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Ignorar as Escrituras é ignorar a Cristo

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Do Prólogo ao Comentário sobre o Profeta Isaías, de São Jerônimo, presbítero.

Pago o que devo, obediente aos preceitos de Cristo que diz: Perscrutai as Escrituras (Jo 5,39); e: Buscai e achareis (Mt 7,7). Assim que não me aconteça ouvir com os judeus: Errais, sem conhecer as Escrituras nem o poder de Deus (Mt 22,29). Se, conforme o Apóstolo Paulo, Cristo é o poder de Deus e a sabedoria de Deus, e quem ignora as Escrituras ignora o poder de Deus e sua sabedoria, ignorar as Escrituras é ignorar Cristo. 

Daí que eu imite o pai de família que de seu tesouro tira coisas novas e antigas. E a esposa, no Cântico dos Cânticos, que diz: Coisas novas e antigas, irmãozinho meu, guardei para ti (cf. Ct 7,14 Vulg.). E explicarei Isaías ensinando a vê-lo não só como profeta, mas ainda como evangelista e apóstolo. Ele próprio falou de si e dos outros evangelistas: Como são belos os pés daqueles que evangelizam boas novas, que evangelizam a paz (Is 52,7). E também Deus lhe fala como a um apóstolo: Quem enviarei, e quem irá a este povo? E ele respondeu: Eis-me aqui, envia-me (cf. Is 6,8). 

Ninguém pense que desejo resumir em breves palavras o conteúdo deste livro,pois esta escritura contém todos os mistérios do Senhor, falando do Emanuel, o nascido da Virgem, o realizador de obras e sinais estupendos, o morto e sepultado, o ressurgido dos infernos e o salvador de todos os povos. Que direi de física, ética e lógica? Tudo o que há nas santas Escrituras, tudo o que a língua humana pode proferir e uma inteligência mortal receber, está contido neste livro. Atesta esses mistérios quem escreveu: Será para vós a visão de todas as coisas como as palavras de um livro selado; se é dado a alguém que saiba ler, dizendo-lhe: Lê isto, ele responderá: Não posso, está selado. E se for dado a quem não sabe ler e se lhe disser: Lê, responderá: Não sei ler (Is 29,11-12). 

E se alguém parecer fraco, ouça as palavras do mesmo Apóstolo: Dois ou três profetas falem e os outros julguem; mas se a outro que está sentado algo for revelado, que se cale o primeiro (1Cor 14,32). Como podem guardar silêncio, se está ao arbítrio do Espírito, que fala pelos profetas, o calar-se e o falar? Se na verdade compreendiam aquilo que diziam, tudo está repleto de sabedoria e de inteligência. Não era apenas o ar movido pela voz que chegava a seus ouvidos, mas Deus falava no íntimo dos profetas, segundo outro Profeta diz: O anjo que falava a mim (cf. Zc 1,9), e: Clamando em nossos corações, Abba, Pai (Gl 4,6), e: Ouvirei o que o Senhor Deus disser em mim (Sl 84,9).

VIGÉSIMO SEXTO DOMINGO DO TEMPO COMUM – Ano B (P. Lucas, scj)

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Caros irmãos, o evangelho do vigésimo sexto domingo do Tempo Comum, Ano B, nos mostra a centralidade do pertencer a Jesus para a nossa vida (cf. Mc 9,38-43.45.47-48). Rezemos pedindo ao Senhor que nos fale ao coração tornando-Se, Ele mesmo, o critério de nossas decisões e nosso agir.

Quem pertence a Cristo é livre para fazer o bem, “pois ninguém faz milagres em meu nome para depois falar mal de mim”, diz o Senhor (cf. Mc 9,38-40), ao mesmo tempo que é convidado para o Seu seguimento, como bem lembra S. Beda. A pertença a Jesus é também causa do prêmio para quem faz o bem: “quem vos der a beber um copo de água, porque sois de Cristo, não ficará sem receber a sua recompensa” (cf. Mc 9,41). Ser de Deus é ainda o critério para nossas ações, de modo que tudo o que nos afasta do caminho da salvação precisa ser cortado do nosso cotidiano (cf. Mc 9,42-43.45.47-48). Para isso, recebemos o Espírito Santo que, através dos sacramentos do Batismo e da Crisma, nos constituiu povo profético, como ansiava Moisés (cf. Nm 11,29 – primeira leitura), e testemunhas de Jesus Cristo na prática da justiça (cf. Tg 5,1-6 – segunda leitura).

