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SEGUNDO DOMINGO DA QUARESMA (ANO B) – P. Lucas, scj

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Caros irmãos, a liturgia do segundo domingo da Quaresma nos propõe o evangelho da transfiguração do Senhor. Assim, neste Ano B, meditamos essa narração de acordo com o evangelista S. Marcos (cf. Mc 9,2-10). Deixemo-nos tocar pela luz de Deus que ilumina nossas trevas e dá esperança à nossa vida.

A Transfiguração não pode ser separada de seu contexto: depois da profissão de fé de Pedro (cf. Mc 8,29), Jesus propõe Seu seguimento no caminho da cruz (cf. Mc 8,30-38); em seguida, toma três de Seus discípulos, os leva a uma montanha e, então, manifesta a Sua glória. De fato, nós precisamos da luz para caminhar nas trevas e, desse modo, nos momentos mais escuros da nossa existência neste mundo, precisamos de Jesus Cristo, a luz divina que a nós se manifesta, para não nos perdermos no caminho.

De fato, quando somos convidados por Deus para sacrificar a Ele o que temos de mais precioso na nossa vida (cf. Gn 22,2), precisamos reconhecer que, na verdade, foi Ele que, entregando-nos Seu Filho nos deu tudo com Ele (cf. Rm 8,32). Assim – e só assim – poderemos guardar a nossa fé quando o sofrimento é demais (cf. Sl 115,10). Para tanto, afastemos do nosso coração a tentação de construir tendas na glória (cf. Mc 9,5) e ouçamos o Filho amado (cf. Mc 9,7): “Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me. Pois aquele que quiser salvar a sua vida, irá perdê-la; mas, o que perder a sua vida por causa de mim e do Evangelho, irá salvá-la” (Mc 8,34-35).

Pai Santo, dá-nos o Espírito Santo para que brilhe em nós a Tua Luz, Jesus Cristo, nosso Senhor. Maria, Mãe de Misericórdia, sustentai-nos em nosso sim a Deus. S. José, nosso protetor, leva-nos à intimidade com Jesus.

Sub tuum præsidium confugimus.
sancta Dei Genitrix:
nostras deprecationes
ne despicias in necessitatibus:
sed a periculis cunctis libera nos semper,
Virgo gloriosa et benedicta.

II Domingo da Quaresma: Mc 9,2-10 – A tentação de transformar cruz em tendas

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Por Dom André Vital Félix da Silva, SCJ.

Os dois primeiros Domingos da Quaresma, independentemente do ano (A, B, C), tratam sempre dos mesmos temas (tentação, transfiguração), pois servem de porta de entrada para o percurso quaresmal cujo objetivo é a preparação da Páscoa anual. Contudo, para celebrar a morte e a ressurreição do Senhor, é preciso saber quem Ele é, pois a sua morte não é algo dissociado da sua vida, dos seus ensinamentos e prática; como também a sua ressurreição não é uma realidade isolada, mas é a atestação que o Pai faz para confirmar a fidelidade do Filho à missão que Lhe confiou. A tentação no deserto e a transfiguração sobre a alta montanha estão intimamente relacionadas, pois revelam quem é Jesus, qual a sua missão e as consequências de sua fidelidade ao projeto do Pai. Se no deserto, Jesus, o filho de Deus, derrota Satanás (adversário) que pretende afastá-lo do caminho da cruz, propondo-lhe um messianismo político, traindo assim o projeto do Pai, no alto do monte, Jesus vence outra tentação, agora sugerida por um de seus discípulos: “Mestre, é bom ficarmos aqui…” Abandonar a cruz, para refugiar-se na comodidade da tenda.

O nosso texto inicia com uma informação basilar para a compreensão do significado da Transfiguração: “Seis dias depois” (por questões de adaptação à leitura litúrgica, infelizmente essa expressão foi substituída por “Naquele tempo”). O leitor atento deve se perguntar, então, o que aconteceu seis dias antes e, portanto, retomar os episódios anteriores, dentre eles os mais importantes e imediatos são a confissão de Pedro (8,27-30), seguida pelo primeiro anúncio da paixão e as exigências para o seguimento (8,31-9,1). Se colocarmos esses episódios em paralelo com a narração da Transfiguração, compreenderemos que não se pode conhecer Jesus se não assumirmos o seu caminho até o fim, passando pela cruz, convictos da sua ressurreição. Ademais, o discípulo deve estar disposto corajosamente a perder tudo, e a vencer, ao longo da estrada, a tentação de querer desviar-se da cruz. Tanto o diabo quanto Pedro propõem a Jesus um messianismo de glórias humanas, sem sofrimento, sem cruz.

Quando Jesus pergunta aos seus discípulos quem Ele é no dizer do povo, eles respondem que é um dos profetas, citando inclusive um profeta recente (João Batista) e um antigo (Elias). Na transfiguração se prova que Jesus não é um dos profetas, nem mesmo um dos mais importantes (Elias), pois este aparece agora como um personagem distinto de Jesus. 

