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TRIGÉSIMO QUARTO DOMINGO DO TEMPO COMUM: SOLENIDADE DE JESUS CRISTO, REI DO UNIVERSO (Ano A) – P. Lucas, scj

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Caros irmãos, o último domingo do ano litúrgico é reservado para a celebração da solenidade de Jesus Cristo, Rei do universo. E neste Ano A, a liturgia nos propõe Jesus que se apresenta como Juiz-Pastor (cf. Mt 25,31-46). Que o Espírito Santo nos faça dóceis e disponíveis ao Rei de Misericórdia.

Que Jesus Cristo seja verdadeiramente Rei, já o vemos nos evangelhos desde o anúncio a Maria (cf. Lc 1,32-33), na Sua pregação (cf. Mc 1,15), mas sobretudo diante de Pilatos (cf. Jo 18,36) e antes de Sua gloriosa ascensão (cf. Mt 28,28). Isso se mostra também no evangelho de hoje no versículo que introduz toda a cena do Juízo universal: “Quando o Filho do Homem vier em sua glória […], então se assentará em seu trono glorioso” (Mt 25,31). Jesus é Rei e é preciso que Ele reine (cf. 1Cor 15,25), pois Seu Reino que não terá fim. Trata-se, porém, de um Rei que governa Seu povo como um Pastor.

Isso significa que Cristo reina procurando Seu rebanho, tomando conta dele e apascentando-o (cf. Ez 34,11.15). Não se trata, assim, de uma autoridade distante e ameaçadora, mas de uma presença que é, ao mesmo tempo, suave e forte, misericordiosa e justa, calorosa e firme, pois trata-se do Caminho, da Verdade e da Vida (cf. Jo 14,6). Nós, então, que queremos ser seu povo e seu rebanho (cf. Sl 99[100],3) precisamos nos deixar conduzir por Ele (cf. Sl 22[23],1). Em outras palavras, precisamos ser dóceis ao que Ele, por misericórdia nos revelou. Não caminhemos, portanto, na revolta: mas abramo-nos à Sua presença para que nos tornemos misericordiosos como Ele é misericordioso (cf. Mt 25,40).

Pai, envia-nos o Espírito Santo sejamos um com Teu Filho, Jesus Cristo, nosso Rei e Senhor. Maria, Mãe de Deus, inspira-nos na docilidade ao Senhor. S. José, nosso protetor, dá-nos a intimidade com Jesus.

Sub tuum præsidium confugimus.
sancta Dei Genitrix:
nostras deprecationes
ne despicias in necessitatibus:
sed a periculis cunctis libera nos semper,
Virgo gloriosa et benedicta.

Solenidade de Cristo Rei: Mt 25,31-46 – Julgado injustamente pelos homens, agora os julga com justiça.

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Por Dom André Vital Félix da Silva, SCJ.

A Solenidade de Jesus Cristo, Rei do Universo, foi instituída pelo Papa Pio XI (11.12.1925) cuja intenção revestia a festa de um caráter fundamentalmente social. A reforma litúrgica, colocando-a no último Domingo do Tempo Comum, deu-lhe um significado diferente, sublinhando a dimensão escatológica do Reino na sua consumação final. Assim, Cristo aparece como o centro e Senhor da história, desde o início até seu final” (Cristo, Festa da Igreja, p. 436). 

A perícope dessa Solenidade ressalta esse senhorio de Cristo que alcança seu ápice na conclusão da história, com o juízo final. Porém, tal juízo não é arbitrário e alheio à história, como se fosse um ponto no fim de uma longa estrada. Pelo contrário, o juízo final iniciou desde o momento no qual o Filho Eterno do Pai se fez carne, assumindo a nossa condição humana a fim de salvá-la e livrá-la da perdição eterna. A partir do momento em que Ele se fez um de nós, estabeleceu os critérios justos para o julgamento da humanidade, chamada à realização do projeto do Pai: a vida em plenitude.

As clássicas obras de misericórdia (corporais), elencadas como critérios concretos do julgamento, não são ações isoladas praticadas simplesmente por um humanismo horizontalista, mas retomam as fundamentais etapas do caminho da humanidade necessitada de um julgamento justo em vista da sua autêntica libertação. Portanto, sem a Encarnação do Verbo, o homem não seria capaz de descobrir o significado profundo da sua fome e da sua sede, da sua peregrinação como estrangeiro nessa terra, de sua nudez e da sua enfermidade, das suas prisões.