Podemos, assim, tomar alegoricamente os membros que Jesus manda cortar se se tornaram instrumentos de pecado. “Se teu olho te leva a pecar, arranca-o”: os olhos podem representar o desejo, a cobiça. Mas, quantas coisas temos desejado que nos afastam de Deus? Mas, por amor ao Senhor, podemos – e devemos – dizer-lhes “não”. “Se tua mão te leva a pecar, corta-a”: com as mãos tomamos coisas para nós e as transformamos. Porém, quantas das nossas atividades nos tem afastado de Cristo, nosso Salvador? É preciso ter coragem de agir de modo diverso sob a guia do Espírito Santo. “Se teu pé te leva a pecar, corta-o”: os pés trilham caminhos. Contudo, quantas vezes escolhemos seguir a trilha do pecado e, assim, afastamo-nos da fonte da vida, o Coração de Jesus? É preciso escolher e perseverar no único Caminho para a Vida, o próprio Jesus Cristo.

Ó Pai dá-nos o Espírito Santo para que nos revistamos de Teu Filho Jesus Cristo! Virgem Maria, Mãe de Deus e nossa, sustenta-nos no nosso “sim” a Deus! São José, nosso protetor, dá-nos a intimidade com Jesus.

Sub tuum præsidium confugimus.
sancta Dei Genitrix:
nostras deprecationes
ne despicias in necessitatibus:
sed a periculis cunctis libera nos semper,
Virgo gloriosa et benedicta.

“Em Nome de Cristo”

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Por S. Beda, o venerável (Comentário sobre o Evangelho de São Marcos 9,38-43)

João diz a Jesus: “Mestre, vimos um homem que expulsava demônios em teu nome, e não o permitimos porque não é dos nossos”. João que amava com extraordinário fervor ao Senhor, e por isso era digno de ser amado por ele, pensava que devia ser privado do benefício aquele que não tinha o ofício. Porém, o Senhor lhe ensinou que ninguém deve ser afastado do bem que em parte possui, mas deve ser convidado para aquilo que ainda não possui. E prossegue dizendo:

“Não o proibais. Ninguém que realize milagres em meu nome falará mal de mim. Quem não é contra nós, está a nosso favor”. O mesmo afirma o sábio apóstolo: “Contanto que Cristo seja anunciado, como pretexto ou como fidelidade, disso me alegro e me alegrarei.” Porém, ainda que se alegre por aqueles que anunciam a Cristo de forma não sincera, e se inclusive algumas vezes fazem milagres pela salvação de outros, aconselhando que não sejam impedidos, contudo, não podem ser justificados por tais milagres.

Ainda mais, naquele dia dirão: Senhor, Senhor, acaso não profetizamos em teu nome, e não expulsamos demônios em teu nome, e não realizamos milagres em teu nome?, e receberão esta resposta: Não vos conheço, apartai-vos de mim, vós que operais a iniquidade! Portanto, a respeito dos hereges e maus católicos devemos solenemente rejeitar não aquelas crenças e aqueles sacramentos que têm em comum conosco, não contra nós, mas as divisões que se opõem à paz e à verdade, pelas quais estão contra nós e não se mantêm em unidade com o Senhor.

“Quem vos der a beber um copo de água, porque sois de Cristo, não ficará sem receber a sua recompensa.” Lemos no Profeta Davi que muitos, como desculpa de seus pecados, pretendem que são justos os estímulos que os movem a pecar; de modo que, enquanto pecam voluntariamente, iludem-se de atuar por necessidade. O Senhor, que perscruta os corações e os rins, pode ver os pensamentos de cada um.

Ele disse: “Quem recebe a um destes pequeninos em meu nome, recebe a mim.” Alguém poderia polemizar dizendo: “A pobreza me impede, minha miséria me impossibilita de recebê-lo”. Porém, o Senhor anula esta desculpa com um suavíssimo mandamento, para induzir-nos a oferecer de todo o coração ao menos um copo de água, mesmo que seja fria, como disse Mateus. E diz um copo de água fria, não quente, a fim de que não se busque uma desculpa alegando miséria ou falta de lenha para esquentar a água.

XXVI Domingo do Tempo Comum: Mc 9,38-43.45.47-48 – Ciúme invejoso: um falso zelo que escandaliza

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Por Dom André Vital Félix da Silva, SCJ.

Mestre, vimos alguém que não nos segue expulsando demônios em teu nome, e tentamos impedi-lo porque não nos seguia”. Esta reação de João, aparentemente cheia de zelo, manifesta uma atitude muito perigosa para quem decidiu seguir o Messias Jesus, isto é, um ciúme invejoso com aparência de zelo.

Essa perícope evangélica, quando lida no seu contexto mais amplo (Mc 7,24-10,52), nos ajuda a perceber o que estava para além das palavras do discípulo, porta-voz do grupo, indignado com pessoas que, não sendo dos seus, realizavam exorcismos em nome de Jesus, sem a devida permissão. Um pouco antes dessa cena, encontra-se uma narração onde os discípulos passam por um vexame humilhante: um pai que leva o seu filho endemoninhado para que Jesus o liberte, mas os discípulos não conseguem realizar o exorcismo (Mc 9,14-29), levando inclusive Jesus, indignado diante do insucesso, a acusá-los de falta de fé. 