Diante da ignorância do povo em relação à sua identidade, Jesus pergunta o que os seus próprios discípulos dizem dele. Pedro responde: “Tu és o Messias”. Porém, em seguida, começa a impor a Jesus como deve ser a sua missão: “Pedro, chamando-o de lado, começou a adverti-lo”. Assim, na Transfiguração, quando Pedro testemunhou a manifestação dos sinais que comprovavam que Jesus era, de fato, o Messias que ele reconheceu: “Suas vestes tornaram-se resplandecentes, extremamente brancas…”, também quis impor a Jesus o modo de ser Messias: “Mestre, é bom estarmos aqui. Façamos três tendas: uma para ti, outra para Moisés e outra para Elias”. A tentação de não seguir o caminho da cruz, de instalar-se, de buscar proteção e segurança. Se diante do primeiro anúncio da paixão, Pedro tenta tirar Jesus do seu caminho, aqui a investida é mais forte, isto é, impedir que Jesus desça da montanha da transfiguração e prossiga o seu caminho rumo à montanha da cruz. 

Nesse momento é o Pai que, através da sua Palavra, desperta Pedro e os outros dois da sua alienação: “Ouvi-o”. Portanto, sem ouvir o que diz o Filho, não se saberá quem Ele é, pois Ele mesmo já dissera: “Era necessário que o Filho do Homem sofresse muito, e fosse rejeitado pelos anciãos, sumos sacerdotes e escribas, e fosse morto e, depois de três dias, ressuscitasse” (8,31). Elias e Moisés que representam todo o Antigo Testamento (Lei e Profetas), agora na Transfiguração conversando com Jesus, denunciam a infidelidade dos sumos sacerdotes e escribas (conhecedores das Escrituras) que rejeitaram o ensinamento de Jesus, isto é, não foram capazes de dialogar com a Palavra, mas a aprisionaram nas suas tendas, impendido que o povo tivesse acesso a Ela para conhecer o caminho da vida, conhecer a vontade de Deus e fazer o verdadeiro caminho do Êxodo, da libertação rumo à plenitude da vida.

Marcos não apresenta apenas o fulgor resplandecente da Transfiguração (vestes brilhantes) como anúncio da ressurreição de Jesus, mas só ele diz a superioridade do modo como essas vestes ficaram brancas (sinal de vitória), isto é, “nenhuma lavadeira sobre a terra poderia alvejar”. No grego lavadeira (gnapheus) vem do verbo pisotear, era a técnica para alvejar os tecidos, como antigamente faziam as lavadeiras batendo as roupas nas pedras para tirar a sujeira. Com essa imagem Marcos evidencia que o brilho da vitória do ressuscitado (brancas vestes) é fruto do sofrimento, rejeição e morte violenta do Messias servo sofredor, pisoteado, macerado pelo sofrimento (Is 52,13– 53,12). Portanto, a Transfiguração não é um parêntesis de glória no caminho de Jesus, mas condensa toda a sua vida cujo ápice se dá na sua paixão, morte e ressurreição. 

Fazer memória da paixão e morte de Jesus, de modo particular nesse tempo quaresmal, não é masoquismo espiritual, mas é atitude coerente de quem é chamado a proclamar a sua ressurreição com convicção, pois sabe quão alto preço foi pago por tão grande amor. Quem deseja participar da vitória do Ressuscitado não pode cair na tentação de tomar outro caminho se não for o da cruz, escondendo-se sob tendas. Para salvar, três tendas não foram suficientes, bastou uma cruz.

Fonte: https://www.dehonianosbre.org.br/homilias/ii-domingo-da-quaresma–mc-9-2-10–a-tentacao-de-transformar-cruz-em-tendas

PRIMEIRO DOMINGO DA QUARESMA (ANO B) – P. Lucas, scj

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Caros irmãos, no primeiro domingo da Quaresma, a Igreja sempre nos propõe o evangelho das tentações de Jesus no deserto. Neste Ano B, rezamos com essa narração de acordo com o texto de S. Marcos (cf. Mc 1,12-15). Abramo-nos à conversão para que o Espírito Santo nos una mais perfeitamente ao Senhor Jesus Cristo.

A partir da brevíssima narração das tentações segundo Marcos (cf. Mc 1,12-13), podemos nos lembrar como é grande o amor de Deus por nós: Ele nos deu Seu Filho que, assumindo nossa condição, submeteu-se à tentação e a venceu. Nele, pelo poder do Espírito Santo, também nós seremos elevados acima de nossas forças e, assim, poderemos vencer o mal que nos ataca sempre.

