão que veio do céu, nosso Senhor vê seus interlocutores murmurarem a respeito de Sua origem: “Não é este Jesus, o filho de José? Não conhecemos seu pai e sua mãe? Como então pode dizer que desceu do céu?” (Jo 6,42). De fato, é escandaloso que Deus se tenha feito homem para a nossa salvação. Mas o desafio da fé é exatamente assentir à palavra daquele que se revelou e, por isso, Ele nos diz que “quem crê, possui a vida eterna” (Jo 6,47). Em outras palavras, acolhendo a Verdade revelada que se conserva na Igreja há dois mil anos nos abrimos à presença daquele que é a nossa salvação e dá Vida à nossa vida.

E a fonte da Vida está muito perto de nós, à nossa disposição, no sinal do Pão, pois Cristo mesmo nos diz: “Eu sou o pão vivo descido do céu. Quem comer deste pão viverá eternamente. E o pão que eu darei é a minha carne dada para a vida do mundo” (Jo 6,51). Na Eucaristia, encontramos o alimento que nos sustenta na longa peregrinação da nossa vida em meio aos perigos deste mundo. Portanto, disponhamo-nos a receber tal alimento crendo no Evangelho, nos arrependendo dos nossos pecados e buscando humilde e confiantemente o Sacramento da Reconciliação.

Ó Pai, inspira-nos pelo Espírito Santo uma viva fé eucarística para que vivamos sempre numa intimidade cada vez maior com Teu Filho Jesus Cristo! Virgem Maria, Mãe de Deus e nossa, concede-nos uma fé viva! São José, dá-nos a intimidade com Deus.

Sub tuum præsidium confugimus.
sancta Dei Genitrix:
nostras deprecationes
ne despicias in necessitatibus:
sed a periculis cunctis libera nos semper,
Virgo gloriosa et benedicta.

Um feliz dia dos pais a todos!

XIX Domingo do Tempo Comum: Jo 6,41-51 – Chorar de barriga cheia

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Por Dom André Vital Félix da Silva, SCJ.

O evangelho de hoje retoma o tema do sinal dos pães multiplicados, aprofundando o significado do que Jesus fez, mas que não foi devidamente compreendido. O povo que se alimentou de pães não é capaz de reconhecer que o Pão da vida é Jesus, o alimento mais necessário, aquele que não perece. O pão material que comeram não é o definitivo, pois a fome e a sede só serão saciadas quando se alimentarem de Jesus, de sua presença, de sua palavra e de sua proposta de vida. Portanto, não basta ter o estômago cheio, é preciso preencher o coração e a mente deste alimento dado pelo próprio Pai, que não suscita simplesmente perguntas (maná: o que é isso?), mas que é a resposta do Pai, no seu Filho, à fome de vida plena do povo. João relê o sinal dos pães em chave “exodal-eucarística”, e por isso, ao longo do discurso do Pão da vida, vai retomando temas que, presentes na experiência da saída do Egito e travessia do deserto rumo à Terra Prometida, ajudam a refletir sobre a missão do novo Moisés, que, mesmo sendo identificado como filho de José e de Maria, é o verdadeiro pão descido do céu, dado pelo Pai, penhor da ressurreição. 

Na perícope hodierna evidencia-se o tema da murmuração: “Os judeus começaram a murmurar”; é a reação diante da palavra reveladora de Jesus: “Eu sou o pão que desceu do céu”. Tal murmuração é paralela à murmuração dos israelitas contra Moisés no deserto (cf. Ex 17,3; Nm 11,1). Assim como o povo murmurava contra o primeiro doador do pão do céu (maná), isto é, Moisés, agora os que já tinham enchido o estômago murmuram contra o segundo, que não é apenas um doador de pães, mas o próprio pão oferecido: “Eis aqui o pão vivo descido do céu: quem dele comer nunca morrerá”.  Contudo, tanto a murmuração no deserto quanto aquela contra Jesus têm um sério agravante, isto é, a reação negativa do povo diante do dom, e por conseguinte é murmuração contra o próprio Deus. João ao estabelecer esse paralelismo (AT-NT) pretende introduzir o cenário da rejeição a Jesus que culminará na sua morte, pois na cruz se realiza a sua hora, a sua entrega total, a entrega da sua carne e do seu sangue. Se este pão garante a vida eterna, cuja condição fundamental é a ressurreição, é preciso alimentar-se dele reconhecendo-o não apenas como um enviado do Pai, mas como seu Filho. Pois é por causa do Filho que Deus elege o seu povo e o prepara para acolhê-lo: “Ninguém pode vir a mim se o Pai que me enviou não o atrai”. 