Diz a expressão popular: “A inveja é consequência da incapacidade”, e isto tem muito de verdade nessa reação de João. Sem dúvida, tal reação intolerante dos discípulos denuncia um sentimento rancoroso diante do próprio insucesso e incapacidade de realizar aquilo que eles mesmos tinham recebido do próprio Jesus aos serem escolhidos: “E constituiu os doze… Para enviá-los a pregar e terem autoridade para expulsar demônios” (Mc 3,13-15). O poder tinha sido dado, mas lhes faltava a fé. 

Diante da consciência da incapacidade de realizar algo desejado, o ser humano pode escolher umas das possibilidades: ou aceitar e empenhar-se no crescimento das suas reais capacidades, ou tentar negar a sua incapacidade, alimentando um sentimento de inveja, cujo intuito é rejeitar, desqualificar e até mesmo impedir a expansão das capacidades alheias. Contudo, pior do que sentir-se incapaz de realizar algumas coisas, é ser incapaz de reconhecer as capacidades do outro. Pessoas assim se compensam assumindo duas posturas fundamentais. Há aquelas que sendo detentoras de alguma autoridade ou poder, usam dessas prerrogativas para impedir (proibir) que o outro realize suas capacidades e potencialidades; há, também, aquelas que, por sua vez, não tendo nenhum poder coercitivo para compensar seu mal-estar diante do sentimento de incapacidade, apelam para avaliações sentimentais que desqualificam, menosprezam e desprestigiam as capacidades dos outros. 

No caso do evangelho, fica claro que os discípulos apelam para uma espécie de credencial presumida, pensam-se autorizados para tal procedimento, pois apenas, depois do ocorrido, é que comunicam ao Mestre o que fizeram. Tinham acabo de ouvir o ensinamento de Jesus: “Se alguém quer me seguir…” mas ainda teimavam em ocupar o lugar do Mestre, como fica evidente na reação de Pedro quando tenta, passando à frente de Jesus, ditar-lhe a direção que devia tomar (XXIII Domingo Tempo comum). Ou mesmo quando os discípulos se perguntam quem é o maior dentre eles, excluindo, por conseguinte, Aquele que é o unicamente maior (XXV Domingo Tempo Comum). Na verdade, o chamado é para seguir Jesus e não os discípulos.

O ciúme invejoso compromete o autêntico seguimento do Messias Jesus, pois é sinal de falta de fé e, consequentemente, causa de queda (escândalo) para os que estão sendo iniciados (pequeninos) no caminho do seguimento. Esses, mesmo não tendo ainda aderido plenamente a Jesus, sentem-se atraídos por Ele, pois não se opõem nem a Ele nem ao evangelho: “Quem não é contra nós é a nosso favor”. Porém, se escandalizam quando se sentem impedidos de prosseguir no caminho de adesão a Cristo por causa da intolerância daqueles que se sentem os únicos destinatários da salvação.

Diante dessa intolerância de quem pensa ser zeloso ou piedoso, o Mestre faz o grande apelo de conversão que, por sua vez, exige coerência com o seu ensinamento e vida: “Quem quiser salvar a sua vida, vai perdê-la; mas quem a perder por causa de mim e do evangelho, vai salvá-la” (XXIV Domingo Tempo Comum). A perda necessária para ganhar o essencial definitivo é ilustrada agora por Jesus apelando para a perda, se necessária, de três partes do corpo que temos sempre de dois (mão, pé, olho). Talvez gostaríamos de fazer uma atualização mais aguda, que indicasse uma conversão mais radical, ao invés de cortar uma mão ou um pé, ou arrancar um olho, sugeriríamos cortar a língua ou arrancar o coração. Porém, Jesus não quer indicar fundamentalisticamente a mutilação de partes do nosso corpo, mas desafiar-nos a tomar decisões radicais na vida: ou somos seus discípulos, evitando escandalizar os outros e a nós mesmos, ou somos seus adversários (satanás). Mais uma vez apresenta-se a necessidade de seguir o Mestre cujas mãos tocavam os doentes para curá-los, abençoá-los, erguê-los, cujos pés jamais se afastaram do caminho da obediência ao Pai, e cujos olhos estiveram sempre atentos ao modo de o Pai falar através dos fatos da vida e jamais foram contaminados com preconceitos e superficialidades, pois não via apenas a aparência, mas a totalidade de tudo e de todos.  

Por conseguinte, “Se tua mão te escandaliza, corta-a”: se a nossa práxis (mão) não é instrumento da ação de Jesus, é preciso convertê-la; “Se teu pé te escandaliza, corta-o”; se o nosso caminhar (pé) não é seguimento de Cristo e não se torna ajuda para que outros também se encaminhem para Ele, é preciso convertê-lo; “Se teu olho te escandaliza, arranca-o”: se o nosso olhar (olho) não nos permite enxergar os sinais de Deus na vida, se não nos ajuda a fazer a leitura dos acontecimentos para perceber neles os grandes apelos de Deus, é preciso convertê-lo. 