O texto que escutamos, porém, vai além e nos mostra, mais uma vez, o início da pregação de Jesus que a sintetiza de maneira esplêndida: “O tempo já se completou e o Reino de Deus está próximo. Convertei-vos e crede no Evangelho!” (Mc 1,15). Além do que já refletimos, este resumo da mensagem do Senhor nos ajuda a pôr as balizas necessárias para a nossa Quaresma. Pois este tempo de salvação não deve ser uma simples pausa numa vida desordenada para retomá-la assim que vierem as festas pascais: isso não é conversão. Trata-se, de fato, de uma mudança de mentalidade, de mundanos a discípulos de Cristo, que nos abre para acolher o dom da vida nova que Ele nos trouxe: com Jesus, de fato, o Reino chegou. Que esta Quaresma, portanto, nos leve a celebrar a nossa Páscoa com Cristo, pois nele vivemos uma vida nova.

Pai Santo, dá-nos um coração novo pelo poder do divino Espírito Santo; uni-nos sempre mais intimamente ao Teu Filho, Jesus Cristo. Maria, Mãe das Dores, ensina-nos o caminho da conversão. S. José, dá-nos coragem para seguir Jesus.

Sub tuum præsidium confugimus.
sancta Dei Genitrix:
nostras deprecationes
ne despicias in necessitatibus:
sed a periculis cunctis libera nos semper,
Virgo gloriosa et benedicta.

I Domingo da Quaresma: Mc 1,12-15 – Entre o paraíso e o deserto

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Por Dom André Vital Félix da Silva, SCJ.

A narração das tentações de Jesus segundo Marcos se diferencia indiscutivelmente daquelas de Mateus e Lucas, que por sua vez, nos dão detalhes do conteúdo das investidas do diabo, que pretendia desviar Jesus da sua missão, propondo-lhe um caminho sem cruz, com muitas facilidades, mas incorrendo numa absoluta desobediência ao Pai, a ponto de trair o seu projeto de salvação. Apesar de sua brevidade, Marcos nos transmite os elementos essenciais desse episódio do início da vida pública de Jesus. Não podemos esquecer que a narração das tentações está intimamente relacionada com o acontecimento anterior, isto é, o batismo de Jesus. Marcos estabelece uma conexão entre os dois fatos quando diz: “E imediatamente o Espírito o levou para o deserto” (Mc 1,12). Vale salientar que em ambos acontecimentos o Espírito aparece como um dos protagonistas principais. É ele que desceu do céu no momento em que Jesus fora batizado e é Ele mesmo que leva o Senhor para o deserto. Ademais, este Espírito é o mesmo que pairava sobre as águas no princípio de tudo, na primeira criação (cf. Gn 1,1s). 

Portanto, estamos diante de uma chave de leitura fundamental para compreender não apenas as tentações, mas como Jesus as vence. Se a primeira criação, a obra do poder da Palavra de Deus e do sopro do seu Espírito, foi submetida à vaidade por causa da desobediência do ser humano (cf. Rm 8,20), que preferiu ceder às tentações do mal, agora a nova criação inaugurada pelo Filho de Deus, o Primogênito dos mortos, se estabelece a partir do combate e derrota do mal nas suas várias expressões, sobretudo as escravidões nos diversos desertos da vida (situações de pecado).  

Marcos utiliza um verbo muito forte para indicar a ação do Espírito sobre Jesus, traduzi-lo simplesmente por “conduzir” ou “levar”, enfraquece o seu impacto. Esse verbo pode ser traduzido também por “expulsar”, “levar para fora” (grego: ekballo, literalmente: ek, para fora, ballo, lançar. Marcos utiliza este verbo dezessete vezes das quais 11x para indicar a expulsão do demônio). A Bíblia grega (LXX) utiliza-o quando narra a expulsão de Adão e Eva do paraíso: “E Deus o expulsou do paraíso” (Gn 3,24).

A Sagrada Escritura apresenta muitas vezes a oposição que existe entre paraíso e deserto. Se o paraíso é o lugar da convivência com Deus, da paz estabelecida, da plenitude da vida, da abundância dos bens, o deserto, por sua vez, representa o lugar da purificação, da provação, das privações de água e de alimento, do combate contra as feras e os inimigos. Contudo, vencendo as tentações do deserto, o povo pode prosseguir o seu caminho rumo à terra prometida, ao paraíso.

Assim como Adão e Eva, desobedientes, comeram do fruto proibido, isto é, rejeitaram o projeto de Deus e foram expulsos do Paraíso para o deserto, o novo Adão é também “expulso” para o deserto pois é enviado por Deus para salvar o velho Adão. Por isso, vai ao encontro dele, devendo ir aonde o homem pecador se encontra, isto é, no deserto. 

Quando o Espírito expulsa Jesus para o deserto, não o faz porque Ele é desobediente, mas pelo contrário, porque é o Filho Amado, em quem o Pai se compraz (Mc 1,11). Por conseguinte, se ama é obediente. Porém, essa obediência será vivida na busca da criatura por excelência que perdera o paraíso, mas que não deixou de ser amada por Deus, que lhe prometeu a possibilidade de retorno (Gn 3,15). Se o velho Adão pecou porque recusou alimentar-se da Palavra de Deus, e apoderou-se do fruto proibido, o novo Adão jejuará por quarenta dias no deserto em solidariedade com o homem pecador e desencaminhado para trazê-lo de volta para o caminho do Paraíso, ensinando-lhe a alimentar-se com o verdadeiro pão, o alimento que não perece, a sua palavra. 