O Filho do homem faminto e sedento no ser humano não apenas reclama uma ação caritativa, mas uma verdadeira conversão, isto é, reconhecer que no humano semelhante o próprio Deus se faz presente com fome e sede: “Tive fome e me deste de comer… tive sede e me deste de beber”. Jesus não afirma que o ato de caridade foi realizado em nome dele, mas a Ele mesmo.

Eu era peregrino”: a Encarnação do Verbo Eterno marcou profundamente a sua jornada itinerante na terra como o verdadeiro estrangeiro que saindo do Pai veio habitar entre nós. Assim como o povo peregrino no deserto, armando suas tendas, o Criador de tudo quis assumir a nossa provisoriedade, batendo à nossa porta, procurando guarida e abrigo entre nós. “Eu estava nu”: despojando-se de sua glória, “não apegando-se ciosamente à sua condição divina” (Fl 2,6), assumiu a nossa nudez, assemelhando-se ao Adão mortal, a fim de que este fosse revestido de imortalidade. 

Não bastasse assumir a nossa fome e sede, a nossa peregrinação como estrangeiros e a nossa nudez, declara: “Eu estava doente”, pois levava sobre si todas as nossas enfermidades, as nossas dores ele carregava (cf. Is 53,4), portanto, se fez um conosco na nossa doença.

Ademais, declara: “Eu estava na prisão”, enquanto aguardava o julgamento, ou seja, o juízo dos homens que o condenariam à morte, fazendo-se prisioneiro uniu-se a todos os prisioneiros que, mesmo aguardando uma sentença condenatória, abrem-se à misericórdia do Pai, “que não quer a morte do pecador, mas que se converta e viva” (Ez 33,11). A prisão será um destino quase que natural para os primeiros seguidores de Jesus (cf. At 4,3; 5,18). E ao longo da história do cristianismo ainda tem perdurado essa realidade. Portanto, não é um simbolismo romântico o Cristo ser aprisionado no homem encarcerado. 

Todas as situações que se tornam critério para o juízo final demonstram que não é Deus quem decide arbitrariamente o destino final, mas é o próprio ser humano que é chamado a realizar a primeira etapa do julgamento final enquanto percorre as sendas da história. Professando explicitamente a fé ou não, os critérios para o julgamento são os mesmos, pois muitos dirão naquele dia: “Quando foi que te vimos com fome e te demos de comer,…

A partir da Encarnação, Deus inaugurou uma via de acesso muito “fácil” a Ele, pois o seu Filho uniu-se a todos os homens (cf. Catecismo da Igreja Católica n. 432), portanto, matar a fome e a sede do ser humano necessitado é saciar o próprio Deus encarnado; acolher o semelhante estrangeiro é abrir espaço para que o próprio Deus arme sua tenda; socorrer o próximo doente é curvar-se diante do grande mistério do Deus que por amor assume a nossa dor; visitar o encarcerado, sem discriminação ou condenação, é reconhecer sem hipocrisia nossas prisões das quais o Senhor quer nos libertar. 

Prêmio eterno ou castigo para sempre é sentença justa de quem escolheu ou não a misericórdia como critério para julgar e discernir que no outro habitava algo maior do que ele mesmo.

Fonte: https://www.dehonianosbre.org.br/homilias/solenidade-de-cristo-rei–mt-25-31-46–julgado-injustamente-pelos-homens-agora-os-julga-com-justica-

TRIGÉSIMO TERCEIRO DOMINGO DO TEMPO COMUM (Ano A) – P. Lucas, scj

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Caros irmãos, na liturgia deste trigésimo terceiro domingo do Tempo Comum, Ano A, Jesus nos conta a parábola dos talentos (cf. Mt 25,14-30). Que, inspirados pelo Espírito Santo, estejamos prontos a fazer frutificar os dons que recebemos de Deus.

A parábola que nosso Senhor conta aos discípulos nos ajuda a compreender como podemos corresponder ao Amor de Deus que Ele manifesta em nossas vidas. De fato, nosso bom Deus e Pai nos cumulou, por Sua misericórdia, com tantos dons ou talentos que possuem um valor inestimável: tanto do ponto de vista pessoal, como das Graças que Ele nos deu, sobretudo através do Evangelho e dos sacramentos. Desse modo, não podemos deixar escondido o tesouro que recebemos (cf. Mt 25,18).