Como na nossa existência se apresentam sempre duas possibilidades fundamentais de direcionar a vida, e cabe a nós fazer a escolha, é imprescindível um modo de agir (mão), uma perspectiva de visão (olho) e uma maneira de caminhar (pé) mais coerentes com o ser discípulo do Messias Jesus. Caso contrário, nossa ação será destruidora, nosso olhar será turvo e nosso caminhar, sem direção. Consequentemente, tudo acabará na Geena (grande lixão de Jerusalém onde o fogo não se extingue e o verme não morre: 2Rs 23,10), símbolo da destruição da nossa incapacidade que, por ciúme invejoso, não permite aos outros fazerem desabrochar suas capacidades, e do nosso remorso de termos escandalizados, por falta de fé, os pequeninos, em nome de um falso zelo pelas coisas do Reino.

Fonte: https://www.dehonianosbre.org.br/homilias/xxvi-domingo-do-tempo-comum–mc-9-38-43-45-47-48–ciume-invejoso–um-falso-zelo-que-escandaliza

Homilia do Papa João Paulo II na canonização de S. Pio de Pietrelcina

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Vaticano, 16 de junho de 2002.

1. “O Meu jugo é suave e o Meu fardo é leve” (Mt 11, 30).

As palavras dirigidas por Jesus aos discípulos, que acabamos de ouvir, ajudam-nos a compreender a mensagem mais importante desta solene celebração. De fato, podemos considerá-las, num certo sentido, como uma magnífica síntese de toda a existência do Padre Pio de Pietrelcina, hoje proclamado santo.

A imagem evangélica do “jugo” recorda as numerosas provas que o humilde capuchinho de San Giovanni Rotondo teve que enfrentar. Hoje contemplamos nele como é suave o “jugo” de Cristo e verdadeiramente leve o seu fardo quando é carregado com amor fiel. A vida e a missão do Padre Pio testemunham que as dificuldades e os sofrimentos, se forem aceites por amor, transformam-se num caminho privilegiado de santidade, que abre perspectivas de um bem maior, que só Deus conhece.

2. “Quanto a mim, Deus me livre de me gloriar a não ser na cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo” (Gl 6, 14).

Não é porventura precisamente a “glorificação da Cruz” o que mais resplandece em Padre Pio? Como é atual a espiritualidade da Cruz vivida pelo humilde Capuchinho de Pietrelcina! O nosso tempo precisa de redescobrir o valor para abrir o coração à esperança.

Em toda a sua existência, ele procurou conformar-se cada vez mais com o Crucificado, tendo clara consciência de ter sido chamado para colaborar de modo peculiar na obra da redenção. Sem esta referência constante à Cruz não se compreende a sua santidade.

No plano de Deus, a Cruz constitui o verdadeiro instrumento de salvação para toda a humanidade e o caminho proposto explicitamente pelo Senhor a todos aqueles que desejam segui-l’O (cf. Mc 16, 24). O Santo Frade do Gargano compreendeu isto muito bem, e na festa da Assunção de 1914 escreveu: “Para alcançar a nossa única finalidade é preciso seguir o Chefe divino, o qual, unicamente pelo caminho que ele percorreu deseja conduzir a alma eleita; isto é, pelo caminho da abnegação e da Cruz” (Epistolário II, pág. 155).

3. “Eu sou o Senhor, que exerço a misericórdia” (Jer 9, 23).

Padre Pio foi um generoso dispensador da misericórdia divina, estando sempre disponível para todos através do acolhimento, da direção espiritual, e sobretudo da administração do sacramento da Penitência. O ministério do confessionário, que constitui uma das numerosas características que distinguem o seu apostolado, atraía numerosas multidões de fiéis ao Convento de San Giovanni Rotondo. Mesmo quando aquele singular confessor tratava os peregrinos com severidade aparente, eles, tomando consciência da gravidade do pecado e arrependendo-se sinceramente, voltavam quase sempre atrás para o abraço pacificador do perdão sacramental.

Oxalá o seu exemplo anime os sacerdotes a realizar com alegria e assiduidade este ministério, muito importante também hoje, como desejei recordar na Carta aos Sacerdotes por ocasião da passada Quinta-Feira Santa.

4. “Senhor, és tu o meu único bem”.

Cantamos assim no Salmo Responsorial. Através destas palavras o novo Santo convida-nos a pôr Deus acima de tudo, a considerá-lo como o nosso único e sumo bem.

De fato, a razão última da eficácia apostólica do Padre Pio, a raiz profunda de tanta fecundidade espiritual encontra-se na íntima e constante união com Deus de que eram testemunhas eloquente as longas horas passadas em oração. Gostava de repetir: “Sou um pobre frade que reza”, convencido de que “a oração é a melhor arma que possuímos, uma chave que abre o coração de Deus”. Esta característica fundamental da sua espiritualidade continua nos “Grupos de Oração” por ele fundados, que oferecem à Igreja e à sociedade o admirável contributo de uma oração incessante e confiante. O Padre Pio unia à oração também uma intensa actividade caritativa, da qual é uma extraordinária expressão a “Casa Alívio do Sofrimento”. Oração e caridade, eis uma síntese muito concreta do ensinamento do Padre Pio, que hoje é proposto a todos.