A encarnação do Filho de Deus que culminará na sua paixão, morte e ressurreição foi um grande êxodo que o “expulsou” do paraíso (seio do Pai), atravessando a criação transformada em terra árida por causa do pecado do ser humano, mas que alcançou o seu ponto alto na reconciliação que realizou com a sua morte e ressurreição, a fim de abrir de novo as portas do paraíso. Marcos para dizer que Jesus é o novo Adão que estabelece a paz paradisíaca, afirma “vivia entre os animais selvagens, e os anjos os serviam”.  

A tentação que o ser humano ainda deve vencer hoje, apesar de não poder negar o seu desejo de paraíso, isto é, felicidade plena, é optar pela permanência no deserto, pois todas as vezes que cede às tentações, recusa-se à mudança de vida, à conversão. O tempo completou-se dizia Jesus, é o tempo de empreender o caminho de saída do deserto. O reino de Deus está próximo; se o homem por si só não consegue aproximar-se de Deus, Ele mesmo toma a iniciativa e inaugura o seu paraíso já aqui no nosso deserto. Mas é preciso converter-se, isto é, mudar de direção, voltar-se para Ele para reconhecer que isto está acontecendo, e crer no evangelho, nessa boa notícia de que não fomos criados nem no deserto nem para o deserto, mas no paraíso e para ele. A Quaresma é tempo favorável para atravessar o deserto, mas também oportunidade de encontrar-se com Aquele que indica o caminho seguro para o paraíso, ajudando-nos a vencer as tentações de permanecer no deserto.

Fonte: https://www.dehonianosbre.org.br/homilias/i-domingo-da-quaresma–mc-1-12-15–entre-o-paraiso-e-o-deserto

Quarta-feira de Cinzas: Mt 6,1-6.16-18 – Quaresma x vitrine da religião hipócrita

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Por Dom André Vital Félix da Silva, SCJ.

A celebração da Quarta-feira de Cinzas nos faz um veemente convite para vivermos a Quaresma como tempo sumamente pedagógico, tempo favorável que nos ajuda a intensificar, de modo muito prático, o aprendizado de um estilo de vida, imprescindível para o nosso crescimento humano e espiritual. É a própria palavra de Jesus que nos introduz nesse tempo de graça: “Ficai atentos para não praticar a vossa justiça na frente dos homens só para serdes vistos por eles”. A prática da justiça do Reino anunciado por Jesus nas suas palavras e instaurado no mundo pelas suas ações não é um mero conjunto de atos isolados de piedade, mas atitudes que testemunham um processo permanente de conversão, que exige um retorno autêntico ao relacionamento equilibrado com o semelhante (esmola), com Deus (oração), consigo mesmo (jejum).  Não é representação teatral (hipocrisia) para ser vista, reconhecida e paga pelos homens: “Já receberam o seu salário” (grego: misthos, recompensa, pagamento), mas ação da graça do Pai que está no céu e que vê tudo, concedendo a verdadeira recompensa a quem não se esconde por trás de máscaras, mas rompe com o pecado e, portanto: “Deste modo vos tornareis filhos do vosso Pai que está nos céus” (Mt 5,45).

Recordando as três grandes práticas da religião de Israel: esmola, oração e jejum, Jesus recupera o seu significado mais genuíno e os seus efeitos mais necessários. Apesar de estarem dispostas numa ordem linear, a esmola, a oração e o jejum não podem ser considerados separadamente, nem muito menos numa ordem de preferência. Pois a caridade (grego: eleemosyne, da mesma raiz de ser misericordoso) só será autêntica se for motivada por um verdadeiro e comprometedor sentimento de solidariedade para com o próximo, e só terá raízes se brotar do interior de quem está aberto ao Transcendente. Pois, sem o cultivo da vida interior (oração), a esmola não passará de assistencialismo escravizador ou mesmo ocasião de humilhação do semelhante necessitado. Por conseguinte, a “caridade” motivada por aplausos é uma armadilha para nos colocarmos no centro, e banir Deus do horizonte da vida. Pois podemos ser “bonzinhos” sem Ele, basta fazer o “bem”. Contudo, a oração nos ajuda a equilibrar os nossos sentimentos e motivações na prática do bem e a corrigir a nossa presunção e autossuficiência, reconhecendo que a fonte da nossa bondade está Nele, pois “só Ele é bom” (Mt 19,17).