Por isso, somos chamados a sair logo e trabalhar com os dons que recebemos (cf. Mt 25,16-17). Em primeiro lugar, isso significa que precisamos reconhecer o que recebemos e agradecer Aquele que nos proporcionou tais dons. Além disso, é preciso trabalhar na fidelidade, ou seja, sabendo que somos administradores de grandes bens, mas não seus donos. Portanto, acolhamos o Evangelho que é de Deus, coloquemo-nos a seu serviço, frutificando a graça que dele recebemos até a santidade. Assim, levaremos o Amor de Deus àqueles que ainda não o reconheceram e estaremos prontos para acolhê-lo quando Ele vier nos buscar.

Pai, dá-nos o Espírito Santo para que nossa comunhão com Teu Filho, Jesus Cristo, produza em nós frutos de santidade. Maria, Mãe de Deus, ensina-nos a dizer sim a Deus. S. José, ensina-nos a trabalhar no escondimento por amor a Deus.

Sub tuum præsidium confugimus.
sancta Dei Genitrix:
nostras deprecationes
ne despicias in necessitatibus:
sed a periculis cunctis libera nos semper,
Virgo gloriosa et benedicta.

XXXIII Domingo Tempo Comum: Mt 25,14-30 – Talentosos ou preguiçosos infiéis

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Por Dom André Vital Félixa da Silva, SCJ.

Qualquer pessoa atenta à leitura do evangelho deste Domingo não teria dificuldade nenhuma de compreender aquilo que Jesus ensina nesta parábola, isto é, a responsabilidade que cada um tem de fazer multiplicar os talentos e capacidades que recebeu, contudo, não é tão simples entender a chocante afirmação da conclusão: “Tirai dele o talento e dai-o àquele que tem dez. Porque a todo aquele que tem será dado mais, e terá em abundância, mas daquele que não tem, até o que tem lhe será tirado”. Fora do seu contexto, sem dúvida, esta palavra soaria como injustiça. Mas quem ouviu todo o desenrolar da história, reconhecerá que não seria possível uma outra conclusão. 

Apesar de ter sido acusado por um de seus servos de ser um “homem severo, pois colhe onde não plantou e ceifa onde não semeou”, o patrão não foi em nenhum momento injusto ou cruel com os seus servos, pois “chamou-os e lhes entregou seus bens… deu a cada um segundo a sua capacidade”. O patrão não agiu com exclusivismos, mas com realismo. Pois o mais importante não era o valor do lucro, mas a capacidade de administrar bem o pouco, para poder entrar naquilo que era o muito mais: “Vem participar da minha alegria”.

A palavra “talento” originalmente não é, como geralmente entendemos, capacidades, dons, aptidões. Talento é um instrumento para medir o peso, uma balança (grego talentov: “balança”, de talas, “o que suporta, sustenta”). Evidentemente que a partir daí se começou a considerar o talento aquilo que é “pesado”, valioso etc. Mas para além de questões terminológicas, o que está em foco é o ensinamento de Jesus em relação às posturas existenciais que o ser humano assume no seu caminho rumo à eternidade. A diversidade da quantidade dos talentos (5 – 2 – 1) não representa uma distribuição injusta, pois a injustiça seria se um recebesse 5 e o outro nenhum. A liberalidade do patrão se adequou à disposição de cada um: “a cada qual de acordo com a sua capacidade” (grego: dúnamis, força), o que contradiz a fala do servo preguiçoso. Pois se o patrão tivesse lhe confiado 5 talentos, ou seja, algo superior à sua capacidade, de fato, poderia ser acusado de recolher onde não semeou. 

Muito significativa é a fala do patrão no momento da prestação de contas: “Servo, bom e fiel! Como foste fiel no pouco…”. Portanto, o patrão não confiou aos seus servos uma tarefa exorbitante, que os tornasse quase que incapazes de administrar. Mas lhes deu apenas uma “balança”, ou seja, favoreceu-lhes oportunidades para que pudessem medir as suas capacidades, a sua disposição responsável diante da administração dos bens que lhes foram confiados, descobrindo assim as suas potencialidades. Essa é a lei da vida: não nascemos prontos, mas o itinerário da existência é sempre a possibilidade de, medindo as nossas capacidades inatas e adquiridas, crescermos sempre mais em direção à plenitude de vida. 

A diferença fundamental entre os dois primeiros servos e o terceiro não está simplesmente na quantidade recebida, mas na qualidade do seu agir diante do que receberam. Os dois primeiros saíram logo, trabalharam e lucraram. Mas o terceiro: “cavou um buraco na terra e escondeu o dinheiro do seu patrão”. Duas atitudes incoerentes: cavar a terra e esconder o dinheiro. Enquanto os outros dois saíram e trabalharam, isto é, investiram a soma em algo que se multiplicasse, o servo preguiçoso plantou o dinheiro, isto é, totalmente fora de propósito, pois se ao menos tivesse comprado sementes, teria sentido cavar a terra, e certamente teria lucrado abundantemente com a colheita. Esconder o dinheiro do seu patrão no campo, além de fazer mau uso dele, colocava-o em risco, pois outra pessoa poderia encontrá-lo, como na parábola do tesouro escondido (cf. Mt 13,44).  