5. “Bendigo-Te, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque… estas coisas… as revelaste aos pequeninos” (Mt 11, 25).

Como se mostram apropriadas estas palavras de Jesus, quando as pensamos referindo-as a ti, humilde e amado Padre Pio.

Nós pedimos-te que nos ensines também a nós a humildade do coração, para sermos conservados entre os pequeninos do Evangelho, aos quais o Pai prometeu revelar os mistérios do seu Reino.

Ajuda-nos a rezar sem nunca nos cansarmos, com a certeza de que Deus conhece aquilo de que precisamos, ainda antes que nós o peçamos.

Obtém-nos um olhar de fé capaz de reconhecer imediatamente nos pobres e nos que sofrem o próprio rosto de Jesus.

Ampara-nos no momento do combate e da prova e, se cairmos, faz com que conheçamos a alegria do sacramento do Perdão.

Transmite-nos a tua terna devoção a Maria, Mãe de Jesus e nossa mãe.

Acompanha-nos na peregrinação terrena rumo à Pátria bem-aventurada, onde também nós esperamos chegar para contemplar eternamente a Glória do Pai, do Filho e do Espírito Santo.

Amém!

Fonte: https://www.vatican.va/content/john-paul-ii/pt/homilies/2002/documents/hf_jp-ii_hom_20020616_padre-pio.html

Em boas pastagens apascentarei minhas ovelhas

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Do Sermão sobre os pastores, de Santo Agostinho, bispo.

E as retirarei dentre as nações, reuni-las-ei de todos os lugares e as conduzirei para sua terra e as apascentarei sobre os montes de Israel (Ez 34,13). Ele criou os montes de Israel; são os autores das divinas Escrituras. Alimentai-vos ali onde com segurança encontrareis alimento. Que vos cause gosto tudo quanto dali ouvirdes; aquilo que lhe é estranho, rejeitai. Não vagueeis no meio do nevoeiro; ouvi a voz do pastor. Reuni-vos nos montes da Sagrada Escritura. Aí se acham as delícias de vosso coração; aí, nada de venenoso, nada de contrário; são pastagens fertilíssimas. Vinde, somente vós, sadias, nutri-vos nos montes de Israel. 

E nas nascentes e em todo lugar habitado da terra (Ez 34,13 Vulg). Dos montes a que nos referimos brotaram as nascentes da pregação evangélica, quando por toda a terra se difundiu sua voz (cf. Sl 18,5). E toda a terra habitada se tornou amena e fecunda para alimento das ovelhas. 

Em boas pastagens e nos altos montes de Israel as apascentarei. E ali estarão colocados seus redis (Ez 34,14), quer dizer, onde irão descansar, onde dirão: “Como é bom aqui”, onde dirão: “É verdade, está tudo claro, não fomos enganadas”. Repousarão na glória de Deus, como em seu redil. E dormirão, isto é, repousarão, em grandes delícias. 

Em férteis campos serão apascentadas sobre os montes de Israel (Ez 34,14). Já falei dos montes de Israel, dos bons montes para onde erguemos os olhos para daí nos vir auxílio. Mas o nosso auxílio vem do Senhor, que fez o céu e a terra (cf. Sl 123,8). Por isso, para que nem mesmo nos bons montes esteja nossa esperança, tendo dito: Apascentarei minhas ovelhas sobre os montes de Israel, e para que tu não te fixes nos montes, acrescenta logo: Eu apascentarei minhas ovelhas. Ergue os olhos para os montes, donde te virá auxílio, mas presta atenção ao que te diz: Eu apascentarei. Pois teu auxílio vem do Senhor que fez o céu e a terra. 

Termina assim: E as apascentarei com justiça (Ez 34,16). Reparai que só ele apascenta desse modo, aquele que apascenta com justiça. Que pode um homem julgar acerca de outro homem? Tudo está repleto de juízos temerários. Aquele de quem desesperávamos, de repente se converte e se torna ótimo. De quem muito esperávamos, subitamente fraqueja e se faz péssimo. Nem nosso temor é seguro, nem certo nosso amor. 

Aquilo que cada homem é hoje, mal sabe ele próprio. No entanto, é alguma coisa hoje. O que será amanhã, nem ele o sabe.Portanto, é só Ele quem apascenta com justiça, restituindo a cada um o que é seu: a estas, umas coisas; àquelas, outras. Dando o devido a cada uma, isto ou aquilo. Pois sabe o que faz. Apascenta com justiça aqueles que redimiu ao ser justiçado. Apascenta, portanto, com justiça.

Jesus viu-o, compadeceu-se dele e o chamou

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Das Homilias de São Beda Venerável, presbítero.