Além do mais, a oração nos conduz à descoberta de uma fome ainda maior, cujo jejum pode ser uma valiosa experiência no nível concreto e de ordem didática. A fome do pão material vivenciada em atitude orante nos ajuda a fazer a experiência da fome de Deus. Pedagogicamente, o jejum nos favorece o exercício da convicção de que se somos “capazes” de nos privar de algo bom e necessário para a vida (o alimento material), não teremos desculpas para não sermos capazes de uma privação mais importante para o nosso crescimento humano e espiritual, isto é, o humilde esforço de nos privarmos de pensamentos, palavras e gestos que reforçam o nosso egoísmo, ambição, maledicência. Por outro lado, o autêntico jejum não resulta apenas numa privação de alimentos num determinado período, mas nos favorece condições de partilha, de solidariedade e de prática da justiça do Reino. O que não como hoje por opção de fé, não deve permanecer na despensa para ser comido amanhã, mas deve tornar-se sacrifício agradável a Deus, isto é, compartilhado com quem é obrigado a fazer jejum por condição. 

A esmola, a oração e o jejum, motivados pela fé e não simplesmente pela aparência da vaidade religiosa ou pelo prazer da recompensa imediatista, nos ajudam a recuperar o dinamismo original da vida. Não são práticas isoladas aprisionadas pelo rigorismo da lei, mas atitudes que nos humanizam.

A esmola nos ajuda a estabelecer relacionamentos autênticos com o semelhante com quem devo repartir o que foi colocado à disposição de todos. Não é dar do que me sobra, mas reconhecer efetivamente que acima do meu está o nosso. Portanto, as mãos que repartem verdadeiramente não podem estar ocupadas com uma trombeta a chamar atenção para si. A esquerda não sabe o que faz a direita, porque ambas estão empenhadas em repartir e não em competir. 

A oração nos coloca diante de Deus para adorá-lo e não diante dos outros para sermos vistos. A autêntica atitude orante nos coloca de joelhos, faz-nos humildes diante do Pai e não nos permite colocar-nos de pé diante dos homens para que nos vejam e nos louvem. Esquinas e praças e até sinagogas podem nos motivar a falar, mas não necessariamente a falar com Deus.  

O jejum nos favorece a experiência do desapego de si mesmo, desperta em nós a capacidade de tomar decisões e fazer escolhas e não apenas nos deixarmos conduzir por impulsos instintivos; é o exercício mais eficaz para darmos passos qualitativos no nosso processo de ser gente e não apenas de sermos animais. Portanto, não nos desfigura nem muito menos nos torna tristes, mas pelo contrário, nos configura Àquele que “sendo Deus se esvaziou e tornou-se servo, assumindo a nossa condição” (Fl 2,7). E como diz ainda São Paulo: “Em verdade, somos por Deus o bom odor de Cristo… Não somos como aqueles que falsificam a palavra de Deus…” (2Cor 2,15.17). 

A Quaresma não é um parêntese para fazermos um esforço temporário de ser bonzinhos ou piedosos de vitrine, mas um caminho de aprendizado para nos tornarmos cada vez mais filhos de Deus, superando a hipocrisia da religião de aparência, e assumindo um processo de conversão de nossas atitudes e relacionamentos para com os nossos semelhantes, para com Deus e para consigo mesmo.

Fonte: https://www.dehonianosbre.org.br/homilias/quarta-feira-de-cinzas–mt-6-1-6-16-18–quaresma-x-vitrine-da-religiao-hipocrita

SEXTO DOMINGO DO TEMPO COMUM (ANO B) – P. Lucas, scj

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Caros irmãos, na liturgia deste sexto domingo do Tempo Comum, Ano B, rezamos com a narração da cura do leproso por Jesus (cf. Mc 1,40-45). Abramos nosso coração ao Espírito Santo para que sejamos transformados pela Sua presença.

Ao se aproximar do Senhor, o leproso reza: “Se queres tens o poder de curar-me” (Mc 1,40). A admirável frase condicional “se queres”, mostra a profundidade da fé daquele homem. De fato, ele tem consciência de sua condição, pois está gravemente doente; sabe que não tem condições para superá-la sozinho; quer e busca ajuda; sabe que Jesus pode ajudá-lo; mas quer, antes de tudo a vontade do Senhor: “Se queres tens o poder de curar-me”.

Mas é ainda mais admirável a compaixão do Senhor: “Jesus, cheio de compaixão, estendeu a mão, tocou nele, e disse: ‘Eu quero: fica curado!’” (Mc 1,41). A Misericórdia toca o miserável. Jesus ultrapassa as leis rituais previstas no Levítico (cf. Lv 13,1-2.44-46) para ir ao encontro daquele homem necessitado e o cura. Caros irmãos, o pecado é como a lepra, mas não corrói o corpo, destrói a alma. Contra esta enfermidade, pouco podemos fazer sozinhos… Porém, a Misericórdia é capaz de nos restaurar e nos elevar. Para abrir-nos à Sua ação, precisamos, antes de mais nada, preferir a Sua vontade. Abramos o coração e deixemos Deus ser Deus na nossa vida.