Portanto, entendendo o talento como a oportunidade que nos é dada para medirmos as nossas capacidades, despertá-las, reconhecê-las, fazê-las crescer, exige de nós a disposição (dúvamis: a força) de trabalhar os bens recebidos. As provocações e desafios da vida nos abrem a possibilidade de sair do nosso comodismo, da tendência hodierna à mediocridade, às vezes justificadas porque consideramos que é muito pouco o que temos (1 talento) e, por isso, não vale a pena nenhum sacrifício para nos empenharmos na administração coerente e fiel dos bens (materiais e espirituais). Mas também podemos fazer como o servo mau e preguiçoso que, na verdade, não lhe foi tirado injustamente o pouco que tinha, mas ele mesmo rejeitou o que recebera por causa de sua falta de iniciativa na administração. Na verdade, não perdeu o pouco que tinha, mas rejeitou o pouco que lhe foi dado. Como lembramos, na fala do patrão todos receberam “pouco”, mas o que se tornou grande não foi o resultado material, mas a bondade e fidelidade dos servos. Na vida, nos é confiada constantemente uma balança para medirmos as nossas capacidades, valores, possibilidades, cabe a nós decidir o que fazemos com ela, se somos talentosos ou preguiçosos infiéis.

Fonte: https://www.dehonianosbre.org.br/homilias/xxxiii-domingo-tempo-comum–mt-25-14-30–talentosos-ou-preguicosos-infieis

TRIGÉSIMO SEGUNDO DOMINGO DO TEMPO COMUM (Ano A) – P. Lucas, scj

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Caros irmãos, na liturgia deste trigésimo segundo domingo do Tempo Comum, Ano A, rezaremos com a parábola das dez virgens (cf. Mt 25,1-13). Que o Espírito Santo nos dê a graça de um amor inflamado por Jesus.

As leituras das últimas semanas de um ano litúrgico nos levam a refletir sobre a vinda de nosso Senhor. Por isso, neste domingo, ouvimos Jesus nos contar a parábola das virgens: através dela, somos chamados a refletir sobre a virtude da vigilância e sobre as virtudes que ela impulsiona em nossa vida. Que devemos ser vigilantes, lemos claramente na conclusão: “portanto, ficai vigiando, pois não sabeis qual será o dia, nem a hora” (Mt 25,13). Assim, as virgens que estão esperando a chegada do noivo podem representar a Igreja – portanto, todos e cada um de nós – que espera a vinda de Cristo: no final dos tempos, claro, mas também na nossa morte e, ainda, na Graça que nos é dada diariamente.

Notemos ainda que as dez virgens têm a mesma atitude: elas esperam o noivo e, portanto, levam as suas lâmpadas; todas cochilam pela demora do que há de vir. O que diferencia as prudentes das imprudentes é que as primeiras levam óleo e, as segundas, não. De fato, é impossível realizar-se, ou seja, santificar-se, vivendo a religião cristã somente nas aparências: é necessário a unção interior. Isso significa que é necessário que o Espírito Santo faça crescer em nós a virtude da devoção, que é uma prontidão para amar a Deus e obedecê-lo, para que nossos atos religiosos não sejam estéreis. Nesse sentido, portanto, é preciso nutrir, através da meditação da Palavra e da oração, nossa alma com o Evangelho, com o Amor de Deus por nós.

Pai, dá-nos o Espírito Santo para que estejamos cada vez em comunhão mais profunda com Teu Filho, Jesus Cristo. Maria, Mãe de Deus, inspira-nos a resposta positiva a Deus. S. José, dá-nos viver sempre na intimidade com Jesus.

Sub tuum præsidium confugimus.
sancta Dei Genitrix:
nostras deprecationes
ne despicias in necessitatibus:
sed a periculis cunctis libera nos semper,
Virgo gloriosa et benedicta.

XXXII Domingo Tempo Comum: Mt 25,1-13 – Se há óleo suficiente, um cochilo não faz mal!

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Por Dom André Vital Félix da Silva, SCJ.