Jesus viu um homem chamado Mateus, assentado à banca de impostos, e disse-lhe: Segue-me (Mt 9,9). Viu-o não tanto com os olhos corporais quanto com a vista da íntima compaixão. Viu o publicano, dele se compadeceu e o escolheu. Disse-lhe então: Segue-me. Segue, quis dizer, imita; segue, quis dizer, não tanto pelo andar dos pés, quanto pela realização dos atos. Pois quem diz que permanece em Cristo, deve andar como ele andou (1Jo 2,6).

E levantando-se, o seguiu (Mt 9,9). Não é de admirar que o publicano, ao primeiro chamado do Senhor, tenha abandonado os lucros terrenos de que cuidava e, desprezando a opulência, aderisse aos seguidores daquele que via não possuir riqueza alguma. Pois o próprio Senhor que o chamara exteriormente com a palavra, interiormente lhe ensinou por instinto invisível a segui-lo, infundindo em seu espírito a luz da graça espiritual. Com esta compreenderia que quem o afastava dos tesouros temporais podia dar-lhe nos céus os tesouros incorruptíveis.

E aconteceu que, estando ele em casa, muitos publicanos e pecadores vieram e puseram-se à mesa com Jesus e seus discípulos (Mt 9,10). A conversão de um publicano deu a muitos publicanos e pecadores o exemplo da penitência e do perdão. Belo e verdadeiro prenúncio! Aquele que seria apóstolo e doutor dos povos, logo no primeiro encontro arrasta após si para a salvação um grupo de pecadores. Assim inicia o ofício de evangelizar desde os primeiros começos de sua fé aquele que viria a realizar este ofício plenamente com o merecido progresso das virtudes. Contudo se quisermos indagar pelo sentido mais profundo deste acontecimento nós o entenderemos: a Mateus foi muito mais grato o banquete na casa do seu coração, preparado pela fé e pelo amor do que o banquete terreno que ele ofereceu ao Senhor. Atesta-o aquele mesmo que diz: Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir minha voz e abrir a porta, entrarei e cearei com ele e ele comigo (Ap 3,20).

Ouvindo a sua voz, abrimos a porta para recebê-lo, ao aceitarmos de bom grado suas advertências secretas ou evidentes e nos pormos a realizar aquilo que compreendemos como o nosso dever. Ele entra para que ceemos, ele conosco e nós com ele, porque, pela graça de seu amor, habita nos corações dos eleitos para alimentá-los sempre com a luz de sua presença. Possam assim os eleitos cada vez mais progredir no desejo do alto, e ele mesmo se alimente com os desejos deles como com pratos deliciosos.

VIGÉSIMO QUINTO DOMINGO DO TEMPO COMUM – Ano B (P. Lucas, scj)

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Caros irmãos, a liturgia do vigésimo quinto domingo do Tempo Comum, Ano B, nos dá a oportunidade de rezar com o segundo anúncio da Paixão que Jesus faz aos Seus discípulos (cf. Mc 9,30-37). Rezemos pedindo ao Senhor que nos ilumine e converta nosso coração a fim de que nos disponhamos a segui-lo em toda a nossa vida.

Em particular, Jesus ensina Seus discípulos que vai chegar à Ressurreição através da Cruz (cf. Mc 9,31): assim, Ele Se mostra como o justo preanunciado no Antigo Testamento (cf. Sb 2,12.17-20 – primeira leitura). Os discípulos, porém, não compreendem o que Ele diz e, por isso, continuam focados na honra do primeiro lugar, em ser o maior (cf. Mc 9,34). Dessa forma, o Senhor lhes anuncia claramente: “se alguém quiser ser o primeiro, que seja o último de todos e aquele que serve a todos!” (Mc 9,35). Assim, o Cristo traz à luz a dinâmica própria do Reino dos Céus: nele, é maior aquele que serve humildemente. Na verdade, Jesus não está nos impondo um fardo, mas, pelo contrário, continua nos convidando a segui-lo, pois Ele mesmo, sendo Deus, esvaziou-se até a Cruz – veio servir e dar Sua vida em resgate por todos (cf. Fl 2,6-8; Mt 20,28).

Isso se torna concreto em nossas vidas quando, acolhendo o amor que Jesus nos dá, buscamos corresponder-lhe servindo nossos irmãos. Como uma mãe que serve humildemente os pequeninos pelo amor que nutre eles, nós somos chamados a fazer o bem a todos quantos convivem conosco, muitas vezes de modo imperceptível, por amor a Jesus. Essa é a sabedoria do alto que devemos pedir incessantemente ao Senhor (cf. Tg 3,16-4,3 – segunda leitura), afinal, abandonados a nós mesmos não seremos capazes de viver como viveu o Senhor Jesus Cristo. Abramo-nos, portanto, ao Seu amor e entreguemo-nos confiantemente à Sua vontade, pois é no amoroso serviço cotidiano que nos realizaremos como pessoas humanas.

Ó Pai dá-nos o Espírito Santo para que Teu Filho Jesus Cristo viva em nós! Virgem Maria, Mãe Imaculada, inspira-nos a dizer “sim” a Deus! São José, nosso protetor, rogai por nós.