Pai Santo, envia-nos o Espírito Santo para que sejamos transformados pela Graça de Teu Filho, Jesus Cristo. Maria, Mãe da Misericórdia, dá-nos um coração disponível a Deus. S. José, nosso protetor, dá-nos a intimidade com Jesus.

Sub tuum præsidium confugimus.
sancta Dei Genitrix:
nostras deprecationes
ne despicias in necessitatibus:
sed a periculis cunctis libera nos semper,
Virgo gloriosa et benedicta.

VI Domingo Tempo Comum: Mc 1,40-45 – Ele assumiu nossas dores!

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Por Dom André Vital Félix da Silva, SCJ.

A narração evangélica desse Domingo encerra a série dos 7 episódios (vocação dos primeiros discípulos: 1,16-20; exorcismo na sinagoga em Cafarnaum: 1,21-28; cura da sogra de Pedro: 1,29-31; vários exorcismos e curas: 1,32-34; oração e missão: 1,35-39; cura do leproso: 1,40-45) que Marcos compilou no início do seu evangelho a fim de exemplificar de forma concreta como a proclamação do Evangelho de Deus estava se realizando. Todos esses episódios na sua totalidade indicam que o conteúdo do evangelho proclamado por Jesus não se reduz a afirmações teóricas, mas provam que, de fato, o tempo (kairós) se cumpriu, isto é, Jesus inaugura a plenitude dos tempos, cuja finalidade é a chegada do Reino de Deus já próximo, mas que exige conversão de mente e atitudes para quem desejar entrar nele e, portanto, a necessidade de aderir pela fé ao evangelho (cf. 1,14-15).

No primeiro capítulo de Marcos, a cura do leproso é colocada como o ponto mais alto da atividade missionária de Jesus, a boa notícia (evangelho) se traduz nas suas palavras e gestos: “Movido de compaixão, estendeu a mão, tocou-o e disse-lhe: Eu quero, sê purificado!” A cura de um leproso torna-se ocasião para o evangelista falar da missão de Jesus que não apenas livra um doente de sua enfermidade, mas assume a própria condição do doente: “Por isso, Jesus não podia entrar mais publicamente numa cidade: ficava fora, em lugares desertos”, realizando assim a profecia aplicada ao servo sofredor: “E no entanto, eram as nossas enfermidades que ele levava sobre si, as nossas dores que ele carregava” (Is 53,4). Tocar num leproso, considerado impuro, era tornar-se impuro também. A lei era muito dura em relação aos leprosos: “Uma pessoa que sofrer de uma doença contagiosa da pele deverá vestir roupas rasgadas, deixar os cabelos sem pentear, cobrir o rosto da boca para baixo e gritar: “Impuro, impuro! Enquanto sofrer de uma doença contagiosa, a pessoa continuará impura e precisará morar sozinha, fora do acampamento” (Lv 13,45-46).

As atitudes do leproso são exemplares, isto é, apontam para aquilo que deve ser as reações de quem se aproxima de Jesus e acolhe a sua boa notícia de salvação. Antes de tudo, a corajosa confiança do doente: “aproximou-se de Jesus, e de joelhos pediu”. Sem dúvida, alguma notícia sobre Jesus já havia chegado anteriormente aos ouvidos do leproso (“imediatamente a sua fama se espalhou em todo o lugar, em toda a redondeza da Galileia” Mc 1,28). Esse anúncio deve ter sido acompanhado de um testemunho de quem já havia feito a experiência do encontro com o Senhor, provocando assim a esperança no coração do doente de que ele também poderia ser curado. Na súplica do leproso: “Se queres tens o poder de curar-me!” vemos a expressão máxima de quem confia plenamente, mas não impõe nada. A sua súplica não diz a Jesus o que ele tem que fazer, mas o que Ele pode fazer com toda a liberdade. Aqui o necessitado reconhece que Jesus é Deus, pois é só em Deus que vontade e a liberdade estão em sintonia perfeita. Ademais, o leproso não obedece a Lei segundo a qual ele deveria gritar: “Impuro, impuro…” a fim de manter longe de si quem o encontrasse no caminho. Mas ele substitui o seu grito humilhante e desesperado por uma súplica confiante e cheia de esperança. Até então, ele só podia falar aquilo que reafirmava diante dos outros a sua condição de doença que o excluía da convivência e da vida nos seus vários ambientes e aspectos. Agora aos pés de Jesus, ele pode renovar a sua esperança de uma vida nova, mas de acordo com a vontade de Deus. Nele se realiza o que se reza na oração por excelência: “Seja feita a vossa vontade” (Mt 6,10).