Estamos nos aproximando da conclusão do Ano Litúrgico, por isso o tema da vigilância relacionado à espera da vinda definitiva do Senhor ganha realce nesses últimos Domingos. Contudo, a espera vigilante, um tema muito presente em toda a Tradição Bíblica, não significa postura inoperante e acomodada, mas pelo contrário, exige atitudes que testemunhem fidelidade e empenho, cujo fundamento está na certeza da presença permanente do Senhor, que não é um ausente, mas Aquele que quis ser chamado Emanuel, “Deus conosco” (Mt 1,23), e prometeu estar sempre com os seus até a consumação dos séculos (Mt 28,20). A insistência pedagógica: “Portanto, ficai vigiando, pois não sabeis qual será o dia nem a hora”, não pretende criar terrorismo ou pavor para aprisionar as pessoas num medo que as paralisa criando apenas uma expectativa fatalista da conclusão pontual da sua vida, mas pelo contrário, evidencia a certeza de que a meta última da existência é a plenitude de vida, pois todos são chamados a tomar parte nas Bodas Eternas; o fato de não se saber nem o dia e nem a hora, torna o coração do ser humano mais livre, pois impede-lhe de antecipar o fim do amanhã, já que a missão se realiza no hoje.

A espera vigilante não tira a liberdade da vida, mas dá sentido e direção à existência. O cristão não é um forasteiro que se aventura por sendas desconhecidas, nem mesmo um deserdado que não sabe onde está, mas um caminhante que conhece não apenas uma estrada, mas deixa-se guiar por Aquele que é o próprio caminho, pois é a verdadeira luz. A esperança cristã não proporciona vácuos ao longo da estrada, mas preenche de alegria e certeza todo o percurso, pois não se anseia o inesperado, nem muito menos se aguarda o calculado, mas se acolhe o dom oferecido.

A parábola desse Domingo, As Dez Jovens, mais do que enfatizar o fim como simples recompensa ou condenação, chama-nos a atenção para a nossa responsabilidade intransferível diante do dom da vida que é presente oferecido gratuitamente, mas ao mesmo tempo, convite a cuidar dele com solicitude, fidelidade e amor.   

Se não considerarmos com atenção o desenrolar da parábola, poderemos concluir apressadamente que o motivo de as cinco virgens imprevidentes não entrarem na sala do banquete foi o fato de não terem as suas lâmpadas acesas. O conselho das outras cinco poderia supor a possibilidade de, mesmo chegando atrasadas, as outras poderem ser admitidas às Bodas: “É melhor irdes comprar dos vendedores”. Contudo, a conclusão da parábola não diz isso, pois a afirmação do noivo é: “Em verdade eu vos digo: não vos conheço!” Eis, portanto, a razão principal de não poderem ser admitidas à festa: o noivo não as conhece. 

A garantia para entrar na sala não estava no simples fato de ter lâmpadas acesas, mas de terem acompanhado a noiva que aguardava a chegada do seu esposo. Além de dar um caráter festivo e solene ao cortejo nupcial levando as suas lâmpadas acesas, as jovens que acompanham a amiga esposa tinham o privilégio de conhecer o noivo, e de serem conhecidas por ele, o que garantiria serem admitidas à festa. 

Ter as lâmpadas acesas, sinal de prontidão não garante ainda a entrada na festa. Acompanhar a noiva e, sobretudo, quando esta se encontra com o seu esposo, é a condição indispensável para poder entrar e participar do banquete. Não é estar à porta da casa do noivo com lâmpadas acesas que dá direito à festa. Mas fazer o caminho com ele, isto é, manter a lâmpada acesa por todo o percurso. Esse percurso iluminado não era apenas para lançar luz sobre uma estrada por onde se devia passar, mas cada lâmpada levada individualmente lançava luz também no próprio rosto de quem a levava, dando assim oportunidade ao noivo de reconhecer, em seguida, a cada uma das jovens que, de verdade, tinham percorrido o caminho, pois o Noivo as conhece, enquanto caminham juntos.

O tema da luz na Sagrada Escritura está muito relacionado ao conhecimento de Deus, da sua vontade, e ao compromisso de viver a sua Palavra. Portanto, ter lâmpadas apagadas significa indiferença em relação a essa Palavra, o que torna incapaz de caminhar, pois ela é a luz que indica o caminho. Consequentemente, abandona-se o caminho em direção ao Noivo, para tomar um outro em direção aos vendedores, impedindo assim de as jovens desatentas serem conhecidas pelo noivo no momento da festa.

Ainda que se cochile enquanto se espera, não se pode descuidar da responsabilidade pessoal, intransferível, de manter as lâmpadas acesas, pois são elas que ajudam a ver a estrada por onde caminhar, iluminado também os rostos a fim de que o Noivo os conheça e reconheça para os admitir à sua festa.