Sub tuum præsidium confugimus.
sancta Dei Genitrix:
nostras deprecationes
ne despicias in necessitatibus:
sed a periculis cunctis libera nos semper,
Virgo gloriosa et benedicta.

XXV Domingo do Tempo Comum: Mc 9,30-37 – Só cresce quem é pequeno!

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Por Dom André Vital Félix da Silva, SCJ.

Quem é o maior entre nós?” Esta pergunta ocupava o coração e a mente dos discípulos enquanto caminhavam com Jesus, durante o tempo que o próprio Senhor tinha reservado para estar exclusivamente com eles: “Não queria que ninguém soubesse, pois ensinava aos discípulos”. Na iminência dos fatos decisivos que estavam para acontecer em Jerusalém: paixão, morte e ressurreição de Jesus, os discípulos necessitavam ter clareza do que significava seguir o Messias Jesus, proclamado há pouco por Simão Pedro. 

Na subida para Jerusalém, depois da confissão de Pedro, Marcos por três vezes sublinha a declaração de Jesus, feita com franqueza (parresia: clareza serena e firme) sobre aquilo que o aguardava no fim de seu caminho (Mc 8,31-32;9,30-31;10,32-34). Se até então, os discípulos, apesar dos numerosos milagres e prodígios, ensinamentos cheios de sabedoria e autoridade, não tinham ainda conseguido entender quem era Jesus, agora é o próprio Senhor, que evitando toda dispersão e ambiguidade, procura chamar os seus discípulos àquela clareza meridiana da verdade sobre a sua Pessoa e o seu destino, como Messias sofredor, mas jamais abandonado por Deus, pois é Filho de Deus. O sofrimento e a morte do Filho do Homem criam incompreensão e pavor nos discípulos, mas o anúncio da sua ressurreição após três dias confirma que Ele é verdadeiramente Filho de Deus. 

Os discípulos, apesar de terem toda a liberdade para pedir esclarecimentos sobre os ensinamentos de Jesus, em algumas ocasiões preferiram calar ou mesmo fazer barulho de fundo para não ter que ouvir a verdade sobre o Mestre.

Para além de uma incompreensão, verifica-se uma dificuldade de aceitação, pois isso implica compromisso e consequências. Quantas vezes preferimos afirmar que não entendemos o que foi dito para nos isentar das responsabilidades decorrentes daquilo que ouvimos. O anúncio feito por Jesus de sua morte e ressurreição não foi expresso em forma enigmática ou em linguagem simbólica que exigissem uma interpretação de mentes superiores ou iluminadas. Não havia o que interpretar, a não ser aceitar. Portanto, a incompreensão dos discípulos não diz respeito a uma dificuldade de entender o que Jesus estava dizendo, mas a dificuldade de aceitar que seguir o Messias Jesus era assumir também o seu destino, a sua cruz, a sua morte para poder participar da sua ressurreição. 

Quando alguém se cala, diante do que não compreende, isto pode indicar duas atitudes de fundo. Primeiramente, uma incompreensão absoluta de tal modo que não sabe nem dizer o que não entendeu, e por isso, não sabe o que perguntar. Por outro lado, pode também ser uma artimanha para isentar-se das responsabilidades que ele mesmo chega a intuir diante do que foi dito e, portanto, é mais cômodo apelar para a falta de compreensão e não se comprometer.

Os discípulos se calaram diante da palavra “incompreensível” de Jesus, mas a reação não foi de sadia curiosidade para esclarecer o que ouviram; diz Marcos que “Eles temiam (grego: efobounto, tinham fobia) pedir explicação”.

Diante do medo, do pavor de ter que seguir as pegadas do Mestre, que se encaminha para a cruz, nada melhor do que buscar subterfúgios, tomar o caminho da alienação. Alienação muito sutil, pois objetivamente estavam no mesmo caminho os discípulos e Jesus, mas em direções completamente opostas. Enquanto o Mestre se encaminhava para a consumação do seu esvaziamento voluntário (kenosis), os discípulos disputavam por poderes e privilégios, atitude descabida e irônica de quem se dizia discípulo. Enquanto a autoridade do ensinamento de Jesus, já reconhecida no início do seu ministério (Mc 1,22), iria ser autenticada pela entrega de sua vida na cruz, os discípulos almejam a recompensa de ter seguido um messias sem cruz, esperando a condecoração do primeiro lugar. 

A pergunta dos discípulos: “Quem é o maior entre nós?” é a dramática revelação de que não reconheceram ainda quem é Jesus a quem chamam de Mestre. Mestre em aramaico se diz Rabi (literalmente significa: rab, grande; i, meu). Por conseguinte, se eles chamavam Jesus de “meu grande”, a pergunta já estava respondida. Quem é o maior entre nós? O Mestre. Mas excluindo Jesus do “entre nós”, perderam a sua identidade de discípulos, agora todos querem ser o grande num grau superior: o maior. Se a tentação de Pedro, chamado de Satanás, ao responder que Jesus era o Messias, foi tentar tirar Jesus do caminho da cruz (XXIV Domingo do Tempo Comum), agora os outros querem usurpar o lugar de Jesus, não mais reconhecendo-o como o maior entre eles.