Por outro lado, as atitudes e palavras de Jesus revelam que a sua missão expressa a sua vontade: “Eu quero: fica curado!” O mais importante agora não é divulgar o fato da cura, mas as consequências dela: voltar à convivência na família, no povoado, na vida social e religiosa. Porém, para isso é preciso um reconhecimento oficial: “Vai, mostra-te ao sacerdote…” Jesus não quer apenas o homem livre de uma enfermidade do corpo, mas quer restabelecer todos os relacionamentos vitais da sua existência, sobretudo sociais e religiosos; o leproso sendo um impuro e, portanto, excluído de qualquer tipo de relacionamento, não podia frequentar nenhum lugar, sobretudo os de culto.

Contudo, o homem curado não obedece a ordem de Jesus: “Ele foi e começou a contar e a divulgar muito o fato”. Para além de questões didáticas que justificam a proibição momentânea, a atitude do curado não contradiz o ensinamento de Jesus, pois mais adiante o próprio Senhor declarará: “Nada que há de oculto que não venha a ser manifesto, e nada em segredo que não venha à luz do dia” (Mc 4,22). Ninguém pode resistir à força da Boa Notícia de salvação. Esta é a vontade de Deus, que seja também a nossa. Pois ele assumiu nossas dores, para que nas Dele sejamos curados.

Fonte: https://www.dehonianosbre.org.br/homilias/vi-domingo-tempo-comum–mc-1-40-45–ele-assumiu-nossas-dores-

QUINTO DOMINGO DO TEMPO COMUM (ANO B) – P. Lucas, scj

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Caros irmãos, a liturgia deste quinto domingo do Tempo Comum, Ano B, nos leva a rezar com mais alguns acontecimentos do início da pregação de Jesus (cf. Mc 1,29-39). Deixemo-nos guiar pelo Espírito Santo para que nosso coração seja transformado pela Palavra do Senhor.

Entre tantos afazeres (cf. Mc 1,32-34) e a urgência da missão (cf. Mc 1,38-39), Jesus se recolhe em oração (cf. Mc 1,35). Assim, Ele nos mostra a centralidade que Deus tem em nossas vidas. De fato, muitas vezes nos encontramos enfermos e precisamos que o Senhor nos tome pela mão, nos cure e nos capacite para o serviço, como aconteceu à sogra de Pedro (cf. Mc 1,30-31). Nesses momentos, a necessidade de rezar não precisa ser demonstrada.

Porém, há circunstâncias, especialmente nos nossos dias, em que não mais nos damos conta de que nossa vida é uma luta (cf. Jó 7,1) e que não é mais resistente que um sopro (cf. Jó 7,7). Nesses momentos, é importante recorrer ao Senhor para não se deixar levar pelas ilusões e estabelecer-nos na realidade: dependemos inteiramente de Deus e a Ele devemos servir dando-lhe nosso coração. Isso, contudo, não é um peso, pois nele encontramos o Amor que dá sentido às nossas vidas e, por isso, não existe nada melhor do que estar com Ele e pregar, com palavras e obras, o Seu Evangelho. Assim, esperamos que também aqueles que amamos tenham a oportunidade de encontrar-se com o único Deus vivo e verdadeiro que é insondável mistério de Amor.

Pai Santo, dá-nos o Espírito Santo para que estejamos sempre atentos à presença e à Palavra de Teu Filho, Jesus Cristo. Maria, Mãe de Deus e nossa, dá-nos um coração dócil a Deus. S. José, nosso protetor, leve-nos à intimidade com Jesus.

Sub tuum præsidium confugimus.
sancta Dei Genitrix:
nostras deprecationes
ne despicias in necessitatibus:
sed a periculis cunctis libera nos semper,
Virgo gloriosa et benedicta.

V Domingo Tempo Comum: Mc 1,29-39 – Evangelizar, mais que palavras!

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Por Dom André Vital Félix da Silva, SCJ.

A perícope evangélica deste V Domingo apresenta três elementos fundamentais da ação evangelizadora de Jesus. 

1. A passagem da sinagoga para a casa: “Jesus saiu imediatamente da sinagoga e foi, com Tiago e João, para a casa de Simão e André”. Esta informação não pode ser vista apenas como uma conexão literária feita pelo evangelista para costurar os vários textos. Mas indica algo imprescindível no anúncio da Boa Notícia; sem dúvida, uma das grandes dificuldades encontradas hoje na nossa missão é fazer com que o evangelho proclamado nos púlpitos alcance os ambientes onde as pessoas vivem e convivem, sobretudo as famílias. Na sinagoga, Jesus é reconhecido como um Mestre que tem autoridade (IV Domingo), mas é nos vários ambientes onde se fez presente que a sua autoridade foi exercida como verdadeiro serviço à vida, e não somente como proclamação de uma palavra verdadeira. Passando da sinagoga, o lugar da reunião em torno da Palavra, para a casa, o lugar do encontro com as pessoas na sua realidade mais concreta, Jesus testemunha a força do Evangelho de Deus: “Jesus curou muitas pessoas de diversas doenças e expulsou muitos demônios”.  