Fonte: https://www.dehonianosbre.org.br/homilias/xxxii-domingo-tempo-comum–mt-25-1-13–se-ha-oleo-suficiente-um-cochilo-nao-faz-mal-

SOLENIDADE DE TODOS OS SANTOS

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Caros irmãos, celebramos a Solenidade de Todos os Santos, transferida da última quarta-feira e a liturgia nos apresenta no Evangelho o início do sermão da montanha, no qual Jesus propõe as bem-aventuranças (cf. Mt 5,1-12a). Que o Espírito Santo nos purifique através da união cada vez mais profunda a nosso Senhor Jesus Cristo, levando-nos, assim, a dar glória a Deus Pai.

A solenidade de hoje nos dá a oportunidade para glorificar o Senhor, nosso Deus, ao menos, em duas perspectivas diferentes: a primeira, contemplando aqueles que nos precederam na fé, nos recorda a infinita potência da misericórdia de Deus que, em Seu Filho Jesus Cristo, pela ação do Espírito Santo, eleva nossa humilde condição às alturas da Sua vida divina. Os santos, de fato, nos recordam que Deus é capaz de transformar a humanidade de tal modo que homens e mulheres concretos uniram-se de tal modo a Ele que tornaram-se participantes da natureza divina. E são tantos! Uma multidão imensa, de todas as nações, tribos, povos e línguas, e que ninguém pode contar (cf. Ap 7,9).

A segunda perspectiva parte daquilo que somos, pois “tornarmo-nos santos significa realizar plenamente aquilo que já somos enquanto elevados, em Cristo Jesus, à dignidade de filhos adotivos de Deus” [1]. Nós já o somos, pelo Batismo, mas o seremos plenamente quando Jesus se manifestar. Ora, seremos semelhantes a Ele porque seremos purificados por Ele. De fato, “todo o que espera nele, purifica-se a si mesmo, como também ele é puro” (1Jo 3,3). Não estamos condenados a permanecer eternamente com o coração dividido como o temos agora, mas, empenhando-nos para viver de fé e crescer na união a Cristo de fé em fé, teremos nosso coração transformado pela Sua presença até que Ele seja tudo em nós e, portanto, seremos, também nós, bem-aventurados (cf. Mt 5,2-12).

Pai santo, envia-nos o Espírito Santo para que estejamos cada vez mais profundamente unidos a Teu Filho, Jesus Cristo. Maria santíssima, Mãe de Deus, inspira-nos no sim a Deus. S. José, nosso protetor, dá-nos a intimidade com Jesus.

Sub tuum præsidium confugimus.
sancta Dei Genitrix:
nostras deprecationes
ne despicias in necessitatibus:
sed a periculis cunctis libera nos semper,
Virgo gloriosa et benedicta.

[1] Bento XVI, Angelus, 1º de novembro de 2005.

NÃO SEJAS COMO QUEM DIZ UMA COISA E FAZ OUTRA

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Do Sermão proferido no último sínodo por São Carlos, bispo

Somos todos fracos, confesso, mas o Senhor Deus nos entregou meios com que, se quisermos, poderemos ser fortalecidos com facilidade. Tal sacerdote desejaria possuir uma vida íntegra, que dele é exigida, ser continente e ter um comportamento angélico, como convém, mas não se resolve a empregar estes meios: jejuar, orar, fugir das más conversas e de nocivas e perigosas familiaridades. 

Queixa-se de que, ao entrar no coro para a salmodia, ao dirigir-se para celebrar a missa, logo mil pensamentos lhe assaltam a mente e o distraem de Deus. Mas, antes de ir ao coro ou à missa, que fez na sacristia, como se preparou, que meios escolheu e empregou para fixar a atenção?  

Queres que te ensine a caminhar de virtude em virtude e como seres mais atento ao ofício, ficando assim teu louvor mais aceito de Deus? Escuta o que digo. Se ao menos uma fagulha do amor divino já se acendeu em ti, não a mostres logo, não a exponhas ao vento! Mantém encoberta a lâmpada, para não se esfriar e perder o calor; isto é, foge, tanto quanto possível, das distrações; fica recolhido junto de Deus, evita as conversas vãs.  

Tua missão é pregar e ensinar? Estuda e entrega-te ao necessário para bem exerceres este encargo. Faze, primeiro, por pregar com a vida e o comportamento. Não aconteça que, vendo-te dizer uma coisa e fazer outra, zombem de tuas palavras, abanando a cabeça. 