Enquanto o povo murmura (grego: egongyzon, fazer barulho), Jesus faz ouvir o grande apelo de Deus já presente no Antigo Testamento: estabelecer com seu povo uma aliança nova e eterna. No discurso do pão da vida, aparece então o tema da eleição divina e da vocação do povo. Contudo, é preciso tornar-se discípulo de Deus: “Todos serão discípulos de Deus”, pois é o próprio Pai que através da sua Palavra instrui e prepara o seu povo para que acolha o seu Filho: “quem escutou o Pai e por Ele foi instruído vem a mim”. Os judeus reconhecem que Jesus multiplicou os pães, mas não acreditam que Ele é o pão descido do céu. Mostram-se conhecedores das suas origens: “Não é este o filho de José? Não conhecemos seu pai e sua mãe?” Mas como não dão o passo da fé para acreditar nele como enviado do Pai, revelam-se, portanto, ignorantes das Escrituras, pois elas são a grande instrução de Deus na preparação do povo para a chegada do Messias. Aproximar-se de Jesus, a Palavra encarnada e não apenas uma palavra escrita, é deixar-se instruir pelo próprio Deus. Aqueles que se consideram conhecedores das Escrituras, mas que não reconhecem a necessidade de serem instruídos, de aprender, nunca poderão fazer o encontro com a Palavra, estarão sempre na superficialidade (“Não é Ele o Filho de José?”). Não ouvirão a Palavra do Filho, mas apenas as suas próprias murmurações.

Mesmo tendo feito repetidas referências à sua encarnação quenótica (“pão que desceu do céu”, “aquele que vem de junto do Pai”), os judeus incrédulos apontam para a sua inegável humanidade como prova evidente contra a sua origem divina. Exigem que Jesus prove o que pode fazer: “Que sinais realizas para que cremos?”, mas não aceitam a verdade do que Ele é. Aqui também encontramos um paralelo entre povo x Escritura, povo x Jesus. Pensavam que conheciam as Escrituras, mas não acreditaram em Jesus; pensavam que conheciam Jesus, mas não o reconheceram como Filho de Deus encarnado que armou sua tenda entre nós (Jo 1,14). 

Precisamos ter cuidado para não transformar o anúncio do Evangelho, fruto do encontro pessoal com Jesus, em murmurações de quem, tendo recebido abundantemente o alimento da vida eterna (Palavra, Eucaristia), fica exigindo coisas menores para crer. Se o coração não estiver cheio de fé para acolher o alimento da vida eterna, cairemos sempre em murmurações de um estômago sempre insaciável apesar de estar empanturrado.

Fonte: https://www.dehonianosbre.org.br/homilias/xix-domingo-do-tempo-comum–jo-6-41-51–chorar-de-barriga-cheia

DÉCIMO OITAVO DOMINGO DO TEMPO COMUM – Ano B (P. Lucas, scj)

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Caros irmãos, neste décimo oitavo domingo do Tempo Comum, continuamos a leitura do sexto capítulo do evangelho de S. João e, hoje, Jesus se declara o pão da vida (cf. Jo 6,24-35). Elevemos nosso coração a Deus e busquemos sempre o Pão que sacia nossa fome de Vida.

Depois de, na semana passada, termos meditado como Deus faz maravilhas quando entregamos o pouco que temos e somos em Suas mãos, Jesus nos adverte: “esforçai-vos não pelo alimento que se perde, mas pelo alimento que permanece até a vida eterna e que o Filho do Homem vos dará” (Jo 6,27). De fato, porque existe a necessidade de ganharmos o pão com o suor do rosto, torna-se um risco pensar que esse pão seja suficiente para saciar a nossa fome. Ou seja, podemos acreditar que, para sermos felizes, é suficiente termos coisas que nos sirvam nas diversas circunstâncias da vida. Porém, nosso coração será sempre inquieto – diz Santo Agostinho – enquanto não repousar em Deus, pois é o Seu Amor a única realidade capaz de nos saciar verdadeiramente – e tal Amor nos é dado em Jesus Cristo, nosso Senhor. Por isso, Ele mesmo nos declara: “Eu sou o pão da vida. Quem vem a mim não terá mais fome e quem crê em mim nunca mais terá sede” (Jo 6,35).

Mas, permanece a pergunta: como encontrar o Senhor Jesus? A resposta está na fé, uma vez que “a obra de Deus é que acrediteis naquele que ele enviou” (Jo 6,29). Em outras palavras, nós precisamos viver de fé. Esta, por sua vez, diz o Catecismo (n. 1814), “é a virtude teologal pela qual cremos em Deus e em tudo o que nos disse e revelou, e que a Santa Igreja nos propõe para crer, porque Ele é a própria verdade. Pela fé, ‘o homem livremente se entrega todo a Deus’. Por isso o fiel procura conhecer e fazer a vontade de Deus”. Peçamos, então, a Deus a perseverança na fé que recebemos para, assim, entrar no íntimo relacionamento com o Senhor que dá forma à nossa vida e sacia nosso coração.

Ó Pai, dá-nos o Espírito Santo para que Ele reavive em nós a fé no Teu Filho Jesus Cristo! Santíssima Virgem Maria, nossa Mãe, ajuda-nos a viver de fé! São José, inspira-nos a confiança em Deus.

Sub tuum præsidium confugimus.
sancta Dei Genitrix:
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ne despicias in necessitatibus:
sed a periculis cunctis libera nos semper,
Virgo gloriosa et benedicta.