Nada melhor para provocar a desalienação do que um gesto profético que choque a mentalidade alienada. Eis o que faz Jesus: abraçando uma criança, declara quem é o maior. Infelizmente a tradução das palavras de Jesus para outra língua pode sofrer perdas significativas. Em aramaico, a língua de Jesus, tanto para criança como para servo (também para cordeiro) usa-se o mesmo vocábulo, isto é, talia. Desta forma, Jesus abraçando uma criança, torna visível de forma muito didática o que significou a sua encarnação, qual a sua identidade, quem Ele é (Fl 2,6.7.8):  “Sendo Filho não se apegou à sua condição divina (grande), mas se esvaziou e abraçou a condição de servo (criança)…humilhou-se e foi obediente até a morte, e morte de cruz! (Primogênito dentre os mortos: primeiro). 

Se nós cristãos ainda caímos na tentação de procurar saber quem é o maior entre nós, nas nossas comunidades, nos trabalhos pastorais, vivemos a pior das alienações, pois pensamos seguir Jesus, mas tomando um caminho que não é o Dele.

Fonte: https://www.dehonianosbre.org.br/homilias/xxv-domingo-do-tempo-comum–mc-9-30-37–so-cresce-quem-e-pequeno-

EM CAUSA TÃO JUSTA, NÃO HÁ QUE DISCUTIR

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Das Atas Proconsulares sobre o martírio de São Cipriano, bispo.

No dia décimo oitavo das calendas de outubro pela manhã, grande multidão se reuniu no campo de Sexto, conforme a determinação do procônsul Galério Máximo. Este, presidindo no átrio Saucíolo, no mesmo dia ordenou que lhe trouxessem Cipriano. Chegado este, o procônsul interrogou-o: “És tu Táscio Cipriano?” O bispo Cipriano respondeu: “Sou”. 

O procônsul Galério Máximo: “Tu te apresentaste aos homens como papa do sacrílego intento?” Respondeu o bispo Cipriano: “Sim”. 

O procônsul Galério Máximo disse: “Os augustíssimos imperadores te ordenaram que te sujeites às cerimônias”. Cipriano respondeu: “Não faço”. 

Galério Máximo disse: “Pensa bem!” O bispo Cipriano respondeu: “Cumpre o que te foi mandado; em causa tão justa, não há que discutir”.

Galério Máximo deliberou com o seu conselho e, com muita dificuldade, pronunciou a sentença, com estas palavras: “Viveste por muito tempo nesta sacrílega ideia e agregaste muitos homens nesta ímpia conspiração. Tu te fizeste inimigo dos deuses romanos e das sacras religiões, e nem os piedosos e sagrados augustos príncipes Valeriano e Galieno, nem Valeriano, o nobilíssimo César, puderam te reconduzir à prática de seus ritos religiosos. Por esta razão, por seres acusado de autor e guia de crimes execráveis, tu te tornarás uma advertência para aqueles que agregaste a ti em teu crime: com teu sangue ficará salva a disciplina”. Dito isto, leu a sentença: “Apraz que Táscio Cipriano seja degolado à espada”. O bispo Cipriano respondeu: “Graças a Deus”! 

Após a sentença, o grupo dos irmãos dizia: “Sejamos também nós degolados com ele”. Por isto houve tumulto entre os irmãos e grande multidão o acompanhou. E assim Cipriano foi conduzido ao campo de Sexto. Ali tirou o manto e o capuz, dobrou os joelhos e prostrou-se em oração ao Senhor. Retirou depois a dalmática, entregando-a aos diáconos e ficou de alva de linho e aguardou o carrasco, a quem, quando chegou, mandou que os seus lhe dessem vinte e cinco moedas de ouro. Os irmãos estenderam diante de Cipriano pano de linho e toalha. O bem-aventurado quis vedar os olhos com as próprias mãos. Não conseguindo amarrar as pontas, o presbítero Juliano e o subdiácono Juliano o fizeram. 

Deste modo morreu o bem-aventurado Cipriano. Seu corpo, por causa da curiosidade dos pagãos, foi colocado ali perto, de onde, à noite, foi retirado e, com círios e tochas, hinos e em grande triunfo, levado ao cemitério de Macróbio Candidiano, administrador, existente na via Mapaliense, junto das piscinas. Poucos dias depois, morreu o procônsul Galério Máximo. 

O mártir santíssimo Cipriano foi morto, no dia décimo oitavo das calendas de outubro, sob Valeriano e Galieno imperadores, reinando, porém, nosso Senhor Jesus Cristo, a quem a honra e a glória pelos séculos dos séculos. Amém.

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