Exerces cura de almas? Não negligencies por isso o cuidado de ti mesmo, nem dês com tanta liberalidade aos outros que nada sobre para ti. Com efeito, é preciso te lembrares das almas que diriges, sem que isto te faça esquecer da tua.  

Entendei, irmãos, nada mais necessário aos eclesiásticos do que a oração mental que precede, acompanha e segue todos os nossos atos: Salmodiarei, diz o Profeta, e entenderei (cf. Sl 100,1 Vulg.). Se administras os sacramentos, ó irmão, medita no que fazes; se celebras a missa, medita no que ofereces; se salmodias no coro, medita a quem e no que falas; se diriges as almas, medita no sangue que as lavou e, assim, tudo o que é vosso se faça na caridade (1Cor 16,14). Deste modo, as dificuldades que encontramos todos os dias, inúmeras e necessárias (para isto estamos aqui), serão vencidas com facilidade. Teremos, assim, a força de gerar Cristo em nós e nos outros.

Solenidade de todos os Santos e Santas de Deus: Mt 5,1-12a – As bem-aventuranças: uma subida possível

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Por Dom André Vital Félix da Silva, SCJ.

São Gregório de Nissa (Sermões sobre as Bem-aventuranças) afirma que as Bem-aventuranças são como os degraus de uma escada que conduz ao céu. Usando essa imagem, poderíamos dizer que Jesus, subindo a montanha (versão de Mateus) para lá proclamar quem são os bem-aventurados, não apenas deslocou-se geograficamente, mas indicou de forma simbólica o itinerário existencial-espiritual de todo ser humano que deseja alcançar a verdadeira realização, a santidade, a vida plena. É preciso ter a coragem de seguir seus passos, abandonar uma vida medíocre, acomodada a uma planície rasteira, sem desafios, talvez fácil de caminhar, mas que não leva a nenhum lugar.  

As nove Bem-aventuranças indicam três etapas nessa longa caminhada. As três primeiras dizem respeito às dificuldades iniciais de quem decide subir a montanha seguindo o Bem-aventurado por excelência, as seguintes estão relacionadas à necessidade de perseverança e fidelidade para não desistir da subida, e as três últimas coroam a subida ressaltando a importante missão do cristão no mundo, pois está consciente da sua recompensa feliz no céu.  

A primeira etapa compreende as três primeiras condições fundamentais para começar a subir a montanha. Enquanto a mentalidade materialista e hedonista propõe uma felicidade garantida pela riqueza, prazeres e honras humanas, Jesus ensina que só é feliz quem é pobre, aflito e manso. A primeira bem-aventurança: “Bem-aventurados os pobres em espírito”, apresenta o ponto de partida, pois quem deseja subir uma montanha precisa estar despojado ao máximo, não pode levar peso nem bagagens excessivas, pois caso contrário, à medida que for subindo, não terá forças para continuar. Portanto, bem-aventurado é aquele que descobriu que a sua vida é uma subida e quanto menos peso tiver que levar, mais facilmente alcançará o cume da montanha, mesmo que seja muito alto. O apego as coisas materiais, a pessoas, e até a si mesmo, torna a subida mais demorada e cansativa; o cansaço inevitável abaterá o caminhante e este não terá forças para chegar a sua meta.

A segunda bem-aventurança: “Bem-aventurados os aflitos”, indica a consequência imediata de quem despojou-se de tudo: passa pela aflição da privação, confronta-se com a tentação de não poder continuar a subida porque lhe faltam segurança material e apoio humano, mas se perseverar, encontrará o consolo (no sentido bíblico: presença solidária), não se sente sozinho, abandonado, pois já sabe qual o destino da subida. A terceira bem-aventurança: “Bem-aventurados os mansos”, são aqueles que depois de terem passado pela aflição do despojamento, consolidam a sua decisão de subir a montanha e, por isso, alcançam a serenidade que os torna seguros no caminho.

A segunda etapa compreende as três bem-aventuranças seguintes que indicam a disposição de perseverança e fidelidade, que impedem de desistir da subida. “Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça (fazer a vontade de Deus)”, esta bem-aventurança evidencia a razão pela qual quem decidiu subir a montanha e, tendo superado as primeiras dificuldades, não desistirá da sua busca. O motivo que o leva a subir a montanha não está em si mesmo, mas no desejo irresistível de realizar a vontade daquele que o convidou a fazer a subida. E fazer a vontade de Deus é compartilhar daquilo que lhe é próprio, isto é, ser misericordioso. Ser bem-aventurado misericordioso é sinal de que já se alcançou uma altura considerável da montanha, pois a misericórdia é de Deus e torna-se misericordioso quem mais próximo dele estiver. Através da misericórdia, purificar-se-á o coração a ponto de poder ver a Deus sobretudo naqueles com os quais for misericordioso.