A sogra de Simão não é apenas uma das tantas pessoas miraculadas, mas ela é apresentada como um ícone de quem verdadeiramente foi curado por Jesus, isto é, a quem o evangelho alcançou profundamente; o sinal mais convincente é a decisão de colocar-se a serviço. Nela se realizam os quatro momentos do processo de evangelização proclamados por Jesus no início da sua vida pública (III Domingo): “O tempo cumpriu-se, reino de Deus está próximo, convertei-vos e crede no evangelho”.   Ao sair “imediatamente” (grego: eutheus) da sinagoga, Jesus indica que não há mais o que esperar, a sua missão vai para além de determinados ambientes restritos, pois exige horizontes mais vastos, águas mais profundas. Esse mesmo advérbio (grego: eutheus) é utilizado quando se diz que a sogra de Simão, tenho sido curada, “imediatamente começou a servi-los”. Portanto, qualifica tanto o tempo (kairós: momento oportuno) quanto a ação de Jesus e da mulher curada. Ambos não se perdem em delongas ou esperas estéreis.

Entrando em casa, “Jesus aproxima-se da mulher”, portanto, a grande proclamação de que, de fato, o Reino de Deus está próximo. Jesus não diz que o Reino se aproxima, mas Ele mesmo é a presença do Reino do seu Pai no mundo. Marcos sublinha que Jesus “Ajudou-a a levantar-se”. O verbo grego (egeiro: levantar) é o mesmo utilizado para indicar a ressurreição, como um despertar, acordar, uma mudança radical de vida. Portanto, um processo de conversão. Jesus tomando-a pela mão, transmite-lhe a força do seu amor, a condição necessária para provocar no outro o desejo e a decisão de conversão. Assim, como a última afirmação “crede no evangelho” coroava a síntese da pregação inicial de Jesus, a mulher curada testemunha da maneira mais eloquente e persuasiva que verdadeiramente aderiu (acreditar) ao evangelho do Mestre que tem autoridade, “que não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida”, por isso, “imediatamente ela começou a servi-los”.  O serviço nas comunidades primitivas não era apenas uma atividade realizada com finalidades funcionais, uma ajuda diante de uma determinada necessidade. Mas o serviço (diaconia) é, antes de tudo, obediência à Palavra, ao próprio Jesus que nos diz o que devemos fazer. Portanto, só é possível tornar-se um servidor do Reino se seguirmos os seus passos, aprendendo Dele o autêntico serviço de caridade na verdade que liberta.

2. O segundo elemento imprescindível que Jesus nos indica como raiz da ação evangelizadora é a disponibilidade para estar na intimidade com o Pai: “De madrugada… Jesus se levantou e foi rezar num lugar deserto”. Hoje fala-se muito da necessidade de oração. E até se investe muito em dinâmicas criativas para “animar” momentos de oração. Porém, para além de qualquer técnica ou dinâmica, oração é decisão, por isso, não depende de moções sentimentais prazerosas nem de motivações externas infantis. Muito significativo o fato de Marcos dizer que “tendo se levantado ainda de madrugada”, mais uma forma verbal aplicada à ressurreição (anastasis). Quando as “mulheres vão ao túmulo ao nascer do sol”, recebem a boa notícia: “Ressuscitou, não está aqui” (Mc 16,2.6). Portanto, a madrugada é o grande momento da ressurreição, da evangelização. Jesus prefere as madrugadas para estar na intimidade com o Pai, que o ressuscitará. A oração para Jesus é momento kairótico de ouvir o evangelho do Pai dirigido a Ele. E, portanto, renova a sua obediência que o levará à cruz, mas tem a certeza da ressurreição. Ele tem força de “levantar-se de madrugada” porque se alimenta nas madrugadas da certeza de que na madrugada final o Pai estará desperto para despertá-lo também. 

3. A consciência da missão que desinstala: “Vamos a outros lugares, às aldeias da redondeza! Devo pregar também ali, pois para isso que eu vim”. Diante da narração dos acontecimentos que indicam um sucesso incontestável, o próprio entusiasmo dos apóstolos, que testemunham as obras prodigiosas do Mestre e o acorrer de tantas multidões, desponta a consciência lúcida de Jesus em relação à sua missão de evangelizar. Não é o “sucesso” que define a sua ação evangelizadora, mas a consciência que Ele tem dela, que vem só do Pai. Por isso, a oração não é uma possibilidade para Jesus de estar com o Pai, mas é a necessidade para conhecer sempre mais a sua vontade.  

Enraizados na oração que nos faz crescer na consciência da nossa missão como serviço à vida, aprendamos do Mestre a evangelizar, superando a tendência de tornar o seu evangelho uma palavra nossa que garanta o nosso público. Com a coragem de seguir os seus passos até a cruz, convictos de que na madrugada da nossa vida, Ele não dorme e nos despertará, anunciemos a verdade dessa Boa Notícia.

Fonte: https://www.dehonianosbre.org.br/homilias/v-domingo-tempo-comum–mc-1-29-39–evangelizar-mais-que-palavras-