A terceira e última etapa da subida, paradoxalmente, indica a chegada não ao céu, mas à terra, pois é lá que “Bem-aventurados são os que promovem a paz”, o shalom de Deus é fruto da instauração do seu Reino, cuja chegada Jesus anunciou ao iniciar a sua missão (Mt 4,23). Uma paz que provoca conflitos e proclama “bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça”, pois é a paz construída a partir da verdade que liberta e da justiça que cria um mundo novo. Por fim, o cume da montanha se alcança com a fidelidade à missão: “Bem-aventurados sois vós quando vos injuriarem e perseguirem… por causa de mim”. No topo da montanha está o despojamento absoluto, a participação no destino do Mestre, a disposição de dar a vida por Ele e pelo seu Reino. 

Ser santo é aceitar o convite de subir esta montanha para ficar mais próximo de Deus empenhando-se ainda mais na construção do seu reino aqui na terra, pois só assim poderemos ter a certeza de ouvir: “Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos céus”.

Fonte: https://www.dehonianosbre.org.br/homilias/solenidade-de-todos-os-santos-e-santas-de-deus–mt-5-1-12a–as-bem-aventurancas–uma-subida-possivel

Comemoração de Todos os Fiéis Defuntos – 1Cor 15,55: Onde está, ó morte, a tua vitória?

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Por Dom André Vital Félix da Silva, SCJ.

Neste dia em que celebramos a comemoração de todos os fiéis defuntos, a liturgia não nos favorece uma oportunidade simplesmente de recordarmos o fato chocante e incompreensível da morte dos nossos entes queridos, mas nos faz mergulhar no mistério, iluminado pela Morte e Ressurreição Daquele que é a nossa vida e a nossa esperança de eternidade feliz, e por isso reafirmarmos a nossa fé na vida que vence a morte.  

Impossível para o ser humano imaginar a sede sem a água, a fome sem o alimento, o calor sem o frio, o frio sem o aquecimento. A vida não existiria ou seria apenas um terrível momento de angústia, de busca sem sentido. Como seria torturante necessitar, buscar, sem encontrar, sem se satisfazer!

“Como a corça suspira por águas correntes, minha vida suspira por ti, ó meu Deus” (Sl 42,2).

A própria experiência da humanidade, ao longo de sua história, tem demonstrado que, além da sede e da fome e de tantas outras necessidades fundamentais, no coração humano está inscrito um irresistível desejo de vida plena. E se é verdade que só temos sede porque existe água, do mesmo modo, só desejamos que a vida não morra, porque existe a eternidade. A morte sem a fé na vida tornar-se-ia a grande ironia da existência humana. Assim como uma cova não pode reter a semente nela depositada, pois no momento certo, irromperá com força e vitalidade, tornando-se planta madura e frutífera, assim também um túmulo não é capaz de aprisionar alguém cuja vida foi marcada por tantas lutas, tantos esforços, tanta beleza e encanto. 

“Se o grão de trigo que cai na terra não morrer, permanecerá só, mas se morrer, produzirá muito fruto” (Jo 12,24).

Crer na ressurreição não é uma atitude alienante para suavizar a dor de ingênuos, mas a atitude mais coerente de quem crê na vida e, portanto, reconhece os seus anseios mais profundos e não os nega, e não admite o absurdo de que a morte seja a última palavra da sua existência; reconhece a sede, mas não se recusa a beber na fonte.

“Quem tiver sede, venha a mim e beba, aquele que crê em mim… do seu seio jorrarão rios de água viva” (Jo 7,37).

A fé na ressurreição é o caminho que conduz o sedento à fonte. A sede e a fome não podemos negar, mas comer e beber podemos optar. A fé não nos faz crer na morte, mas na vida que não morre. O Cristo, vencedor da morte, abriu-nos não apenas a mente para compreendermos esta verdade, mas tornou-se o Caminho de vida para quem Nele crer alcance a realização do mais profundo anelo do coração humano. E portanto, neste dia, mais do que nos perguntarmos sobre o fato da morte, devemos responder à pergunta fundamental: se cremos que a vida venceu!

Fonte: https://www.dehonianosbre.org.br/homilias/comemoracao-de-todos-os-fieis-defuntos–1cor-15-55–onde-esta-o-morte-a-tua-vitoria-